Quem acorda cedo tem menos probabilidade de desenvolver uma depressão ou outros problemas do foro mental, assim conclui um estudo conduzido por investigadores da Universidade de Exeter, no Reino Unido.
Em junho do ano passado, uma investigação da Universidade do Colorado e do Hospital Brigham and Women, em Boston, que analisou a relação entre transtorno mentais e o cronotipo das pessoas – a forma como sincronizam as horas do dia com as suas atividades- revelou que as mulheres que acordam bem cedo têm menos 12% a 27% de probabilidade de virem a ter depressão, relativamente às que se levantam mais tarde.
O novo estudo alarga, agora, os resultados aos homens também, ao perceber que a genética influencia – ainda mais do que se pensava -a tendência de se acordar mais ou menos cedo.
Os investigadores analisaram o genoma de quase 700 mil cidadãos britânicos incluídos no banco de dados de pesquisa UK Biobank. Além disso, utilizaram dados da empresa norte-americana de genética e biotecnologia 23andMe.
A partir destas informaçãoes, a equipa descobriu que há pelo menos 351 genes – e não 24 como, até à data, se conhecia – que predispõem uma pessoa a acordar com facilidade de manhã e a ser mais produtiva nesse período -as chamadas cotovias -, ou, pelo contrário, a deitar-se e levantar-se tarde, trabalhando melhor no período da noite (denominadas corujas).
Ao determinarem que variantes genéticas eram partilhadas pelo primeiro grupo, a equipa conseguiu estabelecer uma relaçã de causa/efeito entre ser-se madrugador e ter-se melhor saúde mental.
Cada participante tinha mencionado, anteriormente, o seu padrão de sono num inquérito. Contudo, o que a equipa procurava era uma “medida” mais objetiva do cronotipo, sendo que incluiu na análise de dados mais de 85 mil pessoas cujas horas de sono foram registadas com uma pulseira de atividade.
O estudo confirmou, ao comparar os 5% de pessoas que tinham mais “genes madrugadores” no ADN com os 5% que tinham menos deste tipo de genes, que as pessoas predispostas geneticamente a serem madrugadoras dormiam, em média, 25 minutos mais cedo do que as que acordavam mais tarde.
Em relação à duração e qualidade do sono, o estudo, publicado recentemente na revista científica Nature Communications, não revelou diferenças significativas.
Embora os madrugadores tenham referido sentir-se bem, no geral, e de terem sido detetados menos casos de depressão e esquizofrenia neste grupo de pessoas, a equipa não encontrou evidências de que ser desta maneira proteja contra outro tipo de doenças, como a diabetes ou a obesidade.
“Muitas pesquisas concluíram que as corujas têm uma pior regulação metabólica e, talvez, um risco maior de diabetes e obesidade. Mas esses estudos tendem a ser de correlação; ao utilizar a genética, pudemos inferir a causa e o efeito”, afirmam os investigadores.
Os resultados observados neste estudo não querem dizer que as pessoas que preferem a noite desenvolvam, ao certo, algum tipo de depressão . O importante é tentar contrariar o hábito de se adormecer e levantar muito tarde, encontrando um equilíbrio.
E, atenção, ser-se coruja não é, à partida, prejudicial à saúde: o que é negativo é uma pessoa ter de se levantar cedo devido aos seus compromissos diários quando a genética a predispõe a fazer o contrário, já que pode pode criar desequilíbros no relógio biológico interno.