O início das aulas na Escola Secundária do Restelo, em Lisboa, foi retardado em dois dias devido às obras de requalificação de alguns pavilhões que incluem a remoção de amianto.
Em vez do ano letivo ter início na segunda-feira, dia 17, como estava marcado, a comunidade escolar foi informada que apenas será no dia 19.
Esta escola é uma das várias centenas do País que tem telhas de fibrocimento, denominado amianto, um composto cuja utilização e comercialização está proibida desde 2005 devido ao perigo de inalação das partículas das fibras que o compõem. A exposição ao amianto pode causar, segundo a Organização Mundial de Saúde, várias neoplasias malignas, entre elas cancro no pulmão, cancro do ovário, cancro da laringe ou cancro do estômago.
Vários professores e funcionários da Escola Secundária do Restelo queixam-se que a remoção do amianto tem sido mal gerida. A “escola fechou dois dias, a 24 e 31 de agosto”, segundo disse à VISÃO um docente que pediu para que o seu nome não fosse publicado (assim como outros com quem falámos), mas “isto é uma questão de saúde pública”, já que nos restantes dias os professores e funcionários estiveram no recinto escolar.
O diretor do estabelecimento, Júlio Santos, defende que “não havia ninguém na escola quando foi retirado o amianto” e que, por isso, não há perigo.
As telhas de fibrocimento foram retiradas e acondicionadas em plásticos pretos (como se vê nas fotos) e permaneceram no recinto da escola até à última segunda-feira, dia 10. O espaço não esteve interditado, aliás os professores tinham mesmo de passar pelo local para se deslocarem de um pavilhão para outro. Numa dessas deslocações foram vistos “plásticos rasgados” que deixavam em exposição um “material branco”, contou um docente.
Limpezas com máscara e luvas
A alguns funcionários da limpeza foi pedido que limpassem os pavilhões depois da extração do amianto, o que fizeram usando uma máscara e luvas, soube a VISÃO através de outro docente. No entanto, as vulgares máscaras contra a gripe, que se vendem nas farmácias, “não têm qualquer eficácia contra o amianto. Têm de ser máscaras próprias que filtram o ar”, diz à VISÃO Carmen Lima, da Quercus. Além, disso, reforça, “é à empresa que faz o trabalho de remoção a quem cabe todo o trabalho de limpeza”.
O diretor da escola refuta com a hierarquia. “Não pedi a ninguém para limpar nada. Não sou eu que trato dessas coisas.”
Depois da conversa com a VISÃO, Júlio Santos voltou a ligar para a redação para dizer que, no sábado, 8, “pedi à empresa para limpar um pavilhão porque precisava dele a funcionar na segunda-feira”. Mas a empresa precisa que peçam para limpar? Perguntámos. “Pois, sabe como são as coisas… o trabalho devia estar feito e não estava e fui lá pedir”, referiu.
O receio dos professores à exposição a partículas de amianto levou a que alguns pensassem mesmo ir para as reuniões de máscara. Outros optaram por passar o menor tempo possível na escola.
Há queixas de que o diretor da escola não tranquilizou as pessoas que ali trabalham mostrando, por exemplo, um certificado que ateste a qualidade do ar.
Segundo apurou a VISÃO, Júlio Santos, perante a revolta na escola, prometeu, nos últimos dias, que iria lá um técnico para fazer a medição da qualidade do ar.
“Estas salas de aula e todos os locais onde foi retirado amianto devem ser avaliadas”, refere Carmen Lima.
De acordo com alguns professores, houve pessoas que, depois de ser retirado o fibrocimento, se sentiram mal, facto que o diretor da escola atribui a “um detergente que foi aplicado nas casas de banho”.
Dos seis pavilhões marcados para serem intervencionados ainda falta fazer a remoção de amianto a um deles, aquele onde funcionam o bar e a cantina. A obra está marcada para este sábado, dia 15.