1. “O caso Cold Play”: Esta semana, 450 mil portugueses formaram fila (física e digitalmente) para comprar um bilhete para o concerto dos Cold Play no Estádio de Coimbra. O concerto – que, de acordo com a presidente da Ticketline, é o evento com maior procura da história portuguesa – marca o regresso da banda britânica a Portugal e já foram anunciadas novas datas. Há bilhetes na candonga por mais de mil euros, garagens particulares perto do estádio para alugar no OLX e o alojamento totalmente esgotado no Booking em Coimbra. O que é isto? Se era previsível que o concerto esgotasse, ninguém anteciparia a escala do frenesim. A avaliar pelo turbilhão nas redes sociais, será mais um caso do fenómeno de vendas que se autojustifica, típico da Era digital: os bilhetes estão a esgotar porque os bilhetes estão a esgotar. Subitamente, cinco por cento da população nacional pela-se por uma hora de concerto no Estádio de Coimbra. E eu a pensar que Coimbra tinha mais encanto noutras horas.
2. “A descoberta saurópode”: também esta semana, paleontólogos portugueses e espanhóis desenterraram em Pombal o esqueleto daquele que pode ser o maior dinossauro encontrado na Europa. Estima-se que tivesse doze metros de altura e 25 de comprimento. As escavações envolvem investigadores do Instituto Dom Luiz, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, do Grupo de Biologia Evolutiva da UNED-Madrid e da Facultad de Bellas Artes da Universidade Complutense. Tudo começou em 2012, depois de um senhor ter encontrado fragmentos ósseos no seu quintal. A maravilhosa descoberta do saurópede braquiossaurídeo não suscitou, no entanto, particular aclamação à mesa dos Cafés Centrais. O magnífico titã lusitano, ‘Lusotitan atalaiensis’, aparentemente pecou por viver no Jurássico Superior, 150 ou mais milhões de anos antes de os Cold Play se juntarem. Caso contrário, teria podido caminhar até Coimbra, esticar o pescoço por cima do estádio e assistir ao concerto. Foi uma questão de timing.
3. A Comissão de ética: esta semana, o ex-vice-presidente do Chega foi suspenso pela comissão de ética daquele partido e será expulso por criticar André Ventura nas redes sociais. Também há dias, Gabriel Mithá Ribeiro, ideólogo e deputado do partido, apresentou demissão por ter sido agredido por um colega numa reunião do grupo parlamentar. Cinco dos vereadores eleitos pelo Chega nas últimas autárquicas já viraram costas. O antigo coordenador autárquico está em rota de colisão. Rara é a semana em que não se dá nota de polémicas, insultos, agressões ou escaramuças. Somam-se declarações abertamente discriminatórias, racistas e populistas; defende-se a castração química, a pena de morte, lei especial para etnias específicas, uma série de ideias extremistas e medievais, sem lugar no mundo civilizado. É, portanto, bastante irónica a existência de uma “Comissão de Ética”. Dizem-no os dissidentes do Chega: a função desta comissão é silenciar os críticos. Curioso para quem tanto fala em liberdade de expressão. É esta a génese do partido e a sua proposta para o país: intrigas, violência e pensamento único. Portugueses de bem, portanto.
4. A autoproclamada “rainha do Canadá”: Romana Didulo, líder de extrema-direita e profeta do conspiracionismo Qanon, é dada como ameaça pública no Canadá pela influência junto de dezenas de milhares de seguidores. Na semana passada, um grupo de apoiantes seus concentrou-se em Peterborough numa ação para prender polícias, na sequência de um apelo nas redes sociais. Natural das Filipinas, a autodenominada “rainha do Canadá” fundou o partido de extrema-direita “Canada 1st”, tendo incentivado os seguidores a perseguir profissionais de saúde durante a campanha de vacinação anti-covid. Promove a teoria de conspiração Qanon – a tese alucinada de que os políticos norte-americanos integram uma rede de tráfico infantil e a de que os extraterrestres visitaram a Terra há 300 mil anos. Na sequência da operação (falhada) em Peterborough, onde vários dos seus apoiantes foram presos, a presidente da câmara, Diane Therrien, comentou o assunto no Twitter: “Odeio dar tempo de antena a estes imbecis. Aqui está o meu comentário: f****-se, seus idiotas”. Pois é: o perigo das teorias da conspiração não findou com a pandemia.
A silly season não é exclusiva das férias de verão, como se verá já em setembro. É uma constante da vida, dizia o poeta. Estaremos por cá.
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