Voz das bandas Sean Riley & The Slowriders e Keep Razors Sharp, Afonso Rodrigues acabou de lançar o registo de estreia em nome próprio, “um álbum de indagações, autodescoberta e nostalgia”, que tem como novidade o facto de ser totalmente escrito e cantado em português.
A ideia começou a tomar forma durante os confinamentos, mas foi só depois de uma viagem ao continente africano, já em 2022, que Afonso decidiu transformar os seus escritos em música, finalmente materializada neste disco, inspirado pelas imagens, realizações e memórias do seu autor.
Agora, é tempo de a apresentar ao vivo, primeiro em Lisboa (já nesta sexta, 7, e no sábado, 8), depois no Porto, a 15, e ainda em Leiria, sua cidade natal, a 21, num concerto integrado no festival Clap Your Hands. A VISÃO falou com Afonso Rodrigues.
Como é que surge o português nas suas canções e porquê agora?
Escrever em português é um desejo antigo, praticamente tão antigo como as primeiras canções em inglês. Foi preciso encontrar tempo, inspiração e uma “voz” que sentisse que tinha algum interesse e verdade para mim. Estes fatores começaram a alinhar-se no início de 2020 e desde então, nos bastidores, tenho estado a trabalhar de forma mais ou menos regular no que viria a ser este disco.
O que é que o português lhe permite dizer que o inglês não permitia?
É uma pergunta interessante… Penso que o inglês permite dizer tudo o que se possa querer dizer em português. Acho é que a mesma ideia, imagem, o mesmo sentimento, emoção, o que for, é “traduzido” de uma forma muito diferente pelas palavras. Tudo é diferente: métrica, musicalidade, exposição, profundidade, tudo. Uma das razões pelas quais tenho estado tão interessado em escrever em português é precisamente essa. É tudo diferente e novo, requer aprendizagem e reflexão, e estar perante esse desafio é excitante.
Como é que o processo de composição mudou a partir do momento em que começou a pensar a música noutro idioma?
O que mudou imediatamente foi ter de encontrar o meu lugar na escrita em português. Essa procura ou interrogação já não acontecia na escrita em inglês há muito tempo. Foi preciso encontrar primeiro o caminho por onde queria ir antes de poder trilhá-lo. No início, houve uma preocupação consciente em analisar o que estava a fazer, se isso fazia ou não sentido para mim. Nesse aspeto, a composição partiu logo de um sítio muito diferente em comparação com outros discos que tenho feito.
Foi por isso que assinou o disco com o seu nome verdadeiro e não através de um alter ego ou de uma banda?
Na criação deste disco esteve sempre presente uma ideia de apresentar a minha música de uma forma mais despida. Sem bandas, sem alter egos, sem línguas estrangeiras. De certa forma, sem muitos ornamentos nem maquilhagem. À medida que ia somando canções, e tendo cada vez mais uma noção clara do que iria ser o álbum, mais me fazia sentido a ideia de que só poderia apresentá-lo em meu nome.
Como vai ser este espetáculo, apenas centrado no novo disco ou haverá tempo e espaço para visitar outros momentos da sua carreira?
O espetáculo vai ser a apresentação deste disco, com a inclusão de alguns originais inéditos e versões de canções em português de que gosto. Nunca me fez sentido misturar repertório dos meus outros projetos ou discos cantados em inglês. Isto é uma coisa totalmente diferente, que tem vida própria, e que, pelo menos para mim, não faz sentido misturar com nada do que fiz antes.
Teatro da Garagem > Costa do Castelo, 75, Lisboa > 7-8 mar, sex-sáb 21h > €10,70 a €16,05 > Passos Manuel > R. de Passos Manuel, 137, Porto > 15 mar, sáb 21h > €15 > Teatro Miguel Franco > R. Dr. Correia Mateus, Leiria > 21 mar, sex 21h > €8,05