Se à época, a detetive Lilly Rush (Kathryn Morris), que na série Cold Case (Casos Arquivados) passou oito anos a tentar deslindar crimes que estavam arrumados em caixas de cartão num armazém do Departamento de Polícia da Filadélfia, tivesse sabido da existência do site GEDmatch, a sua vida teria sido muito mais simples e se calhar nem se justificava a produção daquela série.
Na vida real, e oito anos após o último episódio original ter ido para o ar nos EUA, a realidade supera a ficção naquele país. Desde abril que 15 casos de homicídio e violação arquivados, porque ocorreram há mais de 20 anos, foram resolvidos com a ajuda deste site, criado por dois amigos reformados, de 67 e 80 anos.
John Olson e Curtis Rogers decidiram fazer esta plataforma de genealogia, de acesso gratuito (paga-se apenas 10 dólares para se fazer parte), para quem estivesse interessado em reconstruir a história da família ou encontrar um pai biológico, por exemplo. Tudo com base em análises de ADN feitas noutros locais. Depois de se introduzir esses dados, facilmente se encontram familiares – o GEDmatch pode ser utilizado para identificar pelo menos 60% dos americanos com ascendência europeia.
Mas não basta introduzir os dados do ADN no formato correto para encontrar criminosos que escaparam à malha da Justiça. Há que pedir ajuda a genealogistas de genética para juntar as peças, construindo a árvore da família com recurso a outras informações mais privadas. É assim que a polícia tem chegado aos homicidas e violadores a quem já tinha perdido o rasto.
O último caso foi um homem que atacou uma mulher na noite de Halloween de 1996. Os investigadores conseguiram o seu ADN, depois de analisarem a vítima, mas ele não constava dos registos policiais. Pudera: Roy Charles Waller era um especialista em segurança da Universidade da Califórnia. Mas isso só se soube agora, depois de os seus dados entrarem no GEDmatch e de, minutos depois, eles serem associados a um parente próximo. Depois, foi um ápice até chegar à pessoa certa e pô-la atrás das grades.
Os dois amigos que inventaram a plataforma, um a viver no Texas, outro na Florida, temeram que as notícias acerca destas detenções afastassem os seus clientes. Mas passou-se exatamente o contrário – depois do primeiro criminoso ser detido, chegaram a ter mais de cinco mil inscrições por dia.
Nem tudo são rosas, porém. As questões éticas, que podem classificar esta utilização como abusiva, estão a levantar algumas críticas. Por isso, em maio, os seus criadores alteraram a política de privacidade do site de acesso livre, explicitando que os dados ali depositados poderiam ser utilizados em investigações criminais. Arquivadas ou nem por isso.