Henrique Costa Santos
Dar cabo da boa esperança
Nos túneis do Metro de Lisboa, onde as obras e a falta de alternativas têm ditado o caos, ecoa a sensação de desprezo por quem cá vive e trabalha todos os dias. O problema não são as obras, que nalgum momento têm de ser feitas. É a negligência
Aeroporto Internacional D. Sebastião
Pago a minha parte dos impostos, a minha família também, confiando nos técnicos contratados para fazer o seu trabalho. Assim, olho para esta eterna Busca do Vale Encantado como ilustração máxima da inércia nacional
Não são as cebolas que fazem chorar
A subida dos preços no setor da alimentação é o principal vetor da inflação no país. Segundo a DECO, as frutas e os legumes, por exemplo, subiram perto de 35% no espaço de um ano
As desculpas não se pedem
A total desproteção dos imigrantes não-europeus em Portugal - agravada no caso dos trabalhadores do Bangladesh, da Índia, do Nepal, do Paquistão - choca-nos e revolta-nos, caso a caso, acendendo pavios sempre curtos e inconsequentes
Uma ministra pode ter 34 anos?
A crise na Habitação em Portugal resulta de décadas de negligência e más políticas. Que papel terá a idade dos sucessivos decisores neste contínuo desastre?
Tem a palavra o Dr. Robô
O progresso da Inteligência Artificial é tão fascinante quanto assustador. Nos últimos anos, os robôs testemunharam a sua própria e vertiginosa mobilidade social: passaram de lavradores, escavadores e empilhadores a académicos, compositores e advogados
2022: normalidade enganosa
Lembra-se de quando 2020 ganhou o título de annus horribilis? Mal sonhávamos nós. O calendário que agora se inicia promete continuar a estar à altura deste desígnio. Vai doer. A crise económica e as tensões internacionais, com a complexificação do xadrez global, permitem antecipar um ano duro, com carências, tumultos e contestação social
O mito da silly season
Quatro contos verídicos à despedida do nosso querido mês de agosto, para provar que a silly season não existe
Ninguém quer trabalhar
De nada nos servirá a velha cantiga do “vai trabalhar, malandro!”, de que o povo não quer trabalhar porque é preguiçoso, porque recebe subsídios ou porque não passa recibos. Está na altura de olharmos para o ponto crucial da questão: que empregos são estes?
Cidadania à la carte
Querer instituir o direito de veto de cada encarregado sobre os currículos da escola pública é bizarro. É natural, e até louvável, que os pais tenham opiniões sobre o que é leccionado nas escolas, mas isso não lhes dá poder para retirar do cardápio escolar o que não lhes agrada
Coragem hoje, abraços amanhã
Depois de, há um ano, em confinamento geral, não ter havido manifestação, neste domingo, milhares de pessoas saíram à rua, com as distâncias possíveis, para dar vivas à liberdade. Estive na Avenida da Liberdade e foi isso que vi: liberdade, consciência, emoção e segurança
Venham mais quatro
Se as restrições tardassem, começaríamos a ter revistas a anunciar “os 10 postigos mais in da cidade de Lisboa”. Hoje, 79 dias de recolher obrigatório passados, Portugal reabre as escolas, as esplanadas, os museus, e rezamos para que este pequeno alívio seja durável. Como é óbvio, só dependerá da inteligência e responsabilidade de todos
Estamos todos no mesmo porta-contentores
Se, no combate à pandemia, não estamos todos no mesmo barco, estamos todos bloqueados à espera que a maré suba. Estamos todos no mesmo porta-contentores
Apps do século XIX
As principais reivindicações dos trabalhadores das apps – como o salário mínimo, o regime contributivo ou o gozo de férias – incluem direitos conquistados há mais de 100 anos. Neste plano, não deixa de ser curioso que tantas empresas do universo digital, movidas pela ideia do progresso e do futuro, pareçam não refletir sobre o regresso ao séc. XIX quando se trata de compensar quem trabalha
2021 Odisseia no Espaço
Se, por um lado, o tsunami da crise pandémica resistiu ao réveillon, saltando a fronteira anual, entramos em 2021 com bazucas e vacinas para o enfrentar. Que venha ele
Regresso à Natalidade
No Natal 2020, amar um familiar é não lhe dar um abraço ou um beijo, e não haverá fiscais-de-linha. Está nas mãos de cada um
Querido Pai Local
Por muito que a compra de uma velinha para oferecer à tia possa não parecer salvar uma economia, pode. Se cada um de nós for mais consciente nas suas compras, estaremos a oferecer prendas mais únicas e originais, com mais significado, feitas por perto, enquanto estendemos a mão a quem nos conhece pelo nome
Anima-te, filho
Em Portugal, onde a depressão e a ansiedade flagram, e o suicídio é a segunda maior causa de morte dos jovens, a resposta popular para os flagelos mentais continua a ser, tantas vezes, “não sejas tão negativa”, “vai ver o mar, que isso passa” ou, simplesmente, “anima-te, filho”
A de avião, B de banana, C de covid
Os alunos pertencentes ao grupo de risco podem participar nas aulas à distância e as autoridades locais de saúde estarão sincronizadas com as escolas para garantir eficácia. Contrapondo isto com o estado da pandemia – sob controlo há três meses –, e com a urgência de os meninos voltarem à sua vida, de onde vem, afinal, a polémica?
O pior cego é o que não quer ler
Ler é apaixonarmo-nos por ideias e imagens que não são nossas, mas passam a ser, elevando-nos em relação ao que éramos
O drinque nosso de cada dia
Não fosse letal a amargura instalada e isto teria um piadão