O primeiro-ministro defendeu hoje a aposta na educação, na qualificação do emprego e a “imigração inteligente” para atrair talentos ao país e disse que não é “por acaso” que grandes multinacionais têm escolhido Portugal para instalar investimentos com base tecnológica, embora reconheça um “gap” entre a oferta e a procura de profissionais.
“A ideia de que tínhamos licenciados a mais foi das coisas mais dramáticas que existiram no País. (…) Temos talvez empregos pouco qualificados para a quantidade de licenciados que temos,” afirmou em Lisboa esta sexta-feira, durante a apresentação da aceleradora tecnológica Dream Assembly, lançada pela plataforma de moda de luxo Farfetch, em parceria com a Burberry e o fundo 500 Startups.
O chefe de Governo – que à saída da apresentação não quis responder a perguntas dos jornalistas, – mencionou a propósito das qualificações da mão-de-obra nacional que “não é por acaso” que os investimentos estrangeiros anunciados recentemente em Portugal (como os centros tecnológicos ou de serviços da Mercedes, Volkswagen ou Natixis) se centraram na “disponibilidade e excelência dos quadros na área da engenharia e tecnologia.”
Intervindo nos escritórios da Farfetch na capital – um projeto criado por José Neves há dez anos entre Portugal e Reino Unido e que já realizou sete rondas de financiamento -, António Costa considerou ainda que as mudanças no ambiente empreendedor nos últimos anos a nível nacional democratizaram o acesso das boas ideias e dos seus promotores ao capital, instando os promotores a perderem o “medo de falhar.”
“Antes, para ser empresário, era preciso ser herdeiro. Depois era preciso ter condições para ter apoio do sistema financeiro. Aquilo que o escossistema das startups tem vindo a criar é permitir que qualquer um que tenha a capacidade e um projeto possa colocá-lo em prática,” afirmou. Projetos e capacidade que podem bem vir de fora do País, como argumentou, referindo-se à necessidade de implementar neste aspeto uma “política de imigração inteligente” que permita partilhar conhecimentos.
“Não nos basta termos anualmente WebSummit em portugal. É uma montra para o País, para aprendermos com os outros ou cruzarmos experiências. Mas o mais importante é investir na educação, no acesso ao ensino superior, na formação mais qualificada, na ciência e na inovação,” acrescentou.
António Costa atribuiu ainda ao antigo ministro Mariano Gago (já falecido) os créditos pela aposta feita há duas décadas na investigação tecnológica, recordando também os passos dados no início dos anos 70, “ainda antes do 25 de abril”, para universalizar o acesso à educação.
A plataforma Farfetch, criada há dez anos em Portugal e no Reino Unido, atua no setor de venda digital de moda de luxo, ligando o comércio online e offline, fazendo curadoria e seleção de peças exclusivas dos designers para promover. Representa 1 200 designers e 700 marcas e boutiques, servindo mais de 1 000 empresas em 40 países do mundo, incluindo toda a União Europeia.
A empresa tem mais de 1 000 colaboradores em Portugal (a nível nacional fazem toda a tecnologia, operações, serviço ao cliente ou fotografia) e acima de 2 000 no total internacional, em 12 escritórios que servem mais de 190 países, com acesso mais de 2 milhões de clientes.