Aproveitou os próprios erros, sem se deixar perturbar, e tornou-se um ícone televisivo dos anos 60 e 70 do século passado. As suas receitas de bife bourguignon, sopa de cebola francesa e coq au vin ainda hoje são referências na gastronomia mundial.
Julia Child (1912-2004) despertou para a gastronomia após uma temporada em França, a acompanhar o seu marido, Paul, diplomata – num casamento de quase 50 anos –, e aí frequentou aulas na escola de culinária Le Cordon Bleu. A nova série Julia, criada por Daniel Goldfarb (The Marvelous Mrs. Maisel), começa em 1961, com o casal a desfrutar de um jantar comemorativo depois de Julia saber que o seu livro Mastering the Art of French Cooking será publicado.
A primeira vez que David Hyde Pierce (Frasier), ator que interpreta Paul, assistiu à britânica Sarah Lancashire a dar corpo a Julia Child, as câmaras filmavam enquanto ela partia os ovos com as duas mãos ao mesmo tempo. Depois, virou a omeleta de uma vez e deslizou-a para um prato, sem qualquer auxiliar. Era como se a atriz tivesse feito isso a vida toda.
Há 13 anos, na comédia de Nora Ephron, Meryl Streep já tinha interpretado a cozinheira nascida na Califórnia que abriu caminho à mediatização da culinária no programa The French Chef. Foram 206 episódios, transmitidos durante uma década, entre 1963 e 1973, do primeiro programa de culinária a passar na televisão norte-americana. A sua simplicidade despretensiosa, apesar de uma certa postura exuberante e bem-humorada, e o tom de voz passível de caricatura sempre que se despedia com um forte bon appétit foram responsáveis pela democratização da cuisine française entre as donas de casa americanas. Sinónimo de modernidade numa era em que o feminismo ganhava palco e, no caso de Julia Child, também muito sabor.
Julia > HBO > 31 mar, qui > 8 episódios