A piada faz-se sozinha, mas o próximo conclave está, literalmente, no segredo dos deuses. Dizem os católicos que o futuro só a Deus pertence e, por isso, quaisquer linhas que se escrevam sobre o assunto estarão quase sempre no domínio da especulação. Ou da ficção, já que (nem de propósito) Conclave – filme de Edward Berger, com Ralph Fiennes no papel de líder do Colégio dos Cardeais – é um dos mais sérios candidatos aos Oscars do próximo fim de semana. Conhecem-se, ainda assim, alguns factos. Nomeadamente, o facto de a esmagadora maioria dos cardeais com direito de voto ter sido escolhida pelo Papa Francisco. Só no último consistório ordinário, em dezembro de 2024, Bergoglio nomeou 21 novos cardeais, alguns provenientes de regiões distantes (portugueses, com direito de voto, neste momento, contam-se quatro: António Marto, José Manuel Clemente, Américo Aguiar e José Tolentino Mendonça, sendo este último responsável pelo Dicastério para a Cultura e a Educação). Sabe-se ainda que, para desespero dos setores mais conservadores, uma das linhas de força do pontífice argentino tem sido a renovação do governo do Vaticano. Mas também é verdade que o facto de um número significativo de cardeais não conhecer os meandros da Cúria Romana poderá torná-los mais vulneráveis a grupos de pressão. Imprevisibilidade é, assim, uma palavra que também se aplica à Igreja Católica…
Francisco não dá ponto sem nó: a 6 de fevereiro, dias antes de ser internado, prolongou o mandato de Giovanni Battista Re à frente do Colégio Cardinalício, permitindo assim, no entender de alguns especialistas, que o processo eleitoral se desenrolasse de acordo com os seus desejos. Re já não tem idade para votar no conclave, mas poderá ser determinante no pré-conclave, onde muitas vezes se definem as grandes tendências. Não esquecer ainda que a eleição vai ocorrer num momento particularmente tenso da política internacional. Recorde-se que, pouco antes de entrar no Hospital Gemelli, Francisco escreveu uma carta aos bispos católicos americanos na qual se opunha à política de exportação em massa de migrantes da administração de Donald Trump e J.D. Vance. Diz uma fonte atenta ao Vaticano, citada pelo Politico: “Já influenciam a política europeia, não teriam qualquer problema em influenciar o conclave. Podem andar à procura de alguém menos confrontacional.” Teorias da conspiração? Pode ser que sim, pode ser que não.