Em linguagem corrente, que dispensa preciosismos e rigores técnicos, pode dizer-se que o vinho clarete está entre o rosé e o tinto, em princípio com mais personalidade do que o primeiro e menos estrutura do que o segundo. Mas o clarete não tem natureza específica que permita classificá-lo autonomamente, nem sequer como tertium genus: é vinho tinto, simplesmente, com direito a menção que resulta da cor pouco intensa e do teor alcoólico relativamente reduzido que o caracterizam, conforme, de resto, manda a lei.
Propomos a prova de um bom clarete que o enólogo Márcio Lopes criou com uvas de castas nativas do Douro, de uma vinha com cerca de 60 anos: o Proibido Clarete 2021. Tal como na primeira edição, em 2019 – e como sucede com todos os vinhos Proibido e Permitido –, a elaboração do vinho obedece ao princípio de intervenção mínima, para que corresponda, tanto quanto possível, ao que a vinha dá. Esta prova leva-nos ao Douro e às suas castas autóctones.
Também no Douro, a Montez Champalimaud comemora, neste ano, o centésimo aniversário da sua fundação e faz prova de vitalidade com a apresentação de vinhos modernos, bem-feitos e apetecíveis, como são os DOC Douro da Quinta do Côtto e os DOC Vinho Verde do Paço de Teixeiró. Tome-se o Quinta do Côtto Rosé 2021, vinho elegante e jovial, à semelhança da casa centenária que o fez.
Temos, ainda, um tinto de bom gabarito: Talhas de Borba, Vinho de Talha, Tinto 2021. É um vinho diferente, produzido em talhas de barro, num processo que veio dos romanos, criou raízes no Alentejo, andou esquecido, ressurgiu nas últimas décadas e até virou moda. Não é apenas diferente, é mesmo bom, se for bem feito, como este tinto da Adega de Borba com o seu perfil tradicional, um tanto rústico mas com aromas e sabores a lembrar a terra, as flores e os frutos do seu lugar de origem e a ressumar frescura.
Proibido Clarete DOC Douro Tinto 2021
Lote de castas tradicionais do Douro – de vinhas velhas, uma das quais com cerca de 60 anos –, com pisa a pé, em lagar, e fermentação em barricas usadas, em que estagia por seis meses. Tem cor rubi, aberta, aroma atraente a frutos vermelhos com interessantes notas vegetais, paladar guloso com estrutura, corpo, fruta e frescura em bom equilíbrio. Gastronomicamente versátil. €13,50
Quinta do Côtto DOC Douro Rosé 2021
Produzido com as castas Touriga-Nacional e Tinta-Roriz, com fermentação em cuba de inox e estágio de quatro meses, em depósito, até ser engarrafado. Brilhante cor rosa-salmão, aroma limpo com boas notas de frutos vermelhos, paladar muito leve e fresco, com textura elegante, baixo teor alcoólico (11,5%) e alta acidez, a prometer bom desempenho à mesa. €8,50
Talhas de Borba Vinho de Talha DOC Alentejo Tinto 2021
De uvas das castas Trincadeira, Castelão e Alicante Bouschet, fermentou em talha de barro, em que permaneceu em contacto com a “mãe” (grainhas e películas) até ao dia de São Martinho, condição sine qua non para ser DOP Alentejo. Tem cor granada-viva, aroma a frutos vermelhos com um toque floral, paladar macio, cheio de frescura, persistente e muito agradável. Também muito de gastronómico. €6,50