Existe um prestigiado prémio literário com o seu nome (instituído pela Sociedade Estoril Sol desde 1989); é fácil encontrar em reposições na RTP Memória, a série Retalhos da Vida de um Médico; há uma Casa-Museu a si dedicada em Condeixa-a-Nova e é verdade que, desde 2016, a obra de Fernando Namora tem sido reeditada pela Editorial Caminho, mas… não erraremos muito se tentarmos adivinhar que no auge da sua carreira literária, há meio século, o escritor estaria convencido de que a posteridade lhe reservava um lugar de maior preponderância na cultura portuguesa. Afinal, antes de Saramago, foi ele o escritor português do século XX mais lido e traduzido.
Por ocasião do centenário do seu nascimento, em 2019, o Jornal de Letras, Artes e Ideias dedicou-lhe um dossier. Nessas páginas, o diretor do JL (e conselheiro editorial da VISÃO) José Carlos de Vasconcelos sublinhava que Namora é um “caso nítido” dessas “figuras e obras que, com o passar do tempo, vão sendo injustamente esquecidas ou menorizadas”. E alvitrava as razões para isso: “Uma quase campanha contra tudo que cheirasse a – ou resolvessem apelidar de – neorrealismo; o facto do escritor não alinhar nas modas dominantes, sendo por outro lado inquestionável uma inquietação e constante exigência de renovação da sua obra; o ser dos escritores portugueses mais vendidos no País e mais traduzidos no estrangeiro, o que suscita em alguns despeito e em outros necessidade de se afirmar criticamente contra.”
O material humano à minha volta era farto – bastava escolher entre os párias, ciganos e campónios que viviam comigo
Fernando Namora