O Vinhão é, talvez, uma das castas que mais divide as opiniões entre os enófilos. Caracterizada pela sua elevada intensidade em quase tudo, desde os taninos, acidez e à sua capacidade tintureira (embora não possa ser classificada como tal), os vinhos são claramente marcados por um sabor intenso que nem todos apreciam.
Originária da região do Vinho Verde, onde ainda hoje é a casta predominante, cedo conseguiu conquistar outras paragens, nomeadamente o Vale do Douro, onde terá chegado no final do séc. XVIII. Naquela altura, a Bastardo era a principal casta da região, muito valorizada pelo seu elevado teor alcoólico, mas com pouca capacidade de cor, o que obrigava as adegas a recorrer às bagas de sabugueiro para dar uma tonalidade mais sólida aos vinhos. Esta foi uma prática recorrente que acabou por ser erradicada em meados de 1700, abrindo o caminho para a introdução do Vinhão, que ali viria a ganhar a designação de Sousão.
A tradição será sempre a tradição, e ainda hoje, na região do Minho, os vinhos produzidos por esta casta são presença assídua em muitos restaurantes, sobretudo durante a época da lampreia, onde, para muitos apreciadores, esta iguaria não pode ser bem apreciada se não for acompanhada por um Vinhão puro.
Mas os tempos mudam e, ao longo dos últimos anos, temos vindo a assistir a uma mudança de paradigma, com vários produtores a tentarem aproveitar ao máximo as características mais rústicas desta casta para produzirem vinhos diferenciados e que possam chegar a um mercado mais alargado.
Um dos melhores exemplos é conseguido com a trilogia de vinhos ‒ rosé, vinhão e vinhão grande reserva ‒ da Quinta da Paradela de Monforte, que mostram toda a frescura dos Vinhos Verdes, mas mais estruturados e complexos. Situada numa das encostas de Penafiel, onde as vinhas, com uma altura ao solo de dois metros, estão plantadas em terraços suportados por muros de granito, criando uma parede vegetativa que favorece o aproveitamento do sol e um melhor arejamento das plantas, resultando numa superior maturação das uvas.
Apesar das novas técnicas e tecnologias enológicas modernas, que facilitam novas abordagens na produção dos vinhos, o enólogo Francisco Gonçalves realça que “é a vinha que efetivamente permitiu estes três vinhos da casta Vinhão. Desde a intervenção profunda no solo que antecedeu a plantação das videiras à disposição e condução das mesmas, a Quinta de Monforte foi planeada para potenciar as melhores características dos vinhos da região”.
Na realidade, as maturações conseguidas permitiram reduzir a acidez característica desta casta, produzindo um Vinhão com menos extração e sem as sensações muito rudes na boca.
E se o resultado conseguido com o Rosé Vinhão é uma boa amostra do trabalho desenvolvido por Francisco Gonçalves, o que dizer do Vinhão Grande Reserva, no qual o enólogo tentou explorar ao máximo o potencial de envelhecimento da casta. Este reserva é produzido com uvas previamente selecionadas e pisadas em lagares de granito, que passam depois por um estágio de 12 meses em barricas de carvalho francês. O resultado é um vinho cheio de complexidade, muito elegante, harmonioso e rico em aromas. Uma experiência que mostra claramente que o Vinhão está vivo e recomenda-se.

Quinta de Monforte Vinhão
>REGIÃO
Vinho Verde
>Onde encontrar
Em garrafeiras nacionais, PVP €15,58
> O vinho
Apesar dos aromas mais intensos, e um teor alcoólico de 13,5%, é suave na boca, com muita frescura e mineralidade, o que faz dele um bom acompanhamento para quase todo o tipo de refeições.
> Notação
A

Quinta de Monforte Vinhão Rosé
>REGIÃO
Vinho Verde
>Onde encontrar
Nas principais garrafeiras nacionais, PVP €14,50
> O vinho
Caracterizado pela tonalidade salmão, este vinho apresenta notas minerais e fruta vermelha jovem, de uma forma subtil, como framboesa e morango. É bastante gastronómico, ideal para peixes mais gordos ou carnes mais leves. Deve ser servido entre os 10º e os 12º
> Notação
A

Quinta de Monforte Vinhão Grande Reserva
>REGIÃO
Vinho Verde
>Onde encontrar
Devido à sua reduzida produção, apenas 700 garrafas, é um vinho difícil de descobrir no mercado. PVP €96
> O vinho
Apresenta-se com uma boa dimensão aromática, onde se destacam os frutos vermelhos, notas ligeiramente compotadas e um toque balsâmico. Na prova, sente-se alguma doçura do álcool e da fruta, com taninos presentes, deixando um final longo e persistente
> Notação
AA
Criámos uma escala inspirada nas agências de rating. Boas provas!
> Notação
AAA Fabuloso
AA Muito bom
A Bom
BBB Satisfatório
BB Mau
C Não beba!
Artigo publicado na Exame nº 487 de janeiro de 2025