Uma associação de apoio a pessoas com distúrbios alimentares alertou esta semana para a cada vez maior incidência de casos de amenorreia hipotalâmica, condição caracterizada pela ausência de ciclos menstruais durante mais de 6 meses, provocada por exercício físico excessivo e dietas restritivas.
Um número crescente de mulheres está a ser afetado por este distúrbio, em que o corpo entra em “modo de sobrevivência”, por não receber a nutrição adequada e/ou estar submetido a demasiado exercício físico, causando a cessação do período menstrual.
Contudo, esta perturbação hormonal, em que há uma interrupção do ciclo de produção de estrogénio, é reversível. Ao jornal britânico The Guardian, Martha Williams, coordenadora de aconselhamento clínico da Beat – a principal instituição de caridade para apoio a pessoas que sofrem de distúrbios alimentares no Reino Unido – explica que há muitos preconceitos e equívocos em torno do tema.
Para começar, a amenorreia hipotalâmica não afeta apenas mulheres com peso abaixo da média ou com um baixo índice de massa corporal. “Não existem estatísticas exatas sobre esta questão, mas a maioria das pessoas que vemos perderam os seus períodos e algumas destas mulheres não estão seriamente abaixo do peso. Algumas têm um peso saudável mas têm uma alimentação restritiva”, diz.
De acordo com Williams, outro problema está, por vezes, no diagnóstico que é feito. Quando muitas destas mulheres consultam médicos de família, o problema é “resolvido” com a prescrição da pílula contracetiva, que espoleta a hemorragia de privação.
Renee McGregor, uma dietista especializada em distúrbios alimentares, concorda com o facto de a condição ser muitas vezes diagnosticada de forma errada. Por vezes, outra explicação dada a mulheres que sofrem do problema é a de que o seu corpo está a sofrer efeitos de adaptação depois de terem deixado a pílula contracetiva. “É um grande problema, maior do que as pessoas pensam, particularmente porque durante tanto tempo foi – não que deva ser – aceite que quando as mulheres fazem muito exercício, perdem o seu período”, reconhece.
No último ano, McGregor afirma ter contactado durante muito tempo com clientes e 95% destes tinham tido amenorreia hipotalâmica, uma condição que os profissionais acreditam estar a ser impulsionada pelas redes sociais.
A partilha de fotografias de corpos perfeitamente em forma – embora por vezes manipuladas através de aplicações de edição – é um dos fatores que pode criar insegurança e expectativas irrealistas sobre o que deve ser o corpo de uma mulher. E as constantes partilhas na comunidade fitness sobre alimentação saudável, contagem de calorias e exercício podem por vezes criar um ambiente tóxico para aqueles que sofrem ou são propensos a distúrbios alimentares.
McGregor realça ainda que a perda da menstruação pode ter impactos tanto a nível físico como mental. Um estudo de 2008 indica que a amenorreia hipotalâmica “prejudica o alcance de níveis ótimos de massa óssea e como tal pode aumentar o risco de fraturas mais tarde na vida”, e que “as terapias hormonais têm uma eficácia limitada no aumento da massa óssea, enquanto que o aumento da ingestão calórica que resulta no aumento de peso e/ou regresso da menstruação é uma estratégia essencial para restaurar a massa óssea” em mulheres que sofrem desta condição.