O mercado português das Tecnologias da Informação (TI) vai continuar em alta para os profissionais do setor em 2022. A escassez de mão-de-obra – sobretudo de profissionais com vários anos de experiência –, a aposta cada vez maior das empresas na digitalização dos negócios, a popularidade de Portugal junto de tecnológicas estrangeiras e o desaparecimento de barreiras de contratação, à boleia do teletrabalho e do trabalho remoto, são fatores que ajudam a explicar a subida de salários que vai manter-se neste ano.
A Exame Informática compilou, na tabela abaixo, a informação salarial para aqueles que são alguns dos empregos tecnológicos mais populares no mercado. A tabela tem uma função de pesquisa para facilitar a procura dos salários. As profissões estão designadas em português e inglês.
Como interpretar os salários
O que significam, afinal, os dados da tabela salarial? Os valores apresentados são ordenados brutos anuais – ou seja, é o que o funcionário recebe antes de descontados os impostos. Também é importante lembrar que, em Portugal, o volume salarial anual tem em consideração os subsídios de férias e de fim de ano.
E porquê os intervalos salariais tão grandes? Porque as propostas salariais das empresas variam significativamente entre si. Há empresas que, logo nas propostas, incluem os valores de subsídio de alimentação, por exemplo, e outras não. Também é importante referir que em diferentes regiões de Portugal praticam-se salários distintos (Braga e Faro, por exemplo).
E como são apurados estes dados? A consultora Robert Walters diz ter uma base de dados que cobre entre 60 a 70% dos trabalhadores de tecnologias da informação em Portugal – o valor do universo analisado, a empresa não revelou. A empresa diz, no entanto, adicionar 70 a 80 novos potenciais candidatos à sua base de dados todas as semanas.
“Sabemos quais são os pacotes salariais e quais as expectativas”, explica Fabienne Viegas, diretora de departamento de recrutamento em TI da Robert Walters. Isto porque enquanto consultora de recursos humanos, a Robert Walters tanto ajuda empresas a recrutar como também tem contacto direto com os candidatos. A empresa faz ainda ‘testes de desempenho’ junto de algumas das maiores empresas de tecnologia do País, o que lhe dá uma visão abrangente, sobretudo na conjugação entre os salários e as posições dos candidatos.
Salários a subir
Segundo a Robert Walters, empresa especializada em recrutamento, os salários de TI deverão registar, em Portugal, subidas entre os 6% e os 9%. E o apetite de empresas estrangeiras por profissionais portugueses é, atualmente, o grande impulsionador para a subida dos salários dos trabalhadores da área tecnológica.
Fabienne Viegas diz ter vários clientes “dos EUA, incluindo Silicon Valley, Reino Unido, Bélgica, Alemanha e Espanha” a recrutar ativamente em Portugal. “Muitas empresas estrangeiras estão a abrir operações ou a contratar em [trabalho] remoto em Portugal. Nos últimos seis meses, 60 a 70% das colocações são para empresas que estão a abrir centros em Portugal. São mais competitivas do que as empresas portuguesas, conseguem atrair candidatos mais interessantes”, detalha a responsável.
Se por um lado é verdade que a tendência geral do mercado é de salários a crescer, sobretudo nas posições com mais anos de experiência, também é verdade que os salários de entrada para algumas posições, sobretudo com menos experiência, notam uma quebra relativamente a 2021. São os exemplos os administradores de redes, administradores de bases de dados e os programadores de software para computação cloud.
Se os salários tecnológicos em Portugal situam-se, em vários casos, muito acima do salário mínimo nacional (€705 em 2022) e também acima da média salarial nacional (€1.314 de remuneração bruta média mensal, em 2020, segundo o Instituto Nacional de Estatística), Fabienne Viegas lembra que no mundo das TI é preciso ter um contexto mais amplo: “Comparado com muitos salários de outros países europeus, [os de Portugal] ainda são muito baixos”.
O ranking salarial para profissionais de novas tecnologias da Robert Walters, a partir do qual a Exame Informática elaborou a tabela acima, tem este ano novas posições, sobretudo relacionadas com a área de computação na nuvem (cloud), analítica de dados (data analytics), transformação digital e gestão em cibersegurança.
Do estudo de mercado feito para 2022, a Robert Walters concluiu ainda que 62% dos profissionais de TI estão à procura de uma nova oportunidade de trabalho em 2022, o que deverá continuar a estimular a concorrência salarial entre empresas, sobretudo para as posições de programador back-end, engenheiro de DevOps e programador de front-end, as três posições que vão ter maior procura no mercado português ao longo do ano.