Quem assistiu, no sábado, 12, à cerimónia de receção ao veleiro holandês Tres Hombres, na ribeira do Porto, pode ter pensado tratar-se de uma recriação histórica… Há quase cem anos que por ali não se via atracar um navio de carga sem motor para recolher produtos nacionais. Mais do que recriar a história, porém, a companhia holandesa de navegação à vela Atlantis quer alterar-lhe o rumo.
“Não é um regresso ao passado, antes um encontro com o futuro”, sublinha Andreas Lackner, 35 anos, o capitão austríaco do navio. Com o preço dos combustíveis fósseis a aumentar e a crescente preocupação com o desenvolvimento sustentável, a companhia acredita que o transporte verde de cargas não é uma utopia.
“Hoje, temos sistemas de comunicação e de previsão meteorológica que permitem um uso otimizado do vento”, diz Lackner.
Em 2007, ele e os dois holandeses que fundaram a Atlantis decidiram transformar a paixão pelo mar e pelo meio ambiente em algo de efetivo. Lançaram um apelo a voluntários de todo o mundo e conseguiram reunir, no porto holandês de Den Hélder, 120 pessoas para reconstruir um antigo barco de guerra alemão. Deram-lhe o nome de Tres Hombres e é com ele que, desde 2009, percorrem os portos do mundo a espalhar a mensagem de um transporte alternativo de grande potencial.
Do Porto, onde chegaram com o apoio de três empresas com preocupações ambientais na produção (a adega Muxagat, a marca de roupa artesanal LaPaz, a oficina de projeto, construção e investigação Skrei), levaram azeite, amêndoas e vinhos do Douro, que seguiram viagem para o Funchal, Canárias, Cabo Verde e Caraíbas.
O navio, que também é escola (seis dos 13 membros da tripulação são aprendizes, com vista a formar uma nova geração de marinheiros), regressará à Europa em julho de 2012. Além do mais, as empresas que recorrem, para transporte, à Atlantis, podem colar nos seus produtos o selo de Transporte justo, 100% limpo de emissões de CO2. Apelativo, no mínimo.
O DADO
135 – Número de acionistas da Atlantis, empresa proprietária do veleiro Tres Hombres