Quando, no início da pandemia, percebi que ia ficar sem concertos por tempo indeterminado, decidi que havia que pôr em prática uma resolução pendente – diversificar o meu trabalho, desmultiplicar a minha escrita e as suas possibilidades e abrir o leque de formatos. Não era apenas uma questão estratégica e de sobrevivência, era uma necessidade artística anterior, que acabou por se precipitar perante os factos e suas frustrações, como também perante as oportunidades que (providencialmente) foram aparecendo.
Ora, aquilo que começou como uma resolução tem-me levado para bem longe da minha praia. E na minha mais recente exploração por mares nunca dantes navegados, é chegada (rufos em crescendo) a véspera da estreia da minha primeira peça de teatro (frio na barriga)! Foi por um irrecusável convite da Boca Bienal que me atirei à escrita de um texto para encenar, pela primeira vez na vida. Escrever foi “fácil”, senti eu num misto de autoestima-das-infâncias-felizes e alguma inconsciência. Duro foi depois (mas já lá vamos).