A fragilidade humana é proporcional ao portento artístico. Ao longo de uma hora e 40 minutos nunca nos desligamos do som da música em detrimento da imagem. No drama e no recato do preto-e-branco, sem público a assistir, há luz, há sombras, há reflexos, há movimentos, há um homem, as suas mãos e o piano, no registo mais íntimo de músico e instrumento.
Ryuichi Sakamoto: Opus é um verdadeiro best of do legado do compositor japonês que morreu em março de 2023, aos 71 anos, na sequência de um cancro, precisamente um ano antes da estreia do filme nos cinemas. Foram sete dias de gravações, em setembro de 2022, no estúdio 509 do edifício em Tóquio da NHK, rádio pública japonesa.
São 20 temas, tocados em duas a três peças por sessão, sem faltarem temas de bandas sonoras de filmes como Feliz Natal, Mr. Lawrence (1983), de Nagisa Oshima, O Último Imperador (1987) e Um Chá no Deserto (1990), ambos de Bernardo Bertolucci, e O Monte dos Vendavais (1992), de Peter Kosminsky. “Depois [da rodagem], senti-me completamente vazio e o meu estado de saúde piorou durante cerca de um mês. Mesmo assim, sinto-me aliviado por ter conseguido gravar, antes da minha morte, uma atuação que me deixou satisfeito”, escreveu Sakamoto.
Atrás da câmara estava Neo Sora, 33 anos, realizador e filho de Ryuichi Sakamoto, com a sua última companheira, Norika Sora, também sua agente. Com Bill Kirstein, diretor de fotografia, Neo pensou numa iluminação que representasse as mudanças de luz ao longo do dia, levando ao reajuste do alinhamento para que os temas se encaixassem melhor.
Perfecionista, Ryuichi Sakamoto vai duvidar, procurar as notas certas e fazer uma pausa em Bibo no Aozora (1995), numa secção em que costumava improvisar. Na pós-produção, o músico escolheu todos os takes que considerou melhores, exceto nessa canção, em que fez questão de incluir o erro, a hesitação. No final, a luz do candeeiro não se apaga e nós continuaremos sempre numa plateia imaginária.
Ryuichi Sakamoto: Opus > TVCine Edition > Estreou 13 set, sex 22h > 98 min