Diogo Lacerda Machado recebeu mais de €200 mil e ações da Start Campus, entre setembro de 2020 e a passada terça-feira, data da sua detenção, embora, durante este período, não tenha prestado “quaisquer serviços de advocacia”, nem praticado “quaisquer atos próprios de advogado” em benefício daquela empresa, segundo consta no despacho de indiciação do Ministério Público (MP).
A 30 de setembro de 2020, Lacerda Machado assinou acordo com a Pionneer Point Partners – que entraria no capital da Start Campus no dia 19 de dezembro de 2020 – para “apresentar e representar” aquele investidor e os seus projetos junto “de parceiros públicos de relevo” em Portugal, passando a auferir €3.500 líquidos mensais, por apenas seis horas de trabalho por semana.
Como “recompensa” pelo “compromisso a longo prazo” e “alinhamento com os objetivos dos projetos em Sines”, como refere documento da Start Campus, o advogado foi premiado, apenas sete meses depois, com ações (seriam 0,5 do capital) da própria empresa, como “reconhecimento atempado do impacto positivo” que Lacerda Machado teria “no sucesso futuro” da empresa, que tem como administradores Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, dois dos cinco detidos neste processo – além de Vítor Escária e Nuno Mascarenhas, presidente da Câmara de Sines. Recorde-se que a Start Campus anunciou investir algo como €3,5 mil milhões para criar um megacentro de dados em Sines.
A relação contratual manteve-se inalterada até fevereiro de 2022, data a partir da qual Lacerda Machado teve um significativo aumento, passando a auferir €6.533,32 líquidos por mês. A investigação do MP e da PSP concluiu, então, que Lacerda Machado recebeu mais de 200 mil da Start Campus. No mesmo período, o advogado não declarou qualquer verba recebida pela sociedade de advogados BAS, na qual afirmara, publicamente, exercer funções como consultor.
Diogo Lacerda Machado foi detido na terça-feira de manhã, tal como o chefe de gabinete de António Costa, Vítor Escária, e ainda Nuno Mascarenhas, Afonso Salema e Rui Oliveira Neves, numa investigação que visou os casos dos negócios do lítio, do hidrogénio e do centro de dados em Sines, batizada como “Operação Influencer”. Nesse mesmo dia, foram ainda constituídos arguidos o ministro João Galamba e Nuno Lacasta, presidente da Agência Portuguesa do Ambiente (APA).
Conhecido como “o melhor amigo” de António Costa, Lacerda Machado é suspeito de ter usado a proximidade com o primeiro-ministro para desbloquear decisões importantes que beneficiariam a Start Campus. Durante a investigação, o nome do primeiro-ministro foi mencionado por alguns suspeitos, colocando assim Costa na mira do MP, que passou a ser alvo de um inquérito do Supremo Tribunal de Justiça (órgão competente), para apurar se o primeiro-ministro demissionário está ou não envolvido neste alegado negócio.