Os estudos sobre os possíveis impactos do café no coração continuam. E se pesquisas anteriores sugeriam que o seu consumo podia aumentar a probabilidade de se vir a ter problemas cardíacos, uma nova investigação publicada este mês na revista JAMA Internal Medicine concluiu que o consumo de café não está associado a um maior risco de se ter arritmias nem à capacidade de fazer o metabolismo da cafeína.
A pesquisa, realizada por investigadores da Universidade da Califórnia, em São Francisco, EUA, e que envolveu cerca de 380 mil pessoas, analisou o consumo de café dos voluntários durante três anos, assim como as taxas de arritmias cardíacas de cada um. Utilizando um banco de dados, o UK Biobank, os pesquisadores tiveram em conta o estilo de vida dos voluntários – incluindo o consumo de tabaco, álcool e a prática de exercício físico – e doenças de que sofriam, além de analisarem vários dados demográficos.
A partir daí, deram conta de que cada chávena de café estava, pelo contrário, associada a um risco 3% menor de desenvolver certos tipos de arritmia, incluindo fibrilação atrial (o tipo mais comum de arritmia), que pode provocar coágulos sanguíneos e insuficiência cardíaca.
Ao The Washington Post, Gregory Marcus, cardiologista e professor da Universidade da Califórnia e um dos autores do estudo, diz que existe uma ideia muito enraizada de que o café pode provocar arritmias ou ritmos cardíacos anormais em pessoas que já têm mais risco de desenvolver problemas cardíacos e que é necessário desconstruir esse pensamento, mesmo relativamente à comunidade médica.”A questão que tínhamos era se não estaríamos a evitar desnecessariamente esta substância potencialmente benéfica e certamente agradável, quando advertíamos os doentes com arritmia a não consumi-la”, refere o médico.
Em relação ao metabolismo da cafeína, foram analisadas, durante a investigação, as variantes genéticas que influenciam este metabolismo e os pesquisadores deram conta de que, embora quem metabolize a cafeína mais rápido tenha mais tendência a consumir uma maior quantidade de café, não há evidências de que existe uma relação entre essas diferenças genéticas e um risco maior de arritmia. “A parte digna de nota é a ausência de um risco elevado de arritmias, apesar de o termos investigado de várias maneiras, numa população muito grande”, refere Gregory Marcus.
De acordo com o investigador, os resultados do estudo “são suficientemente robustos para demonstrar que a proibição geral de café ou cafeína em doentes com arritmia não é, provavelmente, apropriada”. Contudo, alerta para a necessidade de haver cautela em relação às conclusões da investigação, já que não foi provado que o café previne arritmias. “Não estamos a recomendar que as pessoas bebam mais café para reduzirem o risco de arritmia”, esclarece. A moderação é a chave, acrescenta.
O estudo tem limitações, claro, sendo que há fatores, como por exemplo o sono, que se tornam difíceis de avaliar a partir do momento em que provêm de auto-relatos.
Uma análise de 200 estudos realizada em 2017 tinha já concluído que as pessoas quem bebem entre três e quatro chávenas de café por dia tinham 19% menos probabilidade de morrer de doenças cardiovasculares.