Partimos da vila do Gerês num dos sete jipes da Geresmont, empresa de desporto de aventura de Terras de Bouro, em passeio pelo único parque nacional português: o da Peneda-Gerês. Também nestas viagens turísticas guiadas (a partir de €25/pessoa), que podem durar quatro horas, as regras mudaram devido à pandemia: limitação de passageiros a uma ou duas pessoas (só leva quatro no caso de se tratar de uma família), desinfeção das mãos sempre que se entra ou sai da viatura, uso obrigatório de máscara e janelas abertas. Nada que nos impeça, porém, de apreciar a Natureza em estado puro que vamos encontrando pelos 70 mil hectares de área protegida, dos quais percorreremos uma pequena parte deste parque nacional com entrada por outros quatro concelhos: Arcos de Valdevez, Melgaço, Montalegre e Ponte da Barca.
É Daniel Gonçalves, 26 anos, nascido e criado na vila do Gerês, com mestrado em Desporto de Natureza e “bezeiro” nas horas vagas – o termo significa a guarda dos animais à vez, na serra, e ele é dono de duas vacas barrosãs –, quem nos serve de guia e descreve o que os olhos veem. Entramos na Mata da Albergaria pela Portela de Leonte, onde, durante o verão, tem de se pagar €1,50 por veículo, forma encontrada pelo ICNF – Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas para limitar o acesso a este bosque impressionante, com um carvalhal riquíssimo. Para proteger flora e fauna (mais de 200 espécies protegidas…), é proibido parar ou estacionar o carro, e a viagem não deve ser feita a uma velocidade superior a 40 km/hora. Daí que, dir-nos-á Sandra Sarmento, diretora regional do Norte do ICNF, tivessem sido “reforçadas as equipas de vigilância da Natureza para o verão”, que se irão juntar aos 50 agentes florestais e aos 19 vigilantes que cuidam do parque em permanência ao longo de todo o ano.
CAVALOS SELVAGENS E CORSOS
O carvalhal secular que nos acompanha é uma lufada de ar imaculado a purificar os pulmões. “Se viermos cedinho, pela manhã, podemos encontrar cavalos selvagens [os garranos] aqui à beira da estrada; o javali e o corso também aparecem de vez em quando [o corso é o Capreolus capreolus, o emblema do Parque]”, conta-nos Daniel. Mais à frente, da ponte do rio Homem, observam-se os banhistas que galgaram as pedras ziguezagueando abaixo e se refrescam numa das muitas lagoas e cascatas do Gerês – de uma beleza incrível, mas algumas de difícil acesso. Para aqui chegarem, tiveram de caminhar a pé desde a Portela do Homem (faz fronteira com Espanha, onde o parque se junta ao Baixa Limia-Serra do Xurés), já que é o único sítio onde é permitido estacionar o carro. E, sorte a nossa, por ali encontraremos, finalmente, os bonitos garranos a galoparem livres com os seus potros, entre Portugal e Espanha, sem barreiras.
Seguimos caminho, ainda pela Mata da Albergaria, mas agora por terra batida (valha-nos o jipe todo-o-terreno!). Entre solavancos, haveremos de continuar a maravilhar-nos com a paisagem e o imenso lago azul que avistamos à passagem pela barragem de Vilarinho das Furnas. “Quando o caudal está baixinho, consegue-se ver as casas que ficaram submersas”, lembra-nos o guia, sobre a antiga aldeia de Vilarinho das Furnas, que foi despovoada no final dos anos 60 devido à construção da barragem. Atravessamos a freguesia de Campo do Gerês (pelo meio, paragem forçada na estrada para deixar passar “umas 300 cabras que foram à procura de pasto”, esclarece Daniel) e seguimos para o almoço/piquenique que a Geresmont tem preparado no Miradouro da Junceda (a pedido, a mesa pode ser posta noutro local). E que repasto nos preparou o restaurante Vai Vai Gerês! Sopa do pote à moda antiga (leva presunto, massa, couves, batata, bacon), salgados, pataniscas, bolo de laranja, morangos, cerejas de Resende … À sombra, com o Gerês ao fundo. Tudo feito à moda da avó Gusta, a matriarca do restaurante da vila.
“O Gerês tem muito para ver. Ninguém se cansa, há coisas diferentes para mostrar todos os dias”, já nos tinha avisado Miguel Teixeira, ex-professor de Educação Física, que criou, há 14 anos, esta empresa de desportos de aventura. Na viagem de regresso, o jipe atravessa pelas Cascatas de Fecha de Barjas (de acesso difícil, mas há quem lhes chame cascatas do Taiti, tamanha é a sua beleza) e segue para a aldeia serrana de Ermida, onde a Cascata do Arado e o Miradouro da Pedra Bela são os maiores atrativos. Do miradouro, tem-se uma bonita vista do serpentear da barragem da Caniçada e da serra do Gerês. Ali, confirmamos todo o sentido do poema Pátria, de Miguel Torga, neste verso que terá sido escrito aqui mesmo: Serra! / e qualquer coisa dentro de mim se acalma …/ Qualquer coisa profunda e dolorida/ Traída /Feita de terra / e alma. E entendemos, por fim, a paixão nutrida por esta zona pelo nosso jovem guia, confessada logo no início desta viagem: “Por dinheiro nenhum trocaria isto pela cidade.”
GUIA DE VIAGEM
SAIR
Gerês Mont
Além de passeios de jipe, a empresa organiza percursos pedestres, canoagem, canyoning, passeios a cavalo, kart cross, caminhadas aquáticas. Av. Manuel Francisco da Costa, Vilar da Veiga > T. 253 391 360 / 91 961 7773 / 93 482 9670 / 96 679 3234
COMER
O Abocanhado
Cabrito assado no forno, pá de veado/javali estufada com arroz de carqueja, posta à Abocanhado e bacalhau com migas são algumas especialidades. Lugar de Brufe, Terras de Bouro > T. 253 352 944/91 117 3517 > seg-dom 12h15-15h30-19h30-22h
Vai Vai Gerês > R. Augusto Sérgio Almeida Maia, 1, Gerês > T. 253 728 828 > seg-dom 8h-24h
Petiscos da Bó Gusta > R. Augusto Sérgio Almeida Maia, 2, Gerês > T. 91 974 3939 > seg-dom 12h-23h
DORMIR
Hotel Águas do Gerês Av. Manuel Francisco da Costa, 136, Caldas do Gerês, Terras de Bouro > T. 253 390 190 > a partir de €55
Parque de Cerdeira
Alojamento de turismo da natureza em bungalows de madeira (equipados com quarto e cozinha, cabanas, tenda nas árvores e zona de campismo e caravanismo. R. de Cerdeira, Campo Gerês > T. 253 351 005 > bungalows a partir €60, cabanas a partir €55