Pela primeira vez, desde a restauração da democracia, há um partido de extrema-direita num parlamento espanhol. Os 12 deputados eleitos pelo Vox no passado domingo, nas eleições autonómicas, para o hemiciclo regional da Andaluzia (a região com mais população em Espanha) tornaram-se os primeiros representantes do povo de um partido que é contra a imigração, o casamento entre pessoas do mesmo sexo, o aborto e que quer revogar a lei que criminaliza a violência de género.
Apesar do Vox ter ficado em quinto ligar na eleição este é apenas um pormenor. Já que é o único partido que permite ao Partido Popular e ao Ciudadanos formarem um governo regional sem as mãos dos socialistas do PSOE – que venceram as eleições, mas ficaram com 33 deputados, menos 14 do que em 2015. Os 26 parlamentares do PP e os 21 do Ciudadanos não chegam para a maioria de 55, mas se juntarem os 12 lugares que o Vox conquistou chegam. E as conversações interpartidárias já começaram, com o Ciudadanos a engolir em seco o que tinha dito durante a campanha eleitoral sobre não se juntar ao Vox.
E se a ascensão do Vox espantou tanta gente, a forma como chegaram agora ao topo foi tudo menos inocente e fruto do acaso.
Steve Bannon, o extremista de direita que foi o estratega da campanha eleitoral de Donald Trump, pôs os seus tentáculos de fora para ajudar o Vox. Rafael Bardají, um dos membros executivos do partido espanhol, conta ao El País que, “há um ano e meio [Steve Bannon] mostrou interesse em ver as nossas propostas eleitorais”.
Bannon, que na altura estava prestes a instalar o seu think tank denominado “The Movement” em Bruxelas, não por acaso, mas por ser o coração da União Europeia, e o seu objetivo é propalar as ideias anti-imigração e anti-globalização para incendiar as hostes na Europa, ofereceu ajuda tecnológica para que a mensagem da Vox fosse devidamente passada nas redes sociais, dispôs-se a tentar novas formas de comunicação de massas e queria fazer “uma campanha eleitoral ao estilo americano”.
E porquê Espanha e este partido em particular? Porque o ideólogo de Trump quer, segundo Bardají, “ajudar os partidos com que se identifica”. Marine Le Pen, da extrema-direita francesa Frente Nacional, foi, por exemplo, a primeira a parabenizar “os amigos” dos Vox no domingo. Mas também chegaram mensagens de felicitações de Matteo Salvini do La Liga italiana e de David Duke, o simpatizante nazi e um dos membros fundadores de um braço fortíssimo do Ku Klux Klan.
E o que têm, afinal, em comum Trump, Bannon, Le Pen e o Vox? Se Trump grita “America First” (“América primeiro”), o Vox imita com “Espanhóis primeiro”. “Para Trump é-lhe indiferente o que dizem sobre ele e a nós também”, conta Bardají. “Chamam-nos fascistas. E então?”, diz. Já sobre Le Pen, o membro do Vox refere que não gosta de um certo “estatismo”, mas que a ideologia básica da anti-imigração e da anti-islamização social é partilhada.
E se Trump quer construir um muro na fronteira mexicana para travar a imigração ilegal, o líder do Vox, Santiago Abascal, 42 anos – até 2013, militante do PP, altura em que saiu e fundou o Vox – quer construir um entre Ceuta e Melilla com o mesmo fim.
Este partido de extrema-direita espanhol espalha a mensagem de que a imigração, a criminalidade e a religião andam de mãos dadas. Ou seja, para haver imigração “tem de ser a que Espanha quiser”, diz o Vox, e se “é para receber refugiados que sejam de religião cristã e não muçulmana”.