No momento em que Joe Biden tomou posse como Presidente dos EUA, escorreram lágrimas da cara de Jill Biden. Afinal de contas, já tinha acompanhado o seu marido em outras duas corridas a este cargo – em 1987 e 2008, Joe Biden não passou das eleições primárias do Partido Democrata – assim como em tantas outras campanhas ao Senado norte-americano, onde Joe Biden esteve durante 36 anos. As andanças da vida de Washington D.C. não são novas para a Primeira-dama dos EUA, que já foi “Segunda-dama” (mulher do Vice-Presidente) entre 2009 e 2017.
Jill e Joe conheceram-se em 1974. Joe, com 33 anos, era Senador. Jill, com 24, estava a terminar a Faculdade. Ambos já tinham sido casados – dois anos antes, a primeira mulher e a filha de Joe tinham morrido num acidente de carro, deixando-o sozinho com os dois filhos Beau e Hunter. Três anos e cinco pedidos de casamento depois de se conhecerem (contam os próprios), Joe e Jill casaram-se em 1977. No enlace, que dura há 44 anos, tiveram uma filha: Ashley Biden, que continua a acompanhar de perto a carreira política do seu progenitor.
Nascida em 1951 na cidade de Hammonton, em New Jersey, Jill Tracy Jacobs Biden conta com uma vasta experiência académica. Com um curso de Língua Inglesa da Universidade de Delaware, dois mestrados em educação e inglês na Universidade de West Chester e de Villanova, respetivamente, e um doutoramento em liderança na educação da Universidade de Delaware, Jill Biden prepara-se para ser a única Primeira-dama da história dos EUA a manter o seu trabalho enquanto exerce as funções oficiais da Casa Branca.
Durante os seus oito anos como segunda-dama, Jill Biden viajou para mais de quarenta países, onde visitou bases militares e refugiados. Em 2012, lançou o livro Don’t Forget, God Bless Our Troops (“Não te esqueças, que Deus abençoe as nossas tropas) – uma história para crianças sobre uma família com um membro que tem de partir para ir combater, inspirada em Beau Biden e o ano em que foi para o Iraque. Apesar de ter nascido no primeiro casamento de Joe, Jill tratava Beau como seu próprio filho. Quando ele morreu com um cancro do cérebro em 2015, a tragédia motivou o vice-presidente e a segunda-dama a desenvolver a iniciativa “Cancer Moonshot”, que tinha como objetivo encontrar curas para diferentes tipos de cancros. Tudo isto foi feito enquanto Jill continuava a dar aulas na Faculdade e terminava o seu doutoramento – um indício de que a nova Primeira-dama não será facilmente impedida de manter a sua atual profissão.
A decisão histórica em continuar a dar aulas
Ao longo do último ano, enquanto ajudava o seu marido na campanha presidencial, Jill Biden pediu uma licença para suspender temporariamente as suas funções na Faculdade Comunitária de Northern Virginia, a sul de Washignton. Contudo, a Primeira-dama pretende agora retomar o ensino da escrita aos seus alunos – e não pensa que acumular as duas funções seja uma decisão polémica ou particularmente marcante. “É difícil para mim pensar nesta decisão em termos históricos, uma vez que também ensinei durante os oito anos em que fui Segunda-dama”, explicou Jill Biden numa entrevista do The Late Show.
Ainda assim, não falta quem considere esta uma tomada de posição inédita. Kate Andersen Brower, autora de vários livros sobre as primeiras-damas na Casa Branca, considerou a decisão de Jill algo único na história da América. “Se já era pouco comum uma segunda-dama trabalhar, é algo sem precedentes para uma primeira-dama”, afirmou no programa Good Morning America, em dezembro, acrescentado que “sei de fontes da campanha que [Jill Biden] quer continuar a ensinar porque adora o que faz, foi a carreira que construiu para si própria, única e diferente da do marido.” Assim, Brower considerou esta uma “mudança significante para a trajetória das primeiras-damas”, enaltecendo a importância de uma mulher ter a sua própria carreira e identidade. “A ideia de que se tem de desistir de toda a vida pelo marido parece muito antiquada”, assinalou a escritora.
Também Betty Boyd Carol, autora do livro “Primeiras-damas” , disse à Voice of America que Jill Biden se encontra numa posição única. “Penso que Jill Biden vai ser muita ativa a sugerir reformas para o sistema de educação dos EUA”, afirmou a escritora norte-americana, criticando o facto de “muitas pessoas preferirem que a Primeira-dama fique calada e seja apenas vista com as suas melhores roupas.”
“Ela dedicou a sua vida à educação. Educar não é apenas o que ela faz, é quem ela é”, disse Joe Biden no seu discurso de vitória, no dia 8 de novembro de 2020. “Para todos os professores americanos, este é um grande dia. Vão ter um dos vossos na Casa Branca. A Jill vai ser uma grande Primeira-dama. Estou muito orgulhoso dela”, concluiu o novo Presidente dos EUA. Numa altura de pandemia, em que a educação de milhões de crianças é posta em causa, Jill Biden pode vir a ter um importante papel na valorização do papel de todos os professores, não só dos Estados Unidos, mas de todo o mundo – e certamente não ficará parada na Casa Branca durante quatro anos.