Era uma manhã húmida e fresca. Chovera. Há semanas que chovia todas as noites. Um furor verde avançava, ameaçando engolir a estrada. Em criança, eu tinha medo da cor verde. Ainda tenho, mas agora disfarço melhor. A dendrofobia ‒ o medo de árvores ‒ é uma patologia impopular. Menos popular, creio, só a ailurofobia.
Vi um homem transportando um grosso tronco numa bicicleta. Outro, levando um cabrito ao colo, enquanto pedalava furiosamente. Instantes depois fui ultrapassada, numa curva, por uma família de cinco pessoas, amontoada numa pequena motorizada. Nada daquilo me surpreendeu: é o dia a dia em qualquer estrada africana. Um homem equilibrando um barco numa mota, isso sim, já pode ser considerado um pouco invulgar. Ultrapassei-o, detive a carrinha uns trinta metros adiante, e esperei que ele se aproximasse.