Foi em 2015 que Dan Price, o CEO da Gravity Payments, empresa de processamento de cartões de crédito com sede em Seattle, nos EUA, disse aos seus empregados que ia retirar um milhão de dólares (qualquer coisa como 800 mil euros) ao seu próprio vencimento de forma a conseguir aumentar o salário mínimo da empresa para 70 mil dólares (58 mil euros) anuais. Cinco anos mais tarde, veio anunciar ao mundo que a política foi um sucesso – e a empresa está agora em vias de adotar o mesmo salário mínimo numa segunda localização, a crescer na cidade de Boise, a 80 quilómetros da sede.
Price tinha já confessado que decidira alterar a política de remuneração da empresa depois de uma conversa com a sua amiga Valerie, que estava com dificuldades em pagar as suas contas, apesar de trabalhar 50 horas por semanas e ganhar 40 mil dólares (33 mil euros), valor ainda assim acima do salário mínimo naquele país. “E explicou-me como um aumento da renda em 200 dólares estava a deixar a sua vida num caos”, contou. E aquilo não lhe saía da cabeça. “Não suportava mais a ideia de estar a liderar uma empresa que pudesse ter um terço dos seus empregados numa situação pior do que a de Valerie”. Foi quando ficou conhecido como “o melhor patrão do mundo”.
A decisão de proporcionar um salário mínimo dos tais 70 mil dólares seguiu-se a aumentos salariais anteriores. Em 2011, depois de a empresa recuperar da crise financeira dos anos anteriores, começou a dar aos empregados aumentos bem maiores. No final de 2012, os salários tinham aumentado, em média, cerca de 26 por cento. O expetável era que a margem de lucro descesse, mas contas feitas, os lucros até subiram. A sua explicação é simples: “como já não tinham de se preocupar com o pagamento de contas, puderem concentrar-se mais no trabalho.” O que descobrimos, conta agora Dan Price, citado pela Fast Company, “é que, se nos certificarmos que têm o que precisam, então revelam maior capacidade, não se distraem a pensar como fazer face às despesas”.
Negócio triplicou
Quando a Price abriu um segundo escritório em Boise, a empresa decidiu implementar a mesma política. Na cidade vizinha, o patrão da Gravity Payments adquiriu outra empresa, chamada ChargeIt Pro, onde mais de metade dos empregados ganhava menos de 30 mil dólares por ano – e, com o negócio, receavam ser despedidos. Mas Price não só os manteve, como se comprometeu a igualar-lhes o salário. “Para mim, não havia opção, porque sabíamos o que isso significava para eles”.
Inicialmente, não foi fácil. Os empregados mais bem pagos queixaram-se – argumentando que tinham tido de trabalhar mais para ganhar a mesma quantia. E até o irmão de Price, que era cofundador da empresa, se queixou por não ter sido consultado sobre a decisão. Mas, segundo garante agora, a maioria das mudanças foram positivas.
Primeiro, o negócio da empresa triplicou. Alguns empregados conseguiram comprar as suas primeiras casas. Mais de 70% dos que tinham dívidas conseguiram pagá-las. Outros assumem até estarem a conseguir comprar alimentos mais saudáveis, mesmo que mais caros.
Mas o melhor vem a seguir. Há já um punhado de outras empresas a seguir o exemplo da Gravity – como a PharmaLogics Recruiting, uma biofarmacêutica de Quincy, no Massachusetts, conta ainda a Fast Company, que aumentou o salário mínimo dos seus funcionários para 50 mil dólares – o que é igualmente um enorme aumento, tendo em conta que a média nos EUA são 15 mil – e ainda lhe acrescentou um potencial bónus de outros 20 mil. O que prova, remata Price, que “que [uma estrutura salarial mais elevada] pode funcionar e prosperar, triplicando o nosso negócio”.