Doçaria muito apelativa de inspiração tradicional, também fiel ao conceito de portugalidade e também em constante mudança
Lucília Monteiro
O Paparico surpreende-nos sempre, desta vez mais do que na anterior e amanhã mais do que hoje, seguramente. Instalado na Costa Cabral – rua que se distingue apenas pela sua enorme extensão -, e sem qualquer sinal distintivo, mais parece a residência de uma família abastada e pacata do que um restaurante. Tem a sala principal à entrada, a seguir ao bar; outra sala mais pequena e calma, só com quatro mesas; e uma salinha reservada para seis pessoas, no máximo. Parece fora da rota dos turistas, mas estes já o descobriram e só não tomaram conta dele porque Sérgio Cambas lhes reserva apenas metade da lotação. O conceito gastronómico resume-se numa palavra: portugalidade, mas a cozinha é cada vez mais sofisticada. Paradoxo? Não. A cozinha portuguesa tem virtualidades insuspeitadas.
No último ano registou-se uma alteração significativa com o fim do serviço à carta e a opção por três menus personalizados: “Clássico”, de três pratos (entrada, prato principal e sobremesa – € 75); “Viagem” de quatro (entrada, dois pratos e sobremesa – € 90); e “Experiência” de seis (2 entradas, 2 pratos, 1 queijo e 1 sobremesa – € 130). Não prática são mais, porque as surpresas do chefe elevam, por exemplo, o “Clássico” de 3 para 8 momentos gastronómicos. A harmonização com vinhos é opcional (€ 30, € 40 e € 50, respetivamente). Cada cliente compõe o seu menu a partir de uma lista que muda semanalmente, tendo 3 entradas, 3 pratos de peixe, 3 de carne e 5 sobremesas, entre doces e queijos. Os pratos estão sempre a ser trabalhados e ganham nova vida, de um dia para outro. Não se repetem.
Por isso, mais vale falar dos produtos: os peixes chegam diariamente dos Açores e de outras lotas nacionais, fresquíssimos, como o salmonete, que tanto pode ser preparado à setubalense como de outro modo; o robalo, que dá uma caldeirada de sonho com ouriços-do-mar, mas pode ter outro destino; a garoupa, que tanto engrandece um arroz de ostras como um sem-número de outras iguarias; as carnes são selecionadas, como a vitela arouquesa, que em dias de ser preparada com o molho dos ossos fica divinal; o cabrito à padeiro, que é um sedutor; o porco bísaro, legítimo, que tem apreciadores para tudo, do cachaço aos pezinhos de leitão; a caça, na época, que vai do fim deste mês ao princípio do próximo ano; a lampreia e o sável, do inverno à primavera.
Doçaria muito apelativa de inspiração tradicional, também fiel ao conceito de portugalidade e também em constante mudança. Excelente garrafeira com 1200 referências. Serviço muito eficiente e simpático.

São três as salas do Paparico: a principal, outra mais calma e uma mais reservada para seis pessoas
Lucília Monteiro
O Paparico > R. Costa Cabral, 2343, Porto > T. 22 540 0548 > ter-sáb 19h30-23h30 > €100 (preço médio)