As organizações não governamentais contabilizam uma média de 3 a 4 pessoas desaparecidas às mãos das autoridades egípcias desde 2015. Algumas delas (pelo menos cinco) são crianças. Como Mazen Mohamed Abdallah, de 14 anos, que foi repetidamente violado e sujeito a choques elétricos para confessar a sua ligação a grupos da oposição.
Aser Mohamed, com a mesma idade, além de sujeito a tortura esteve desaparecido durante 34 dias. Uma vez perante o juiz foi avisado de que seria novamente sujeito a choques elétricos se retirasse a confissão que lhe foi arrancada sob tortura.
Casos como este levaram a Amnistia Internacional a denunciar aquilo a que chamou “Egito. Oficialmente não existes: desaparecidos e torturados em nome do contra-terrorismo”.
No documento, a Amnistia denuncia o desaparecimento de cidadãos que vão de alguns dias a sete meses, sem acesso a advogado ou às famílias. Sempre com a desculpa do combate ao terrorismo: “Este relatório revela as táticas chocantes e impiedosas usadas pelas autoridades egípcias para aterrorizar os dissidentes”, disse Philip Luther, diretor do Programa para o Médio Oriente e Norte de África.
No relatório divulgado hoje, 13, a Amnistia acusa a polícia de fazer da estratégia do terror o seu funcionamento permanente. Embora a Agência Nacional de Segurança negue a existência destes desaparecimentos forçados, a Amnistia acredita que o documento agora divulgado não deixa margem para dúvidas sobre a violação sistemática dos Direitos Humanos em território egípcio. Este comportamento terá levado ao desaparecimento de centenas de estudantes, ativistas políticos e opositores.
Mas os casos agora tornados públicos podem ser apenas a ponta do iceberg. Até porque as autoridades se recusam a investigar muitas das queixas de desaparecimento apresentadas pelas famílias.
A organização internacional aponta a chegada ao Ministério do Interior, em Março de 2015, de Magdy Abd el-Ghaffar como o marco para esta política de terror por parte das autoridades.
A Amnistia insta o presidente do Egito, Abdel Fattah al-Sisi, a parar com as detenções forçadas e apela à pressão da comunidade internacional.
Estima-se que haja centenas de detidos em Lazoughly, local referido pela maioria dos detidos, localizado dentro da sede do ministério, perto da Praça Tahrir, onde, em 2011, se chegou a acreditar que a democracia era possível no Egito.
Acabou aí a era Hosni Mubarak. Mas não os métodos da ditadura.