A ex-administradora da TAP Alexandra Reis revelou, esta quarta-feira, na Comissão Parlamentar de Inquérito que a CEO da empresa, Christine Ourmières-Widener, lhe pediu, em dezembro de 2021, para despedir um motorista da empresa, porque este não estava vacinado contra a Covd-19. Porém, o verdadeiro motivo para o despedimento, contou a antiga administradora, estaria relacionado com o facto de o trabalhador ter feito uma queixa contra uma utilização indeviada do carro da empresa por parte da CEO.
“Fui gerindo a questão e o rapaz vacinou-se”, contou aos deputados Alexandra Reis, que está a ser ouvida na CPI sobre a TAP.
Este foi o segundo caso relatado pela antiga administradora, revelador de alguma tensão com a CEO. Antes, Alexandra Reis tinha confirmado que o marido de Christine Ourmières-Widener, CEO da empresa, chegou a fazer apresentações para “vender uma solução”. Sublinhando que a CEO nunca lhe fez qualquer comentário sobre o tema, Alexandra Reis garantiu ter dado indicações à sua equipa para não se assinar “nenhum contrato” com a empresa de Floyd Murray Widener.
Segundo a lei, os gestores das empresas públicas, como a TAP, estão proibidos de celebrar contratos com familiares diretos. Certo é que o marido da CEO chegou a apresentar os seus produtos na TAP, mas Christine Ourmières-Widener, nas suas declarações na Comissão Parlamentar de Inquérito, limitou-se a dizer que não houve qualquer assinatura de contrato.
Alexandra Reis é a quarta personalidade ouvida pela comissão parlamentar de inquérito à tutela política da gestão da TAP, constituída por iniciativa do Bloco de Esquerda, depois da Inspeção-Geral de Finanças (IGF), o administrador financeiro da empresa, Gonçalo Pires, e da presidente executiva, Christine Ourmières-Widener.
Escolhida pelo ministro das Finanças, Fernando Medina, para secretária de Estado do Tesouro, Alexandra Reis protagoniza a polémica que começou no Natal, altura em que o Correio da Manhã noticiou que a então governante tinha recebido uma indemnização de cerca de 500.000 euros para sair antecipadamente da administração da TAP.
O caso levou à demissão do então ministro das Infraestruturas, Pedro Nuno Santos, e do secretário de Estado Hugo Mendes, além da própria Alexandra Reis, que esteve menos de um mês no Governo.
Alexandra Reis foi chamada pela comissão de inquérito na qualidade de ex-administradora da TAP, ex-presidente do Conselho de Administração da NAV Portugal — Navegação Aérea, para onde transitou após a saída da companhia aérea, e de ex-secretária de Estado do Tesouro.
Numa declaração escrita enviada à Lusa, em dezembro, Alexandra Reis disse que o acordo de cessação de funções “como administradora das empresas do universo TAP” e a revogação do seu “contrato de trabalho com a TAP S.A., ambas solicitadas pela TAP, bem como a sua comunicação pública, foi acordado entre as equipas jurídicas de ambas as partes, mandatadas para garantirem a adoção das melhores práticas e o estrito cumprimento de todos os preceitos legais”.
Na sequência de uma auditoria da IGF, que encontrou falhas graves no acordo de saída entre a TAP e Alexandra Reis, o Governo decidiu exonerar a presidente executiva e o presidente do Conselho de Administração, Manuel Beja, que vai ser ouvido na comissão de inquérito na próxima semana.
O Governo pediu ainda a restituição de grande parte do valor da indemnização (450.110,26 euros), que Alexandra Reis disse devolver “por vontade própria”, apesar de discordar do parecer da IGF.