O número de mulheres a consumir canábis durante a gravidez tem aumentado nos EUA de acordo com um estudo de 2019. Os dados são preocupantes, tendo em conta que várias investigações têm ligado o consumo da substância a inúmeros perigos para o desenvolvimento fetal – incluindo peso muito baixo em recém-nascidos e um risco acrescido de aborto espontâneo.
Agora, um novo estudo vem estabelecer uma ligação entre o consumo pré-natal de canábis e agressividade, ansiedade e hiperatividade nas crianças.
O estudo, que decorreu em Nova Iorque, nos EUA, analisou 322 mães e os respetivos filhos, com idades entre os três e seis anos. Foram feitos vários testes às crianças, incluindo testes hormonais e eletrocardiogramas, bem como questionários parentais sobre os comportamentos das crianças. Foram também analisadas amostras de tecido da placenta recolhidas no momento do parto.
De acordo com os resultados, as crianças cujas mães tinham consumido a droga durante a gravidez mostraram maiores níveis de ansiedade, agressividade e hiperatividade do que as outras crianças. Registaram ainda um nível mais elevado de cortisol, a chamada ‘hormona do stress’.
A análise do tecido da placenta também revelou resultados surpreendentes: ficou confirmado que o uso pré-natal da substância está associado a uma menor expressão de genes relacionados com a ativação do sistema imunitário. O nível de citocinas, por exemplo – moléculas responsáveis por regular a resposta do organismo a agentes patogénicos – foi mais baixo nos casos em que as mães consumiram durante a gravidez.
“Sabemos que o uso de canabinoides desempenha um papel na regulação do stress, e é por isso que algumas pessoas usam canábis para reduzir a ansiedade e relaxar”, explica Yoko Nomura, professora de psicologia na Universidade da Cidade de Nova Iorque e autora principal do estudo. “Mas o nosso estudo mostra que a exposição in utero à canábis tem o efeito oposto nas crianças, causando-lhes um aumento dos níveis de ansiedade, agressão e hiperatividade em comparação com outras crianças que não foram expostas à cannabis durante a gravidez”, conclui.
Apesar de o estudo ter algumas limitações, como o facto de alguns dados terem sido baseados em questionários, e ser impossível conhecer com exatidão o histórico de uso de canábis das participantes, os cientistas consideram que os dados são reveladores e devem ser tidos em atenção.
“Este novo estudo apoia um conjunto crescente de evidência de que fumar canábis durante a gravidez está associado a resultados adversos para as mulheres e seus filhos”, considera Daghni Rajasingam, obstetra e porta-voz do Colégio Real de Obstetras e Ginecologistas do Reino Unido. “Sabemos por estudos anteriores que o uso de canábis durante a gravidez está ligado a um desenvolvimento cerebral fetal deficiente, risco de nados-mortos, baixo peso à nascença e nascimento prematuro”, continua, acrescentando que será necessária mais pesquisa nesta área para entender melhor os efeitos desta substância no desenvolvimento fetal e infantil.