É hoje lançado o Plano Intermunicipal de Adaptação às Alterações Climáticas do Alentejo Litoral (PIAAC-AL), um conjunto de medidas de curto, médio e longo prazo para preparar o território e a população local para um futuro climático cada vez mais imprevisível e extremo.
O documento – um trabalho conjunto dos cinco concelhos que compõem o Alentejo Litoral – tem três objetivos-âncora: reduzir a exposição aos riscos climáticos, melhorar a adaptação aos novos tempos e promover o conhecimento sobre as mudanças do clima, os seus impactos e as nossas vulnerabilidades. O plano é apresentado esta segunda-feira às 11h, no salão nobre da Câmara Municipal Santiago do Cacém.
O PIAAC-AL apresenta-se como um guia prático baseado em estudos científicos, concebido com a participação da sociedade civil, entidades públicas e privadas. O Alentejo é uma das regiões portuguesas mais afetada pelas alterações climáticas, com consequências nefastas para a agricultura, o turismo e a pesca. As secas, as ondas de calor, a diminuição da precipitação, os incêndios e a erosão costeira (sobretudo a faixa arenosa contínua entre Troia e Sines) são os impactos mais graves.
Entre as ações propostas pelo PIAAC-AL estão a melhoria das redes de abastecimento, a monitorização do consumo de água e campanhas de sensibilização para o uso eficiente da água, a promoção de infraestruturas verdes e naturais em meio urbano (uma forma de combater o efeito “ilha de calor”), o reforço dos meios municipais de combate a incêndios e o desenvolvimento de estratégias para preservar a biodiversidade e combater a desertificação.
Água a menos e a mais
À VISÃO, Vítor Proença, presidente da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Litoral (CIMAL), diz que o PIAAC-AL pretende “salvaguardar e melhorar a qualidade de vida das populações de Alcácer do Sal, de Grândola, de Odemira, de Santiago do Cacém e de Sines”. E deixa um recado ao governo: a habitação e a mobilidade “são dois setores em que o governo central tem um papel crucial”. “Temos reivindicado junto do mesmo que assegure transportes públicos de qualidade e eficazes, e habitação em qualidade e quantidade. As autarquias não dispõem de autonomia suficiente nem de verba para resolver estas questões. A aprovação e instalação de projetos de elevada empregabilidade tem de ser acompanhada com habitação e transportes acessíveis e de qualidade para quem vem trabalhar para a região. Caso contrário, estaremos a hipotecar estas oportunidades.”
Sublinhando que a economia do Alentejo Litoral assenta na agricultura, na indústria e no turismo, “três áreas onde os recursos hídricos desempenham um papel fundamental”, Vítor Proença lembra que as reservas de água no subsolo não são inesgotáveis, “tanto mais quando se prevê um aumento dos períodos de seca e, consequentemente, uma redução da precipitação, já atualmente mais escassa, para alimentar essas reservas”. Além de aumentar a poupança dos recursos hídricos,”teremos de arranjar formas alternativas para obter água, nomeadamente através da dessalinização”, defende.
Outra área fundamental de atuação é a preservação do litoral, evitando que seja afetado pela subida do nível do mar. “De acordo com as projeções, a subida deverá variar entre os 17 e os 38cm até 2050 e entre 26 e os 82cm até ao final deste século, uma situação que poderá ser potenciada pelo aumento de tempestades no mar. O Alentejo Litoral tornou-se, nos últimos anos, um dos destinos turísticos mais apreciados do País, e os previsíveis episódios extremos de seca ou inundações serão fatores a ter em conta”, acrescenta o presidente da CIMAL.
Tempos de incerteza
A prioridade, continua Vítor Proença, “passa por reduzir a exposição aos fatores extremos, mitigando os seus efeitos e dotando o nosso território de condições que preservem o nosso vasto património natural, não são só pela sua importância natural, mas também pela importância económica que têm para as nossas comunidades. Isso passa, por exemplo, por reforçar os meios de combate a incêndios.” O dirigente regional realça ainda a necessidade de preservar a produção de arroz, salientando que têm sido realizados ensaios “extremamente encorajadores” de poupança de água neste setor.
O presidente da CIMAL admite que os tempos políticos que vivemos não são favoráveis à ação climática, o que torna o futuro ainda mais incerto, mas que por isso mesmo é hoje ainda mais relevante que municípios, comunidades intermunicipais e regiões identifiquem as vulnerabilidades e ajam atempadamente de acordo com elas. Ainda assim, acredita que ainda podemos evitar o pior. “Resta-nos a esperança de que o negacionismo não prevaleça e se enfrente a realidade, com critérios científicos e objetivos, e que deixemos de vez opções erróneas que só nos encaminharão para o abismo e para o fim da civilização tal como a conhecemos, apenas porque há quem continue a achar que o capitalismo mais desenfreado e o lucro que almeja devem continuar a ser as diretrizes das políticas mundiais.”