A Organização Mundial da Saúde já se ofereceu para ajudar a Coreia do Norte, o Haiti, a Eritreia, o Burundi e a Tanzânia a lançarem campanhas de vacinação contra a Covid-19. Entre os 194 Estados membros da OMS, só estes cinco países se mantêm em contracorrente relativamente ao resto do mundo.
As razões para as reticências são várias, sendo que a OMS “continua a apoiar estes países” retardatários, disse um porta-voz à AFP. E aplaude o anúncio da Tanzânia de que irá, em breve, aderir à Covax. Esta plataforma de distribuição de vacinas contra a Covid-19 a países menos desenvolvidos já forneceu 89 milhões de doses a 133 Estados.
COREIA DO NORTE LAMENTA AS DESIGUALDADES
Graças ao fecho total das fronteiras, decidida por Kim Jong-un há mais de um ano, oficialmente nunca houve um só caso positivo de Covid-19 na Coreia do Norte.
Porém, algo terá escapado nos últimos dias ao controlo do regime de Pyongyang. Esta quarta-feira, 30, Kim Jong-un acusou altos responsáveis do país de terem causado um “grave incidente” relacionado com a pandemia. “Um grave incidente que provoca uma enorme crise para a segurança da nação e do seu povo”, declarou, citado pela agência de notícias oficial KCNA.
A Coreia do Norte está abrangida pelo Covax, mas a entrega das doses atrasou-se tanto que, no final de maio, o regime denunciou num comunicado “o egoísmo nacional” de determinados países.
HAITI RECUSOU VACINAS DA ASTRAZENECA
Apesar da crise sanitária grave na ilha, as autoridades haitianas recusaram os lotes de vacinas AstraZeneca atribuídos em maio, ao abrigo do Covax. Em causa estão os efeitos secundários que foram notícia um pouco por todo o mundo.
O certo é que, pouco depois dessa recusa, os casos positivos de Covid-19 aumentaram muito no país. E, segundo Alessandra Giudiceandrea, chefe de missão da ONG Médicos Sem Fronteiras, citada pela agência Bloomberg, os dados oficiais estão abaixo da taxa de mortalidade verificada no terreno e não refletem a sobrecarga dos serviços hospitalares sentida. “Enquanto perdurarem as desigualdades Norte-Sul, o vírus da Covid continuará a matar e a sofrer mutações”, sublinhou.
As desigualdades também estão a cavar um fosso sanitário no próprio país – são muitos os haitianos ricos a deslocarem-se à Florida, nos Estados Unidos, para se vacinarem contra o SARS-CoV-2.
ERITREIA NÃO ADERIU À COVAX
Oficialmente, a Eritreia teve até agora cerca de 6 mil infetados e 23 mortos por Covid-19. É uma estimativa muito por baixo neste país que é dos mais pobres do mundo e onde o Governo se tem fechado em copas relativamente à pandemia.
Os dados são praticamente inexistentes e as autoridades mantêm que a vacinação não é uma prioridade e que a Covid-19 pode ser combatida por outros meios. Até agora, ainda não foram, por isso, entregues os documentos necessários para a Eritreia poder integrar a Covax.
BURUNDI TAMBÉM DIZ NÃO PRECISAR
A prevenção deverá ser suficiente para combater o SARS-CoV-2, ainda acreditam as autoridades do Burundi. Oficialmente, o pequeno país teve pouco mais de 5 mil infetados e apenas 8 mortos de Covid-19. A relação com a OMS não tem sido a melhor.
No final de dezembro, o presidente, Evariste Ndayishimiye, declarava mesmo: “O vírus não existe no Burundi. Os outros vêm aqui para se tratar e preferem ficar depois da recuperação. Deus nos protege.”
E, em janeiro, o ministro da Saúde, Thaddée Ndikumana, garantia: “A Covid-19 está sob controle aqui. Aqueles que dizem que a situação é grave são inimigos da nação. […] O Governo nunca aceitará uma vacina que venha a ser testada em burundeses.”
TANZÂNIA VAI FINALMENTE AVANÇAR
O anúncio foi feito no passado dia 17 de junho, numa conferência de imprensa, pela diretora regional da OMS para África. Segundo Matshidiso Moeti, a Tanzânia vai finalmente integrar a Covax e avançar com uma campanha de vacinação.
O atraso, neste país, deveu-se inteiramente à recusa do anterior presidente, John Magufuli, de adotar as vacinas anti-Covid. Magufuli morreu a 17 de março, oficialmente de problemas cardíacos, mas as suspeitas de que terá contraído o SARS-CoV-2 encontraram eco na comunicação social.
Graças à sua sucessora, Samia Suluhu Hassan, a Tanzânia recebeu 100 mil doses da vacina russa Sputnik V que, segundo a Reuters, serão administradas “aos peregrinos, aos trabalhadores da linha da frente, aos empregados dos hotéis e às pessoas que sofrem de comorbilidades”.
Há mais de um ano que não são publicados dados sobre a Covid-19 no país, que estagnou artificialmente nos 509 casos e 21 mortos.