Anunciado pelo então ministro da Cultura, Pedro Adão e Silva, em 2022, o Museu de Arte Contemporânea/Centro Cultural de Belém carregava o peso de décadas de promessas e mal-entendidos. Afinal, Lisboa, campeã recente nas estatísticas do turismo global e histórica capital europeia com vistas atlânticas, nunca tinha tido um grande museu de arte contemporânea internacional, hoje obrigatório polo de atração em qualquer grande ou mesmo média cidade, um pouco por todo o mundo. Isso não significa que não houvesse arte moderna e contemporânea, e de qualidade, em museus. Aliás, até data de 1911 a abertura de um museu Nacional de Arte Contemporânea, em pleno Chiado. Mas ele acabaria por ser símbolo do País desfasado com a contemporaneidade que Portugal foi durante grande parte do século XX, transformando-se, mesmo, num instrumento de extremo conservadorismo nas décadas de 50 e 60, fechado a tudo o que cheirasse a “arte moderna.” Fechou, decadente, em 1988 e reabriu em 1994, afirmando-se como um espaço para arte contemporânea portuguesa, mas lutando sistematicamente com orçamentos insuficientes. E havia a Gulbenkian, claro, que em 1984 abria o seu Centro de Arte Moderna, também focado sobretudo em artistas portugueses, dando-lhes um lugar que nunca antes tinham tido.
É este o museu de que Lisboa precisava?
É este o museu de que Lisboa precisava?
Com a exposição permanente Uma Deriva Atlântica, que abriu portas na quinta-feira, 27, no Museu de Arte Contemporânea/Centro Cultural de Belém, compreende-se melhor a ambição deste lugar, que ainda vive muito da força da coleção Berardo, mas, ao mesmo tempo, se liberta do seu “cânone”