“Desde que o Almirante anunciou que os incentivos [para avançar com uma candidatura presidencial] têm sido maiores”, dizia à VISÃO uma fonte próxima de António José Seguro horas antes de o ex-secretário-geral do PS anunciar que é candidato à Presidência da República. Quem está com Seguro garante que o telefone não tem parado, com mensagens e telefonemas, de gente de dentro e de fora do PS.
António José Seguro tinha deixado muito claro aos que estão com ele que a sua candidatura não estaria dependente de outros candidatos nem do apoio do PS. Avançaria caso entendesse que estava em condições de o fazer.
Depois de ter prometido ao pivot do seu espaço de comentário na CNN, João Póvoa Marinheiro, que lhe daria a cacha da candidatura, o natural era que o anúncio tivesse feito no programa que tem nesse canal nas quintas-feiras à noite. Por isso e por ter dito em antena que anunciaria a sua decisão naquele espaço entre o final da primavera e o início do verão, jornais como o Público e o Eco deram como certo que o tabu seria desfeito esta quinta-feira.
Porquê esta terça-feira?
António José Seguro não quis, porém, deixar passar em branco o arranque da nova legislatura. No dia em que a Assembleia da República tomou posse, Seguro percebeu que as datas tinham de coincidir. Afinal, vê na sua candidatura uma espécie de resposta do espaço progressista moderado ao crescimento da direita, que agora ocupa – pela primeira vez na História da democracia – dois terços do hemiciclo.
“Este é o momento para derrotarmos o medo e erguermos a esperança. Este é o momento em que cada um de nós pode fazer a diferença. Portugal é a nossa causa. Aqui estou a dar o exemplo, com coragem e determinação”, disse num vídeo enviado à CNN, feito para ser partilhado nas redes sociais.
O dia em que avançou foi exatamente aquele em que Luís Marques Mendes apresentava a sua Comissão de Honra, em Lisboa, com nomes como Manuela Eanes e Alice Vieira. E esse foi um tiro a Marques Mendes, mas a mensagem que deixou no vídeo tem outros recados a Mendes e a Gouveia e Melo. Mesmo tendo crescido na JS e sido líder partidário, os dez anos que passou em silêncio e fora da política servem-lhe agora de medalha no campeonato dos que estão mais fora do sistema em que se tornou a vida política nacional nos últimos meses.
O que une e afasta Seguro de Mendes e Gouveia e Melo
“As pessoas estão fartas de promessas vazias, jogos partidários e discursos que nada resolvem. Eu não venho da política tradicional. Venho com vontade de servir Portugal com seriedade, independência e ação. Sou livre. Vivo sem amarras”, sublinhou, frisando a ligação ao interior – onde tem um projeto de turismo, vinho e azeite – e a preparação que tem para esta corrida a Belém.
“Nasci no interior. Vivo no centro. Conheço o país real. Conheço a Europa. Sei o que está em jogo e sei como defender Portugal com firmeza e respeito. Não preciso de aprender no cargo. Chego preparado”. Ou seja, Seguro não tem nem o lado palaciano de Mendes nem a falta de preparação política de Gouveia e Melo. É isso que está nas entrelinhas.
Quanto ao programa político e fora a enunciação de ter “outra visão de Portugal, progressista, diferente das candidaturas conservadoras já anunciadas”, o discurso poderia facilmente ser assinado tanto por Marques Mendes como por Gouveia e Melo.
Seguro quer “um país de excelência onde o progresso económico anda de mãos dadas com a justiça social; em segurança e igualdade de oportunidades para todos; onde nascer pobre não seja uma sentença e onde viver com dignidade não dependa da conta bancária. Um país onde o futuro não emigra”. Ou seja, algo muito próximo do que têm dito os outros dois candidatos já conhecidos.
Na quinta-feira, António José Seguro vai à CNN para se despedir do seu espaço de comentário, só depois fará uma apresentação formal da sua candidatura, em espaço e data ainda a definir.
O que ainda não é claro é como reagirá o PS a esta candidatura. Os sinais que vêm das cúpulas socialistas não são de grande entusiasmo com Seguro. António Vitorino é o desejado e espera-se agora que diga, finalmente, se será ou não candidato.
O que está definido, em Comissão Nacional, é que o PS deve aguardar pela apresentação de candidaturas para depois deliberar o apoio, numa nova reunião desse órgão.