Os professores de hoje não são os professores que um dia tivemos na escola. Serão melhores? Serão piores? Nem uma coisa nem outra. Apenas diferentes. O tempo mudou alguns métodos de ensino também, mas há uma realidade que me parece evidente: os professores de hoje estão muito mais condicionados e espartilhados do que os que noutros tempos exerceram esta profissão.
Ouvimos muito, no presente, frases como “Fomos do 8 ao 80.”, Já não temos um ensino de qualidade.”, ou “Os professores de agora não se comparam como os que tive.”, entre outras afirmações que apenas traduzem a atual representação social da figura do professor.
A liberdade, porventura excessiva, de ação que os professores de antigamente gozavam passou a uma limitação em vários campos, não permitindo que o professor aja como considera melhor, de acordo com cada situação específica. Diria mesmo que se, por um lado, as limitações impostas face aos abusos que alguns professores exerciam no passado (quem não se lembra da famosa reguada ou do puxão de orelhas, ou até mesmo das orelhas de burro?), por outro lado, as barreiras que hoje são impostas aos professores retiram-lhes muitas ferramentas que poderiam ajudar a resolver ou, pelo menos, a atenuar, o problema de que tanto se fala da indisciplina e do desinteresse. Na verdade, se um aluno tem a consciência de que, independentemente do que faz, passa sempre de ano, que razões vai ter para mudar o seu comportamento?
Desenganem-se os pais que pensam que é sempre o professor que é pouco exigente. Na verdade, em muitas situações, isso pode acontecer, não o coloco em causa. Mas noutras, sempre que um professor fala do comportamento de um aluno, da sua falta de empenho ou de respeito, quase que cai o Carmo e a Trindade na Direção da escola ou do agrupamento, como se fosse obrigação do professor levar os alunos ao colo, como se de porcelana se tratasse. Isto porque, hoje, infelizmente, com o modelo de ensino atual, os alunos são muito mais números e estatística, do que pessoas.
E, então, para mostrarmos o quanto os nossos resultados na educação são positivos ao resto da Europa, apresentamos uma série de gráficos e resultados estatísticos tão bonitinhos que comprovam o elevado grau de aprovação que existe em Portugal! Uau, que coisa fantástica! Só que…não poderia haver maior falácia! Os alunos passam todos, muitas vezes sem quase nada aprenderem, e mesmo os conhecimentos obtidos revelam-se pouco consolidados. Resultado: chegam ao ensino superior ou ao mercado de trabalho, quando saem da escola no final do ensino obrigatório, sem bases sólidas que lhes permitam um desempenho eficiente.
Deixemos os professores trabalharem sem espartilhos e, acima de tudo, valorizemos o seu trabalho e o dos alunos que todos os dias se esforçam para aprender. Se todos os alunos são valorizados da mesma forma, como distinguir o que deve ser louvado, nomeadamente um comportamento correto perante professores, colegas e funcionários, e uma dedicação à aprendizagem? Depois não percebemos como andam professores e alunos tão desmotivados… Haja bom senso!
MAIS ARTIGOS DESTE AUTOR
+ Porque o atual modelo de educação é obsoleto e as alternativas realistas
+ Há vida para além da maternidade. É preciso fazer um desenho?
Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.