Os ecos do vídeo em que o presidente francês, Emmanuel Macron, surge a repreender um adolescente que o tratou pelo seu diminutivo (Manu) com a resposta em forma de lição de moral – “A mim chamas-me senhor presidente da República ou senhor” – fizeram soar outras campainhas.
A revista francesa Le Nouvel Observateur chama-lhe Macronsplaining, uma derivação da palavra inglesa mansplaining (junção de man, homem, e explaining, explicar) que quer dizer comentar ou explicar algo a uma mulher de uma maneira condescendente, excessivamente confiante e, muitas vezes, de forma simplista.
A revista francesa foi buscar vários exemplos em que Macron faz mais ou menos o mesmo, utilizando sempre o truque de ter as câmaras por perto.
A receita deste Macronsplaining, relata, é relativamente simples: uma visita em que haja contacto com a população, um diálogo com um anónimo que propicia ao presidente a oportunidade, junto às câmaras da televisões, de apresentar em poucas palavras e de forma dramática, a sua visão política sobre um determinado problema.
Em abril de 2017, perante uma manifestação dos trabalhadores da Whirlpool contra a deslocalização da empresa para a Polónia, Macron, que haveria dito que, ao contrário de François Hollande, jamais faria promessas perante um piquete de greve, pega num megafone para falar. Como a sua voz não tem o alcance desejado perante a multidão, chama alguns sindicalistsa e a sua própria equipa de vídeo da campanha eleitoral e vão para mais longe. Macron diz, e o vídeo será visto 600 mil vezes: “A resposta não pode ser suprimir a globalização, nem é fechar as fronteiras”.
Perante os funcionários de uma fábrica de componentes automóveis, em junho de 2017, Macron, com as câmaras ao lado, dirige-se a uma mulher que lhe pede que faça “qualquer coisa de concreto”. A reposta foi: “Mas minha senhora, eu não sou o Pai Natal”.
Uns meses mais tarde, em novembro, nova situação, desta vez com uma imigrante marroquina. Perante às câmara de TV, Emmanuul Macron responde à mulher que pede asilo. “Não posso mentir: em França protegeremos todas as pessoas que buscam asilo e que não estão seguras em casa”, explicou. “Mas não podemos acolher todas as pessoas que vêm com vistos de negócios ou de estudante e que, depois, ficam […] Depois têm de voltar para os seus países, digo-lhe sinceramente. Nós tratamos as pessoas quando elas estão doentes. […] Não posso dar papéis a todas as pessoas que os não têm, caso contrário, como faço com pessoas que já cá estão e não encontram trabalho. Se você não está em perigo no seu país tem que voltar: em Marrocos você não está em perigo!”
A última frase faz as manchetes no dia seguinte. A a nova lei de imigração e asilo saiu apenas umas semanas depois.