Pedro Nuno Santos, antigo ministro das Infraestruturas, teve conhecimento do convite de Fernando Medina a Alexandra Reis para secretária de Estado do Tesouro, em dezembro de 2022. Foi a própria ex-administradora da TAP que, esta quarta-feira, na Comissão Parlamentar de Inquérito, revelou aos deputados ter mantido uma conversa com o ex-ministro após ter sido convidada por Fernando Medina: “Penso que saberia que tinha sido convidada para secretária de Estado do Tesouro.”
A dúvida que fica – e que poderá ser esclarecida com as audições de Fernando Medina e Pedro Nuno Santos – é se este último informou o seu colega de Governo de todo o processo de saída da TAP e da indemnização de 500 mil euros paga a Alexandra Reis, que garantiu nunca ter abordado a situação com o ministro das Finanças aquando do convite. Recorde-se que Alexandra Reis foi secretária de Estado do Tesouro durante 25 dias: tomou posse a 2 de dezembro de 2022 e demitiu-se a 27, na sequência da notícia sobre o pagamento de 500 mil euros de indemnização.
Entretanto, segundo Alexandra Reis, a CEO da TAP, Christine Ourmières-Widener, contratou um conjunto de pessoas que lhe eram próximas para a empresa, sendo que estas contratações ficaram mais caras para a empresa. A ex-administradora da companhia revelou que os custos com estas contratações foram mais elevados, uma vez que as mesmas eram estrangeiras e isso envolvia mais despesas com habitação e deslocação. “Algumas delas não escondiam a relação próxima com a CEO”, declarou Alexandra Reis, acrescentando que tais quadros foram contratados para “posições chave” da companhia.
Alexandra Reis está esta tarde a ser ouvida na comissão de inquérito à TAP e, no arranque das inquirições pelo deputado da IL Bernardo Blanco, assumiu que ainda não compreende “de forma muito clara” as razões do pedido para que “saísse da empresa”.
A antiga administradora da TAP assumiu que o valor da indemnização proposta inicialmente para sair da empresa era “muito expressivo”, mas sublinhou que as responsabilidades também o eram, referindo que “não houve justa causa”.
Na audição que decorre esta tarde na comissão de inquérito à TAP, Alexandra Reis foi questionada pela deputada do BE Mariana Mortágua sobre se não considerava desajustado o valor da indemnização que pediu inicialmente para sair da empresa, que foi de 1,4 milhões de euros. “Era um valor elevado, sem sombra de dúvida, é um valor significativo, mas também o eram e são as responsabilidades de um administrador, que são muito elevadas, no caso de uma companhia aérea”, começou por responder, referindo que no caso de queda de um avião a responsabilidade “pode ser imputada pessoalmente a cada um dos administradores da empresa”.
Entendendo que “era de facto um valor muito expressivo”, a antiga administradora referiu que “era um valor para discussão” e que aceitou uma “contraproposta com valor muito mais baixo” ou seja 500 mil euros, assumindo que, ainda assim, também “é um valor expressivo comparado com média nacional”, mas que as “responsabilidades que estavam inerentes ao cargo eram também elevadas”.
“Não estou a fazer juízo de valor sobre legalidade dos 500 mil euros, o que digo é que quando foram propostos e aceitei. Nem por um instante pensei que alguma vez pudesse haver alguma duvida sobre aquele valor”, enfatizou.
Anteriormente, no período de inquirição do deputado do PCP Bruno Dias, Alexandra Reis explicou que a primeira proposta de indemnização que pediu depois de lhe terem pedido para sair da empresa “tinha um racional”, ou seja, “as mesmas condições que foram propostas a todos os colaboradores em duas vertentes no contrato de trabalho e a mesma fórmula de cálculo para o mandato”.