Quem manda tem de saber dar o exemplo e o ambiente no 32º piso do edifício-sede das Nacões Unidas, em Nova Iorque, já reflete a crise financeira da organização liderada pelo antigo primeiro-ministro português. António Guterres deu ordens para desligar ou reduzir drasticamente o ar condicionado porque é preciso poupar nas contas. As consequências de uma tal medida vieram apenas intensificar o habitual burburinho nos gabinetes do emblemático arranha-céus junto ao East River, em Manhattan, cujas escadas rolantes, no hall de entrada e nos primeiros quatro andares, raramente funcionam em condições – sim, por falta de manutenção e dinheiro.
Há muito que o pessoal da organização criada pela Carta das Nações Unidas, assinada a 26 de junho de 1945, em São Francisco, se habituou aos constrangimentos financeiros. Só que, desta vez, trata-se de uma situação crítica. Em março, António Guterres apresentou um programa especial para remodelar, modernizar, descentralizar e reduzir os custos do maior organismo multilateral do planeta, com 193 Estados-membros, intitulado Iniciativa UN80. Estas reformas e prioridades, de acordo com o secretário-geral, “não são um fim em si mesmo; pretendem servir melhor as pessoas cujas vidas dependem de nós”. Em rigor, tem razão. Do Afeganistão à Etiópia, passando pela Índia e pelo Paquistão, centenas de milhões estão reféns do apoio prestado pelos diferentes organismos e agências tutelados por António Guterres.