Mudam-se os tempos, mudam-se as vontades, uma máxima bem aplicada pelas novas gerações que deram um real sentido à expressão ‘aldeia global’. Uma sede de conhecer mundo que para muitos começa logo nos bancos da universidade, criando um movimento que afeta os mercados imobiliários.
O mais recente barómetro da HousingAnywhere, a maior plataforma de arrendamento de habitação na Europa (e presente também em Portugal), uma das mais procuradas por universitários e nómadas digitais, atesta precisamente isso: a partir da análise de 52.000 propriedades localizadas em 24 cidades europeias – essencialmente apartamentos T1, quartos e estúdios – concluiu-se que durante os primeiros três meses deste ano ocorreu um aumento de preço das rendas, em média, na ordem dos 12%. Porém, e pela primeira vez em seis trimestres, esse crescimento abrandou, regressando aos níveis pré-pandémicos. Pode ler-se na 19ª edição do HousingAnywhere International Rental Index “que o aumento dos preços de arrendamento de trimestre para trimestre está a perder força, comparando com o trimestre anterior onde o aumento médio das rendas atingiu os 14%”.
Mas isto em termos médios. Quando a análise é filtrada e feita por localizações e tipologias de habitação, as duas maiores cidades portuguesas ganham grande destaque. Diz o Index que “tanto o Porto, como Lisboa registaram elevados aumentos de trimestre após trimestre em todos os tipos de propriedade”. Os valores de arrendamento para “estúdios em Lisboa aumentaram 51,4% neste primeiro trimestre de 2023, tornando-a a cidade com os maiores aumentos trimestrais nos preços de estúdio no Rent Index”.
Quando a comparação é feita com o mesmo período do ano passado, o crescimento é ainda mais acentuado nas rendas em Lisboa na categoria de “Estúdios” (que representam cerca de 12% da oferta da plataforma) com o acréscimo a atingir uns impressionantes 81,6%. Neste mesmo ranking segue-se a capital da Islândia, Reykjavik, com um aumento de 57,3%, Hamburgo (+43,6), Florença (+27,7%) e Frankfurt (21,5%).
Ao mesmo tempo, o “Porto apresenta o maior aumento de trimestre após trimestre para o preço de arrendamento de apartamentos, registando um aumento de 20%”, sublinha-se no barómetro desta plataforma que tem mais de 160.000 propriedades disponíveis para arrendar (cerca de 96% já mobiladas), em 18 países da Europa e uma média anual de 30 milhões de visualizações.
Uma tendência que tem vindo a crescer como confirmou à Visão Imobiliário Carlos Amigo Ferrer, Country Manager iberia da HousingAnywhere: “Já no trimestre passado, Lisboa surgia como a terceira cidade com o maior aumento de preços entre as cidades que trabalhamos. Ao nível dos T1, por exemplo, destacava-se a cidade de Amesterdão (com uma média de 2.300€/mensais), seguido de Reykjavik e logo depois Lisboa na terceira posição com um preço médio de 1900€ por mês”.
Também na categoria “Quartos”, as duas cidades portuguesas voltam a entrar no top5 das maiores subidas. Assim, a liderar surge Berlim (+31,7%), seguido de Frankfurt (+29,2%), Porto (+22,5%), Lisboa (+21,4%) e Reykjavik (19,1%).
Portugal só não está presente, neste primeiro trimestre de 2023, no top5 dos maiores crescimentos da renda em apartamentos, uma tabela que é liderada por Reykjavík com subidas na ordem dos 33.7%. Neste ranking em particular constam ainda Budapeste (25.3%), Munique (20%), Amesterdão (18.4%) e Florença (13.4%).
Como atrair as casas alocadas ao AL
As cidades portuguesas entraram definitivamente no radar dos jovens – universitários ou trabalhadores digitais – e de forma mais acentuada nos últimos três anos, como realçou à Visão Imobiliário o country manager da HousingAnywhere, cuja sede está instalada nos Países Baixos. “Portugal tornou-se um mercado muito atrativo, sobretudo a partir da pandemia devido às suas características, clima e condições do país. Tudo isso favoreceu a uma grande mobilidade internacional. É um mercado que está a crescer de forma muito orgânica”, sublinhou o responsável da HousingAnywhere., acrescentando que esse fenómeno começou mais tarde por cá mas segue agora o mesmo fulgor de outras metrópoles europeias. “É o mesmo padrão que já tínhamos assistido em outras cidades europeias como Berlim ou Barcelona, muito atrativas para o turismo mas que registam também uma maior necessidade de alojamentos para estadias mais prolongadas”.
A plataforma, diz o responsável, “caracteriza-se por ter durações entre um mês e um ano aproximadamente, ainda que as reservas superiores a um ano também são possíveis, sempre que a regulação de cada país o permita”.
Ciente da convulsão social que existe em Portugal devido à questão habitacional e também do programa ‘Mais Habitação’, Carlos Ferrer lembra que “o pacote de medidas do Governo português vai em sintonia com muitas das iniciativas que se estão a aplicar também em várias cidades da Europa ou pelo menos em parte delas, como é o caso de Barcelona, onde também passaram a existir limitações no Alojamento Local (AL)”.
“O que estamos a ver é que, efetivamente, existe um problema na maioria das grandes cidades europeias no que diz respeito ao preço dos arrendamentos e ao acesso a casas. Aqui, nos Países Baixos onde estou, essa problemática é muito grande e está a levar, aliás, a que várias universidades como a de Amesterdão, por exemplo, recomendem aos seus estudantes que não se mudem para a cidade a menos que tenham já um alojamento reservado e devidamente garantido para evitar que fiquem na rua… O mesmo fenómeno assistimos recentemente com um grupo de estudantes espanhóis que se mudaram para a Itália e não conseguiam arranjar alojamento…”, exemplifica o responsável da HousingAnywhere.
Na opinião de Carlos Ferrer, “a melhor forma de resolver o problema do Alojamento Local não é gerando restrições, mas sim gerando incentivos que permitam aos proprietários facilitar um tipo de arrendamento alternativo, de estadias mais prolongadas que permitam não só aos hóspedes internacionais mas também aos portugueses, encontrar um alojamento que possam pagar, permitindo até uma maior diversidade de clientela”.
E que tipo de incentivos? “Vemos que em alguns países o que se está a aplicar são reduções fiscais para os proprietários que façam contratos por períodos de maior duração, por exemplo. Ou apoios na redução de impostos nos imóveis que estão sem ocupação para que possam ir para o mercado de arrendamento. Basicamente, o instrumento principal de que dispõem os governos são ajudas de ordem fiscal que permitam aos proprietários acederem a incentivos para colocar os seus imóveis para arrendamentos por períodos mais longos e que, no final das contas, lhes sejam tão rentáveis como o AL”, sublinha ainda o responsável.
Atualmente o número de inquilinos estrangeiros que recorre à plataforma para arrendar casa em Portugal é superior a 80%, com destaque para os brasileiros, nórdicos, alemães e franceses. A plataforma quer expandir a sua área de atuação em Portugal. “É um mercado muito interessante e depois de Lisboa e do Porto a nossa próxima foco-city é a cidade de Coimbra e, posteriormente, o Sul de Portugal, a zona do Algarve”, adianta ainda.
Atualmente em Lisboa a oferta de preços mensais nos alojamentos listados na plataforma varia entre os €250 e os €810 na categoria ‘Quartos’ e os 1.000 e os €3.000 no caso dos apartamentos T1 (mobilados). No Porto, o intervalo de valores nos quartos é muito similar à capital e nos T1 variam entre os 700 e os €2.100.