No ano em que Paulo Portas se inscreveu na JSD, eu via pela primeira vez a luz do dia no Hospital de Mirandela. Entrei para a terceira classe quando ele abandonou a social-democracia. Em 1988, quando fundou O Independente com Miguel Esteves Cardoso, eu estava no auge da adolescência e começaria, daí a poucos meses, a escrever as minhas primeiras crónicas no jornal Badaladas. Há dezoito anos, mais coisa menos coisa, quando Portas foi eleito líder do CDS, eu aterrava no mundo dos jornais.
Foi já como jornalista de política que assisti às suas contradições. Ao “eu faço” a AD com Marcelo Rebelo de Sousa, quando não fez. Ao ”eu fico” na Câmara de Lisboa, quando não ficou. Ouvi-o dizer, em 2005: “Terminou o ciclo político em que eu presidi ao CDS ao longo de sete anos”. E vi-o voltar, dois anos depois. Escrevi sobre a sua demissão “irrevogável” que acabou revogada e, agora, estou expectante em relação a esta sua certeza de que “não é um intervalo, é um ponto final”.
Não sei como juntar Paulo Portas e ponto final na mesma frase. O culpado disso é o célebre cartaz das autárquicas de 2001 com o slogan “Eu fico”. Sobre um fundo azul escuro, um Portas em mangas de camisa e com uma agressiva gravata vermelha prometia aos lisboetas que ficaria na câmara. Mesmo que perdesse, subentendia-se… mal.
Nessas eleições, o CDS não só teve um mau resultado na capital, como somou várias derrotas a nível nacional, ficando reduzido a três câmaras. Teria sido um ótimo momento para uma saída airosa, mas António Guterres antecipou-se com a sua demissão – e com a ameaça do “pântano” – e Paulo Portas sobreviveu. Aliás, meses depois era ministro de Durão Barroso, numa nova AD que ninguém soube prever.
Alguém acredita que Portas deixa a política em 2016? Que sai para “fazer empresas”, como disse ao Expresso, e deitar fora os anos que passou no poder, dois deles como vice-primeiro-ministro? Alguém crê que as ambições de um animal político terminam aos 53 anos, sem que ele tente, pelo menos, dar um último salto? Não me interpretem mal, Portas conquistou num pequeno partido quase tudo aquilo a que os grandes aspiram. Mas Belém está a cinco ou dez anos de distância. E já nem sequer é preciso cartazes para concorrer…