Rui Rio já havia mostrado, no debate frente ao centrista Francisco Rodrigues dos Santos, que os liberais são uma força a levar em conta se chegar a altura de o PSD, em caso de vitória, somar lugares para ter uma maioria parlamentar. Agora, no frente a frente com João Cotrim de Figueiredo, esta segunda-feira, o líder social-democrata – que disse ter lido o programa eleitoral dos liberais – voltou a insistir nessa ideia, sendo que salvaguardou que o PSD dificilmente irá aceitar na totalidade por parte da IL os moldes das soluções que considera disruptivas para as funções do Estado e o prazo que aquela força política propõe para a sua execução.
O presidente laranja apontou que a IL se rege por uma “pressa”, que não é amiga da solução que o PSD quer para o País de forma moderada, mas mostrou querer caminhar no futuro com o partido de Cotrim de Figueiredo – que devolveu a crítica, apontando aos sociais-democratas falta de “urgência” a solucionar os problemas deixados pelos socialistas e “um ciclo de pobreza”, que já duram há 20 anos. Aliás, segundo o liberal, “Rui Rio está a tentar fazer uma campanha eleitoral prudente, tentando não desagradar a ninguém”, mas “falta um certo rasgo e ambição, a tal pressa, e a coragem que Rui Rio que já exibiu noutras fases da sua vida política”. “O PSD quer mexer na saúde, mas poucochinho, mexe nos impostos, mas poucochinho”, atirou.
UNIÃO
Rui Rio e Cotrim de Figueiredo começaram por admitir que não é nada difícil uma possível coligação pós-eleitoral, para afastar o PS do poder. Porém, foi o líder do PSD que, salientando haver “pontos de convergência”, assumiu “pontos de divergência”. Ora, onde? Essencialmente, se o diagnóstico dos problemas os une, a questão está na urgência que a Iniciativa Liberal imprime à aplicação das medidas que propõe para diversos setores, segundo Rio. Cotrim retorquiu que entende a “campanha prudente” de Rio, para “não desagradar a ninguém”, mas que só a “pressa” dos liberais pode arrancar o País da “estagnação”.
Frases:
RUI RIO
“Há muitos pontos de convergência entre o PSD e a IL mas há também pontos de divergências. E a IL, como o próprio nome indica, é liberal, e nós somos sociais-democratas. Situações completamente diferente em termos de modelo de sociedade”.
JOÃO COTRIM DE FIGUEIREDO
“Do ponto de vista dos diagnósticos coincidimos, e coincidimos muitas vezes. Mas depois não é só no caminho que divergimos, é também na falta de um sentido de urgência e pressa por parte do PSD e que me faz impressão”.
IMPOSTOS
É na área fiscal que reside um dos divisores de águas. Rui Rio, que assegurou ter lido o programa da IL, mostrou-se contra o fim do escalonamento do imposto sobre o rendimento, como a Constituição estabelece. Para o líder do PSD, a proposta que os liberais repescam do seu programa eleitoral de 2019, de 15% como taxa única, iria penalizar os contribuintes que menos recebem e abrir um “buraco no orçamental de todo o tamanho”, tendo em conta que a despesa do Estado não seria coberta pela diminuição da arrecadação “em dois passos” como Cotrim defende.
O presidente da IL contrapôs, garantido que na proposta do partido os salários mais baixos também serão encaixados em diferentes escalões, onde imperará uma taxa abaixo dos 15%, e que a “urgência” da medida se deve ao facto de cada vez mais jovens diplomado saírem do País porque são penalizados nos seus salários pelos impostos. E que essa receita permitirá um crescimentos económico. Ainda assim, mesmo frisando que também irá cortar nos impostos – a começar pelo IRC – Rio não ficou convencido com Cotrim e explicou porquê: a despesa das funções do Estado, a necessidade de diminuir o défice e pagar a dívida. Ou seja, os “serviços vão à falência e os funcionários públicos não têm aumentos”.
Frases:
RUI RIO
“Uma taxa única, com toda a gente a pagar 15%, dá um buraco orçamental de todo o tamanho e dá também uma grande injustiça, porque aquele que ganha 800 euros vai pagar 15% e o que ganha 5000 vai pagar 15% também”.
“Pretendemos [descer impostos] com moderação. Porque se fizermos isso à escala que a IL propõe é um descalabro orçamental”.
JOÃO COTRIM DE FIGUEIREDO
“Para as famílias portuguesas era muito importante dar um sinal que desde já o IRS tem de começar a dar sinais de desagravamento. E a taxa única não é uma bizarria. E o caminho para a taxa única produz salários líquidos superiores para todos os portugueses”.
PRIVATIZAÇÕES
Apenas em relação à transportadora aérea nacional houve acordo – é para privatizar; sendo que Rui Rio admitiu que, chegando ao Governo, “não pode dizer nem mais um tostão para a TAP”, porque há um plano de recapitalização aprovado por Bruxelas. Só depois de concluída a revitalização da empresa, então é possível reprivatizá-la. Já Cotrim de Figueiredo quer “privatizar tão cedo como possível” – uma receita que o liberal defende não só para a CGD, como para a RTP. Duas empresas sobre as quais o líder do PSD só admitiu saírem da esfera pública se voltarem a dar prejuízo, como no passado. Até lá, disse Rio, devem manter-se na mão do Estado, porque, por um lado, a RTP assegura vários canais (alguns dedicados à diáspora) e, por outro, a CGD “pode influenciar, do ponto de vista positivo a economia”.
Frases:
RUI RIO
“A partir do momento em que Governo já meteu na TAP perto de dois mil milhões, eu não posso dizer: nem mais um tostão. Tenho de dizer: agora é preciso capitalizar a TAP e a seguir privatizar”.
“A RTP nos últimos dois exercícios já teve lucro”.
“Uma vez que a CGD está capitalizada, equilibrada e não está a dar prejuízo aos contribuintes; antes pelo contrário, até pode dar dividendos ao Estado… [deve ser pública] Acho que um banco público faz sentido, mas não é um dogma, porque se começar dar problemas…”.
JOÃO COTRIM DE FIGUEIREDO
“Quando se tem de invocar a importância estratégica da TAP é porque já se está a ir ao bolso aos portugueses”.
“A RTP dá lucro porque também recebe 220 milhões de euros dos portugueses”.
“O banco público tem tido sucesso porque desde que foi intervencionado, de quase cinco milhões de euros, foi obrigado pela União Europeia a seguir as regras dos privados”.
FUNÇÕES DO ESTADO: SAÚDE E EDUCAÇÃO
Tanto na Saúde, como na Educação, o líder do liberal quer mais privados a participar nessas funções, explicando que há ganhos para os portugueses e para a despesa do Estado. Mais: Cotrim admite que os prestadores privados podem, eventualmente, absorver funcionários públicos – desde que estes pretendam desligar-se do Estado. Foi em relação à visão do Estado que os dois dirigentes políticos mais se distanciaram, tendo em conta que Rio apenas defendeu a “contratualização” de serviços aos privados, quando o público não consegue dar resposta – e tal política ficar-se-ia pelo Serviço Nacional de Saúde, já que quanto à Educação o social-democrata prefere uma reforma e uma melhor gestão do setor público do que apostar no pagamento a escolas privadas, como a IL quer.
Frases:
RUI RIO
“O Estado tem obrigação de prestar serviços público de Educação de qualidade. Se quero pôr os meu filhos no privado — como eu pus — então eu pago”.
“É impossível, só com o público, prestar esse serviço nos hospitais. Tendo capacidade instalada no público e privado, não tenho medo da palavra negócio, mas é quando ganham os dois”.
“O problema com essa medida é que a escola pública se degrada enquanto as pessoas optam pelas escolas privadas. A escola não tem que prestar um mau serviço; pode e deve prestar um bom serviço”.
JOÃO COTRIM DE FIGUEIREDO
“As pessoas continuam a ter o acesso universal a todas as valências que têm hoje com um custo tendencialmente gratuito, tal como hoje, mas com um melhor atendimento e com muito menos listas de espera”.
“Estes prestadores privados que possam entrar no negócio da saúde precisam de colaboradores e é natural que tal como toda a gente que decide mudar de emprego, deixa de ter um vínculo com um e passa a ter com outro”.
“O que é importante, porque está a dar cabo do elevador social, é obrigatoriedade de alguém, só porque nasceu com determinado código postal de ir para aquela escola”.
Frases do debate
RUI RIO
“Quer a IL, quer o CDS são parceiros com quem o PSD facilmente se entenderá. Mas, para isso, é preciso que eu ganhe as eleições e que a direita tenha votos suficientes, para ter 116 deputados”.
JOÃO COTRIM DE FIGUEIREDO
“Respeitando a vontade de que temos de construir algo diferente, em relação a quem nos tem gerido, com o PSD parece que conseguimos não andar muito para trás, mas não vimos aquela força e energia para chegar à frente. [O PSD] precisa da energia reformista da IL”.