O que têm em comum Belém, São Bento e Santa Apolónia?
Depende do objetivo, da missão e, sobretudo, do bilhete.
Mas, vamos por partes neste enigma!
Santa Apolónia é a estação ferroviária que recebeu em apoteose Humberto Delgado (1958) e Mário Soares (1974), que até então estava exilado em Paris. O primeiro perdeu as eleições, mas o segundo começou ali um caminho que havia de levar a Primeiro-ministro e a Presidente da República.
Belém e São Bento são, para além de estações ferroviária, o nome que comummente se dá, respetivamente, à casa do mais alto dirigente da nação (o Presidente da República), e à casa da Democracia (e morada oficial do Primeiro-ministro).
Enigmas à parte, Pedro Passos Coelho mostrou esta semana que continua politicamente vivo e que poderá ter “desembarcado em Santa Apolónia” com destino a Belém ou a S. Bento.
Ao ter efetuado a apresentação do livro “Identidade e Família – Entre a Consciência da Tradição e As Exigências da Modernidade”, escrito por personalidades conotadas com a Direita Conservadora, Passos Coelho poderá ter relançado o seu regresso ao campo político quando faltam pouco mais de 1000 dias para Marcelo Rebelo de Sousa encerrar o seu ciclo.
Se assim for, Pedro já tem o adversário Augusto em modo off e o também presidenciável António a apontar baterias à Europa. O Almirante Gouveia e Melo nem quer ouvir falar no tema e Jerónimo não faz mossa. Caso avance, Portas e Marques Mendes deverão arrepiar caminho. Ventura quer ir a todas, mas não tem dom da omnipresença. Mas… quererá Pedro desembarcar em Belém?
O antigo Primeiro-ministro apela a entendimentos políticos depois de “sinal claro” nas eleições e alerta para o afastamento dos cidadãos da política, como consequência do desentendimento político. Um desentendimento que já está instalado também no recém constituído Hemiciclo.
E São Bento? Quererá Pedro bilhete para voltar a residir na Casa da Democracia?
Montenegro acaba de assinar o seu Compromisso de Honra com Portugal, mas sem uma maioria parlamentar que o sustente está refém da direita e da esquerda.
Enquanto isso, Passos Coelho está liberto para trazer para a agenda temas como família, eutanásia, gestação de substituição, imigração, entre outros.
Assuntos que apaixonam e dividem a sociedade, mas que têm, devem ser discutidos e eventualmente referendados, tal como foi a interrupção voluntária da gravidez, que é hoje possível num país de convicção maioritariamente católica.
Começa a ser notório um desrespeito por opiniões contrárias à de certas tribos. Na verdade, parece que ninguém pode discutir ou expressar opiniões sobre assuntos sensíveis sem que as tribos se sintam ofendidas. Afinal, que destino desejam estas tribos para a nossa Democracia? A Democracia no seu sentido pleno ou a sua (deles) Democracia?
Belém e São Bento são, de facto, destinos. Estará Pedro a bordo?
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