Há filmes que não escondem ao que vêm, nem as suas influências. Na sequência de abertura, ainda antes do genérico, Águas Perigosas revela-se por completo. Ao fixar uma ligação direta a O Tubarão, de Steven Spielberg, promete muito suspense e uma história de sobrevivência digna de um conto moral. Mais: ao oferecer, desde o início, as coordenadas do que se vai ver, o filme procura libertar-se de todas as exigências de originalidade, força de argumento e surpresa, para se afirmar apenas como imagem e cinema.
Com vontade de passar algum tempo sozinha (desejo que será verdadeiramente cumprido), Nancy viaja até à praia secreta e paradisíaca que a sua mãe descobriu quando soube que estava grávida. Grávida de Nancy, claro. E assim se unem duas gerações num mesmo drama sentimental. Apesar de vencida pela doença, a sua mãe lutou até ao fim. Será ela capaz de seguir o exemplo? Um tubarão encarregar-se-á de testar os seus limites. Surfista de bons créditos, Nancy (interpretada por uma empenhada Blake Lively, a Serena da série Gossip Girl) lança- -se ao mar com uma prancha, um biquíni e meio fato isotérmico. Mas como o paraíso vive paredes-meias com o inferno, uma dentada de tubarão mancha a última onda do dia, atirando Nancy para um pequeno rochedo, onde terá de encontrar uma solução para a sua fatalidade.
Águas Perigosas é visualmente apelativo e sedutor. Sem uma banda sonora equiparável à de John Williams (responsável, em parte, pelo sucesso de O Tubarão), tem um ritmo marcado e eficaz, ajudado, também, pela curta duração do filme. Só não tem tragédia, já que tudo se desfaz num simples (mas conseguido) exercício de estilo.
Águas Perigosas > de Jaume Collet-Serra, com Blake Lively, Óscar Jaenada, Angelo José Lozano Corzo e José Manuel Trujillo > 86 min