Tenho o Carlos Moedas como alguém competente, sério e equilibrado. Nunca o tinha visto cair em radicalismos e em discursos desfasados da realidade, e muito menos a dizer coisas que sabe não serem verdade ou então que não foi confirmar se são ou não. Também me lembro de como colaborou com o atual governo numa altura difícil mostrando sentido de missão e recusando a política de trincheira – o que o fez ganhar vários anticorpos no PSD, nomeadamente do anterior líder.
Nada no seu passado político e na sua personalidade indicavam que enveredasse por um discurso do género “do perigo do socialismo”, a ver perigos para a liberdade vindos do atual governo ou a falar da extrema-esquerda que nos governa. Mais, quando anunciou a sua candidatura e nos primeiros passos da campanha trazia um discurso abrangente e próximo daquele que sempre pareceu ser o seu pensamento: social-democrata e avesso a encostos ou concessões à direita radical. Era razoavelmente evidente que faria uma campanha em que apostaria na conquista do centro político. Única forma, aliás, de ter uma hipótese de conquistar a câmara municipal de Lisboa e de ter se tornar uma pessoa a ter em conta no futuro do PSD.
Hoje, vi no Expresso o nome dos seus conselheiros (Miguel Morgado, Leitão Amaro e João de Almeida) e o que me deixava perplexo por não corresponder ao Carlos Moedas que todos conhecemos ficou claro como água. São os defensores da viragem violenta do PSD à direita, os gurus do discurso da venezuelização de Portugal, os tolinhos da conversa de que vivemos numa espécie de ditadura.
A alucinação do discurso é o que é, o pior é que os portugueses olham para esse discurso e aquilo nada lhes diz. Como podem as pessoas de centro, moderadas e que procuram soluções melhores para as suas vidas levar a sério uma pessoa que lhes fala de coisas que elas não sentem? Pior, as próprias boas propostas que Moedas tem (e algumas são, pelo menos, muito defensáveis) acabam por perder relevância no meio daquelas tolices.
Na política – e na vida – quando se faz aquilo em que não se acredita corre sempre mal. Carlos Moedas cometeu um erro grave: tentar ser o que não é.
É pena. Ele é bem melhor do que aquilo que estes aprendizes do Banon o transformaram.