O alerta veio do Ministro da Saúde francês, o médico neurologista Olivier Véran. Numa mensagem publicada no Twitter, avisou: quem está infetado com o novo coronavírus não deve tomar ibuprofeno. A mensagem espalhou-se rapidamente, em França e até em Portugal, e uma publicação alemã chegou mesmo a dizer que era uma notícia falsa.
Na verdade, o ministro limitou-se a dar eco às recomendações do Diretor-Geral da Saúde francês, Jérôme Salomon, que desaconselha totalmente aquela formulação para atenuar os sintomas da infeção pelo coronavírus e não só. Na verdade, este tipo de medicamentos, da classe dos anti-inflamatórios não esteroides (conhecidos pela sigla AINE), está desaconselhado em todas as viroses respiratórias.
“Há muito tempo que temos esta recomendação de evitar o ibuprofeno e todos os AINE em viroses. Não se trata de uma recomendação específica para a Covid-19”, nota a pediatra Margarida Ejarque Albuquerque, que trabalha num hospital público em Tours, França. No caso de infeções cutâneas ou varicela, está mesmo proibido prescrever estas substâncias, usadas por vezes para fazer baixar a febre e diminuir a dor.
A questão é que estes anti-inflamatórios, tal como acontece com a cortisona, afetam a capacidade de reação do sistema imunitário, a quem cabe a tarefa de eliminar os vírus do organismo. Por essa razão, sempre que se supeitar de uma infeção viral, para o alívio dos sintomas deve-se optar pelo paracetamol.
Apesar de ser uma recomendação antiga, todos os hospitais franceses receberam um vídeo sobre a forma de atuação perante esta nova ameaça, com destaque para a questão dos AINE e dos corticoides. Aliás, nas comunicações ao país, feitas pelo Ministro da Saúde e pelo Diretor-Geral da Saúde franceses, no âmbito da pandemia, este assunto é mencionado com frequência.
Além deste facto já conhecido, um trabalho publicado recentemente na revista Lancet, com base em três estudos feitos com pacientes chineses, sugere uma ligação entre o ibuprofeno e o agravamento de sintomas. No artigo, deduz-se que a molécula poderá aumentar a quantidade de recetores ACE, que existem no pulmão, intestino, rim e vasos sanguíneos, aos quais o 2019-nCov se liga quando entra no organismo. A existência de maior quantidade de recetores facilitaria, naturalmente, a vida ao vírus. No entanto, esta conclusão ainda é muito preliminar e carece de mais estudos para ser considerada válida.
Pessoas que tomem ibuprofeno regularmente devem consultar o seu médico, recomendam as autoridades francesas. Na página da Direção-Geral da Saúde, em Portugal, dedicada à infeção Covid-19 refere-se apenas: “O tratamento para a infeção por este novo coronavírus é dirigido aos sinais e sintomas que os doentes apresentam.”