Nunca escrevi uma linha sobre o quanto lamento o chumbo do PS, e abstenção do PCP e do Livre, à iniciativa para o aumento da preponderância da literacia financeira em contexto escolar. No entanto, dei por mim a pensar no tema, a questionar-me se realmente precisamos de literacia financeira ou de literacia ponto final. Derivei o pensamento para civismo e conclui que neste ponto ainda temos muito caminho para andar.
Se com a literacia desenvolvemos competência em determinada área, que por vezes não é passível de aprendermos em casa, em família, com a cidadania a coisa é diferente. Cidadania traduz-se (e aqui consultei o dicionário) pelo “respeito pelos valores da sociedade e pelas suas instituições”. Por outras palavras, cidadania é o viver em sociedade, é respeitar o outro, é ter a minha liberdade até ao momento em que começa a liberdade do outro, é ter educação e fazer/adotar pequenos gestos que podem fazer a diferença.
Pequenos gestos como o apanhar do chão os dejetos do animal de companhia e colocá-los no lixo orgânico; colocar a beata do cigarro no cinzeiro ou no lixo orgânico em vez de a deixar no chão ou na areia da praia. E este gesto é igualmente urgente de adotar quando, em vez da beata, temos filtro do cigarro eletrónico. Nas embalagens de plástico, vidro ou cartão também seria cidadania se todos os dias seguíssemos o exemplo do Gervásio, o chimpanzé que há 20 anos levou apenas 72 minutos para aprender a reciclar e a separar o papel, o plástico e o vidro pelos ecopontos das diferentes cores — azul, amarelo e verde.
O anúncio onde o Gervásio demonstra estar muito à frente do Humano termina com a pergunta “e você, de quanto tempo mais é que vai precisar?”. A questão, com duas décadas, continua atual e pertinente. Tão atual, que leva empresas como a Tabaqueira a encabeçar iniciativas como “A Final Four Não É Um Cinzeiro”. Num movimento que juntou a Fundação do Futebol – Liga Portugal e a Câmara Municipal de Leiria, a ação da Tabaqueira mobilizou diversos voluntários para recolher beatas no Estádio Municipal de Leiria na Final Four da Allianz Cup.
A ação poderia não passar disso mesmo: apanhar beatas e filtros. No entanto, a Tabaqueira distribuiu ao longo da competição cinzeiros portáteis e foi partilhada a importância do correto descarte de beatas e filtros junto dos participantes. Mas, o “chip do civismo” de muitos dos adeptos que estavam no Estádio não funcionou na integra. No final do jogo os resíduos de reduzida dimensão acabaram por escapar às brigadas de limpeza e foram apanhados por voluntários e figuras públicas, que marcaram golo em prol da sustentabilidade.
O Gervásio necessitou de 72 minutos para aprender a separar resíduos, mas alguns dos Humanos não o conseguiram em 90 minutos. De quanto tempo mais iremos necessitar para adotar comportamentos de combate aos resíduos? De depositar os filtros e beatas dos cigarros no lixo orgânico? De colocar as garrafas de plástico no ecoponto amarelo? De apanhar do chão os dejetos dos animais de companhia? De deixar a praia mais limpa do que a encontrámos? O Planeta é único e se todos contribuirmos um bocadinho, de certeza, teremos um mundo melhor. É tudo uma questão de civismo!