Os últimos anos e o nosso tradicional espírito cataclísmico habituaram- -nos ao termo tempestade perfeita, usado quando a situação é ditada por muitas variáveis que apontam todas em sentido negativo, e que combinadas garantem uma tormenta assinalável. Hoje, porém, parece que estamos a viver o oposto: uma perfeita bonança. Aquela que chegou depois da intempérie de uma crise económica dura, que se arrastou por quatro anos, e que cortou 12% aos rendimentos dos portugueses.
Portugal está hoje a transbordar élan, essa característica não palpável que faz de uma pessoa ou de um país um polo de atração de coisas boas. É o Euro 2016, é António Guterres à frente das Nações Unidas, é Ronaldo a arrebatar prémios, é uma salutar convivência e estabilidade política, é a vitória no Festival Eurovisão, é a visita histórica do Papa do povo, é o tetracampeonato para o Benfica, são os dados macroeconómicos positivos. Ufa!, quando a esmola é muita o pobre desconfia, não? (Lá vem o cataclismo outra vez…)
Um crescimento do Produto Interno Bruto de 2,8% no trimestre, acima das melhores expectativas, anunciado na segunda-feira, foi a cereja em cima do bolo de um fim de semana de emoções fortes. O crescimento nacional foi bem superior ao registado em média na Zona Euro, que até abrandou ligeiramente no primeiro trimestre do ano. Os dados são consistentes com os sólidos números do mercado de trabalho, dizem os especialistas, recordando que no final dos primeiros três meses do ano a taxa de desemprego recuou para 10,1%. A economia criou 145 mil empregos num ano, o maior aumento desde 2013. A ajudar à festa, o turismo que bate recordes e atrai cada vez mais gente ao nosso país.
De quem é a culpa do bom momento, é agora a grande questão que entretém as hostes. Do PSD, que diz que lançou as bases para tudo isto? Ou do PS, que diz que para trás de si só houve desgraça? A razão, como tantas vezes acontece, está algures no meio. O PSD fez uma necessária travessia no deserto, mas sempre a puxar para baixo. O PS (e amigos da geringonça) beneficiou das medidas impopulares tomadas e trouxe novo ânimo a um país sem esperança.
Agora é surfar a onda enquanto ela está no auge. Arriscar mais, exportar mais, investir mais, consumir mais, e no entretanto aproveitar para fazer as necessárias reformas estruturais. É que, diz a História, a bonança perfeita não dura para sempre e o élan também não.