A chegada às livrarias da tradução portuguesa da biografia de Richard Zenith dedicada a Fernando Pessoa (o original, em inglês, saiu em 2021) é um acontecimento literário de primeira ordem. O lançamento de Pessoa, uma Biografia acontece esta quinta-feira, 19, às 18h45, na Fundação Gulbenkian com apresentação de António Feijó e uma conversa entre o autor e Anabela Mota Ribeiro; no Porto também está marcado um lançamento: a 28 de maio, na Biblioteca Almeida Garrett, com Sérgio Almeida à conversa com Richard Zenith. Desde 1950, data do volume biográfico do crítico João Gaspar Simões, que não havia uma tão ambiciosa tentativa de percorrer os labirintos da vida do poeta que morreu em Lisboa em 1935, aos 47 anos.
Esse livro, com mais de 70 anos, fez perdurar uma certa imagem de Pessoa (como uma espécie de “escritor maldito”, sempre miserável) que, de algum modo, é agora redesenhada. Zenith considera que a vasta e dispersa obra de Fernando Pessoa foi a sua principal fonte de informação (com consciência do risco de ver material autobiográfico em todos esses escritos), mas teve também acesso, por exemplo, a cartas de familiares do poeta nunca antes exploradas; teve, sobretudo, o tempo, as ferramentas e os materiais certos para compor este gigantesco puzzle que segue, por ordem cronológica, uma vida reservada e tantas vezes misteriosa. Há revelações, como a do primeiro poema que Fernando Pessoa publicou em inglês: The Miner’s Song (assinado por um heterónimo nas páginas do jornal sul-africano The Natal Mercury, para onde tinha sido enviado por um outro heterónimo…).
Qualquer leitor com um mínimo de interesse em Pessoa percorre as quase 1 200 páginas deste trabalho notável e exaustivo com prazer. Mostrando como o biografado é complexo, este calhamaço começa com uma apresentação de dramatis personae, onde se apresentam os vários heterónimos e autores inventados por Pessoa. Fica o aviso: vamos entrar na vida de alguém que era, por si, um palco para as vidas de muitos outros. — Quetzal, 1 184 págs., €29,90