Nunca tinha posto os pés no The Oitavos. E só depois deste almoço percebi o que ando a perder. É certo que não fica assim bem à mão, já que tem poiso junto à estrada do Guincho, já depois de Cascais – mas também ninguém aqui vem para uma rapidinha. Eu cheguei de BMW, conduzida durante meia hora pelo Nuno, um motorista novato e bastante simpático da Cabify, um dos parceiros da Pineapple Week.
Avisa-se já que pode ser confuso acertar com o Ipsylon. Há várias placas a indicar o restaurante, mas a dúvida adensa-se quando a entrada se faz por um dos portões da Quinta da Marinha e depois se tem de ultrapassar um enorme corredor do hotel The Oitavos. Todos os espaços comuns são em open space e vão aparecendo ao longo da enorme perna do Y, a forma como o arquiteto José Anahory concebeu este edifício. As janelas são brutais e permitem observar a paisagem, que varia entre uns selvagens pinheiros mansos, o verde artificial do campo de golfe e o azul do mar, sempre agitado. Na esplanada, a vista acaba na piscina exterior aquecida.
Não se vê vivalma na sala do almoço, até que uma mesa se enche ao nosso lado, já tínhamos nós aproveitado para molhar o pão de tomate no azeite nacional. A música ambiente quebra o silêncio naquele sítio todo em tons de azul e branco, do chão às toalhas que estão alinhadas nas mesas sem um vinco. Também existem três mesas sobre o comprido, servidas por cadeiras altas, ideais para uma degustação de pestiscos, que se escolhem da lista, de entre uma amostra que varia dos 6 aos 22 euros (croquete de bochecha de porco ou pata negra, por exemplo). Há muitas mais variedades de oferta gastronómica, consoante o espaço e a hora do dia, mas não foi para isso que aqui vim. Por isso, avancemos para o menu especial, que neste caso são dois. O The Oitavos optou por ter duas ofertas especiais, com preços diferentes, uma disponível ao almoço, outra ao jantar.
A minha refeição, tomada à luz de um belo dia de Sol outonal, começa com uma salada de polvo de Cascais com legumes crocantes do momento. Vem tão bem arrumada que nem apetece estragar o retrato. Mas tem de ser e depressa se percebe que até sabe bem provar o tomate vermelho e amarelo, os espargos verdes (crocantes, lá está), as beldroegas, o funcho, a cebola roxa,a beterraba, o rábano e as ervas que dão um toque de jardim a esta entrada. O polvo, esse, está super tenro, casando lindamente com o tempero que o chefe Cyril Devilliers aplica. E tudo isto está afinado com o branco Santos da Casa, que é o que estará a jeito por estes dias. Não adianta, por isso, perder muito tempo a olhar para a cave dos vinhos, muito bem apetrechada, porque esses só para outras núpcias.
Admiro-me que, no meio de tanto esmero, com obras de arte pelo caminho, candeeiros de assinatura que rasgam o pé direito e jarras de flores arranjadas em falso blasé, se deixem as garrafas de água e de vinho em cima da mesa.
Adiante, que a carne já vem a caminho e havemos de aprender alguma coisa com este prato, que é descrito como bife do lombelo, só courgettes e compota de chalotas. Chefe, explique lá o que é isto de lombelo que a minha cultura gastronómica não dá para tanto. Cyril não se admira com a minha ignorância, pois explica, com um delicioso sotaque francófono, que se trata da parte do diafragma do animal, bastante suculenta, mas que é desperdiçada por cá. “É muito francês.” Olha que pena, pensamos depois de provar a carne que se desfaz (embora nas pontas esteja mais rija) e é realmente saborosa. O acompanhamento, muito simples, só serve para quem gosta mesmo de curgete (eu cá até comi a flor). Por cima, e quanto mais não seja para um contraste de cor, leva confit de cebola e tomate, que remata muito bem. Com o lombelo, preferi o vinho tinto Caminhos Cruzados, do Dão, a outra hipótese para beber com os menus.
A sobremesa é tarte de limão com sorvete de arando. Se por acaso ainda não tivesse percebido qual a origem do chefe, perceberia assim que provasse o doce. Antes de lá chegar, prefiro os mini suspiros (serão uma feliz tendência?) e os cubinhos de espuma de manjericão. O gelado está em cima de um crumble e serve para desenjoar da tarde, que, para o meu singelo gosto, é demasiado potente. Fico a pensar a que saberá o mont-blanc de abacaxi que fecha a refeição da noite, depois de uns ravioli de massa tenra e requeijão de Niza, glaciados de mel de alecrim, limão, cebolas-canela e boletus e de um pedaço de raia em meunière de bolota, arroz de cogumelos silvestres e couve coração. Querem ver que vou ter de aqui voltar, depois do Sol se pôr?
Pineapple Week > 29 set-9 out > Colinas de Lisboa > Hotel The Oitavos > €35 ao almoço, €45 ao jantar