Já escrevia o Manuel António Pina que as coisas melhores são feitas no ar, como andar nas nuvens e devanear. Que só é preciso abrir os olhos e olhar. Conhecer e apaixonarmo-nos por uma cidade passa muito por isso, aprende-se com o tempo. Passa por andarmos por aí, às vezes a fingir que perdidos, sim, mas na verdade sempre de olho.
Caminhar sem ver nas Avenidas Novas pouco mais devolverá que trânsito e gruas por estes dias. É preciso levantar o nariz e reparar nos pormenores que valem a pena, como as fachadas onde ainda sobrevivem elementos decorativos Arte Nova ou baixos-relevos dos anos 40.
E eles até calham estar a poucos metros uns dos outros, como os destas fotografias. A cabeça de mulher pode ser vista na Rua Latino Coelho e a braçada de trigo com pombas numa transversal, a Rua Dr. António Cândido. Mesmo quando vão acompanhados de um emaranhado de fios, tem razão o poeta: para darmos pela sua beleza basta-nos andar de cabeça no ar e respirar.