Luís Montenegro anunciou uma comunicação ao País depois de uma reunião com as ministras da Justiça e da Administração Interna, no dia em que a PJ deteve os suspeitos do ataque a um autocarro que provocou queimaduras graves a um motorista e em que houve mais uma grande operação policial no Martim Moniz. A operação Portugal Sempre Seguro, que decorre desde 4 de novembro, é uma forma de o Governo manter o tema da segurança no topo da agenda mediática, mas Luís Montenegro, que por várias vezes falou já nas perceções de segurança admite agora que “Portugal é um país seguro, um dos mais seguros do mundo”, aliás, um dos grandes argumentos para captar turistas e investimento imobiliário. Porquê então esta comunicação ao País? “Portugal é um país seguro, mas é preciso não viver à sombra da bananeira”.

Num dia em que ainda decorreram votações na especialidade do Orçamento do Estado para 2025, o primeiro-ministro resolveu ainda anunciar à hora dos telejornais um investimento de mais 20 milhões na aquisição de “600 veículos para a PSP e para a GNR”, que será aprovado esta quinta-feira em Conselho de Ministros.

Luís Montenegro aproveitou para dar os dados da Operação Portugal Sempre Seguro, durante a qual foram feitas mais de 170 operações, que envolveram mais de 4 mil efetivos de várias forças e serviços, fiscalizadas mais de 7 mil pessoas e mais de 10 mil veículos automóveis.

Uma reunião para analisar uma megaoperação

Montenegro justificou a reunião com as ministras da Justiça e da Administração Interna e os diretores da PJ, da PSP e da GNR, como tendo servido para analisar a megaoperação lançada esta manhã pela PJ para investigar e deter os autores dos tumultos que seguiram à morte de Odair Moniz.

“O Governo está empenhado em poder dar à sociedade as respostas que a sociedade almeja para não só sermos um país seguro como também para darmos condições de tranquilidade às forças de segurança”, disse o primeiro-ministro.

Luís Montenegro foi questionado sobre o dramatismo de ter anunciado uma comunicação ao País sobre segurança interna e sobre se isso não põe em causa a imagem de Portugal como um país seguro, tal como demonstram os relatórios sobre o tema. “Não escolhi a hora em função de nada especial e a conferência de imprensa que estamos a realizar visa dar nota das nossas decisões e da forma como elas são implementadas e, por via disso, tranquilizar o país”, respondeu.

“Temos de tudo fazer para melhorar o desempenho da salvaguarda dos direitos das pessoas”, insistiu.

Montenegro não fala sobre dúvidas relativas à atuação policial

Montenegro não teve uma palavra sobre as dúvidas que subsistem relativamente à atuação policial nos bairros periféricos e em particular no caso que levou à morte de Odair Moniz e não se comprometeu com uma ida a essas zonas, depois de questionado pelos jornalistas.

“Estamos no terreno todos os dias. Não estamos indiferentes às circunstâncias que determinadas zonas enfrentam. É consabido que o Governo reuniu com os presidentes das Câmaras afetadas e com as associações de moradores. Não teremos nenhum problema em estar no terreno quando tivermos de estar no terreno”, afirmou.

Elon Musk, o dono de uma fortuna equivalente ao PIB de Portugal, salvo seja, está empenhado em comprar algo que não está à venda: a MSNBC. Trata-se de um canal de televisão que tem um verdadeiro pavor de Trump. Assumidamente democrata, fez de tudo para colocar Kamala Harris na Casa Branca e assiste agora a uma queda brutal nas audiências.

É aqui que Musk entra. Fez o mesmo com o Twitter, agora X, que, segundo dizem, se transformou numa rede abertamente republicana, com total liberdade de expressão – e total significa mesmo total. Essa transformação também está a provocar uma migração maciça para outras redes sociais. Mas isso não é problema para Musk, porque, quando chegar a altura, também compra essas redes. (Pensando bem, será que deveria perguntar-lhe se quer investir em Portugal? Quem sabe? Oportunidades não faltam. Vou enviar-lhe um e-mail para o endereço certo e secreto!)

A MSNBC está disfuncional e sem estratégia editorial. É este o resultado do alinhamento político de um órgão de comunicação, algo muito comum nos EUA. A pesada derrota de Kamala – que ainda não conseguiu articular um discurso coerente, nem mesmo para os seus próprios apoiantes e assessores – desorganizou as diretrizes editoriais de muitos outros poderosos meios de comunicação americanos, especialmente daqueles que gostavam de recomendar abertamente em quem votar. E é no meio desta confusão que surge Elon Musk.

Sempre gostou de estar envolvido numa boa luta, mesmo que física, e está a preparar-se para garantir uma cobertura mediática favorável às decisões que pretende tomar para cortar a despesa do Estado federal americano. Trump, talvez sem intenção, virou os holofotes para o quase trilionário nascido na África do Sul, mas também cidadão americano de mérito.

Os textos nesta secção refletem a opinião pessoal dos autores. Não representam a VISÃO nem espelham o seu posicionamento editorial.

Se ainda existissem dúvidas, a cerimónia solene na Assembleia da República demonstrou que o 25 de Novembro, apesar da sua inegável importância para a História recente de Portugal, não é uma data com o simbolismo e a força suficientes para unir o País. Precisamente o contrário do que sucede, há 50 anos, em relação ao 25 de Abril, “o dia inicial inteiro e limpo” onde, como escreveu Sophia de Mello Breyner, “emergimos da noite e do silêncio”, com o consenso generalizado de que estávamos, coletivamente, a iniciar uma nova era na “substância do tempo”.

A História está permanentemente a ser reescrita, obedece a várias interpretações, mas precisamos sempre, em qualquer circunstância, de tentar ser fiéis aos factos. E esses são perentórios a vincar a diferença entre as duas datas, em especial nas reações populares que suscitaram. Poucos dias depois do 25 de Abril, os portugueses saíram à rua para celebrar o 1º de Maio, numa manifestação espontânea e irrepetível que foi, porventura, uma das mais belas declarações de amor à liberdade a que se assistiu nessa época, em todo o mundo. Nos dias a seguir ao 25 de Novembro, a situação era completamente diferente: o País continuava em estado de sítio, era proibido sair à rua durante a noite e os jornais, impedidos de circular, tudo para tentar impor a ordem, numa nação profundamente dividida e que esteve à beira de uma guerra civil.

Quem viveu esses tempos – mesmo na entrada para a adolescência, como foi o meu caso – não os esquece. E quem tem memória, e quer preservá-la, sabe que as duas datas não são comparáveis, no seu significado e, acima de tudo, naquilo que podem representar para, numa narrativa histórica, ajudarem a criar uma identidade nacional, assente nos princípios democráticos e de respeito pela liberdade.

A verdade é que os tempos em que vivemos não são os da união, mas antes da polarização a todo o custo. Como bem sublinhou o presidente da Assembleia da República, José Pedro Aguiar-Branco, em mais um discurso sensato, o debate político, “seja por necessidade de afirmação ou por desejo de fácil mediatismo” está hoje focado apenas naquilo que “nos separa”. E, em todos os momentos, “preferimos, muitas vezes, discutir, mais do que dialogar” e também “preferimos contestar a aplaudir”. Nesse sentido, e tendo em conta aquilo a que se assistiu, a conclusão só pode ser uma: a sessão solene do 25 de Novembro, neste momento, só serviu para ajudar a cavar mais trincheiras na sociedade portuguesa.

Esta não é uma originalidade nacional. A polarização é hoje crescente na maior parte do mundo e uma arma letal para ganhar eleições. Procurar consensos ficou, subitamente, fora de moda. Encontrar soluções duradouras ou até falar em acordos de regime é abrir caminho para a controvérsia instantânea, com acusações populistas de compadrio que, rapidamente, minam o caminho para qualquer hipotético espaço de diálogo ou de cooperação. A vitória de Donald Trump nas eleições dos EUA fez abrir as comportas da desinformação e do vale-tudo em política, mas também demonstrou que a estratégia da polarização, de forçar o “nós” contra os “outros”, consegue, nestes tempos conturbados, ganhar apoios entre o eleitorado.

É preciso ter isto em consideração no momento em que, em Portugal, começam a aquecer os motores para a corrida às Presidenciais de 2026. No clima atual, as dúvidas são legítimas: em tempos de crescente polarização, o futuro Presidente da República será o candidato que conseguir maior convergência ou aquele que terá a arte de arregimentar mais votos para um dos lados? A vitória será decidida com um discurso ao centro ou focado nos extremos? A promessa habitual de “unir a nação” e de ser “o Presidente de todos os portugueses” será usada, sequer, como argumento conciliador para captar votos?

As respostas são, por enquanto, impossíveis de dar. E os próximos tempos permitirão clarificar muita coisa em relação aos possíveis candidatos, cujos nomes começam a ser atirados para a praça pública. De algo, no entanto, podemos ter a certeza: o recorrente duelo entre esquerda e direita, que animou algumas das mais inesquecíveis eleições, será desta vez jogado a um nível completamente diferente. Será, com segurança, muito mais extremado e polarizado. E os primeiros sinais estão à vista, com a reabertura de feridas antigas, que muitos pensavam já saradas. Apenas com um objetivo conhecido: o de dividir para reinar.

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ALEMANHA

Berlim
Até janeiro, a capital alemã enche-se com mais de 80 mercados de Natal, mas alguns destacam-se: o maior é o da cidade velha de Spandau (até 22 dez); o mais bonito ocupa a Bebelplatz (até 31 dez); na Kurfürstendamm, avenida principal do lado oeste, bancas na Breitscheidplatz (até 5 jan); mix de mercado tradicional, parque de diversões e festa na Alexanderplatz (até 26 dez); compras nos jardins do palácio barroco de Charlottenburg.

Colónia
No centro histórico, por baixo da catedral, realiza-se o Markt der Engel (até 23 dez) com centenas de luzes suspensas; a Aldeia de São Nicolau (Nikolausdorf) com o Portão Hahnen (séc. XIII) ao fundo surpreende e a pista de gelo do Heumarkt é obrigatória (até 5 jan)

Dresden
Com toda a cidade decorada como num conto de Natal, o Striezelmarkt, na Praça Altmarkt, mantém-se autêntico desde 1434, com a maior pirâmide de Natal do mundo (14 metros de altura)
Até 24 dez

Esslingen
Nesta cidade medieval, a 25 minutos de carro do aeroporto de Estugarda, os habitantes costumam fantasiar-se e também há animação no mercado.
Até 22 dez

Frankfurt
A Römerberg, antiga praça principal da cidade, é a morada do popular Weihnachtsmarkt, rodeado pelos edifícios dos séculos XIV e XV, a cidade velha e Paulsplatz.
Até 22 dez

Leipzig
Desde 1458, o centro histórico recebe o mercado com uma árvore de Natal de 20 metros de altura em frente à antiga Câmara Municipal, hidromel, handbrot (pão recheado com presunto e queijo) assado, vinho quente, performances do Oratório de Natal de Bach no cenário original, artesanato medieval, carrossel na rua Salzgässchen, aldeias finlandesas e tirolesas do Sul na Augustusplatz, além da roda-gigante (38 metros). A chegada do Pai Natal no comboio a vapor à Estação Central de Leipzig (30 nov) é um acontecimento.
Até 23 dez

Munique
A árvore de Natal na Marienplatz é a grande atração do Christkindlmarkt, onde podem ser apreciadas iguarias da Baviera como lebkuchen (bolo de mel), castanhas assadas e glühwein (vinho quente).
Até 24 dez

Nuremberga
“Vocês, homens e mulheres, que também já foram crianças, sejam crianças novamente”, diz o Christkind, ao cumprimentar os seus convidados na principal praça do mercado de Nuremberga, que remonta a meados do século XVI. É obrigatório provar pão de gengibre e salsicha nas barraquinhas de madeira forradas de pano às riscas brancas e vermelhas.
29 nov-24 dez

ÁUSTRIA

Innsbruck
A cidade alpina, capital do estado do Tirol, tem nove estâncias de esqui em redor e o seu mercado ocupa primeiro o centro histórico em frente ao Telhado Dourado, cercado por fachadas medievais e montanhas imponentes, permanecendo depois só na principal rua comercial.
Até 23 dez (Cidade Velha), até 6 jan (Maria-Theresien-Strasse)

Salzburgo
Um mercado muito musical, ou não fosse esta a cidade natal de Mozart e do filme Música no Coração, com interpretações do clássico Silent Night. Realiza-se aos pés da Fortaleza de Hohensalzburg desde o século XV. Concertos diários gratuitos às 17h em frente à catedral.
Até 1 jan

Viena
É na Rathausplatz, Praça do Município, que se espalham 150 bancas, enquanto as árvores do Rathauspark, parque em frente à Câmara Municipal, também são decoradas. Muita luz, brilho, frio e vinho quente com castanhas e pretzels assados.
Até 26 dez

BÉLGICA

Bruges
O festival anual Winter Glow torna a cidade flamenga ainda mais bonita com dois mercados (um na Markt, outro em Simon Stevinplein), um bar de inverno, uma pista de patinagem no gelo ao ar livre e um percurso de três quilómetros de luzes, em locais inesperados.
Até 5 jan

Bruxelas
O Winter Wonders divide-se pela Grand-Place, Place de la Monnaie, Bourse, Sainte-Catherine, Marché aux Poissons, Place de Brouckère e Rue de la Madeleine, com pistas de gelo, animação musical, espetáculos de luzes, árvore de Natal e mais de 200 quilómetros de neve.
29 nov-5 jan

CROÁCIA

Rovinj
Na costa oeste da península da Ístria, no mar Adriático, o centro histórico de Rovinj fica numa colina, numa antiga ilha. As ruas da zona velha e a caminho do porto enchem-se de bancas e diversão para todos.
8 dez-4 jan

Zagreb
São mais de 25 os mercados natalícios espalhados pela capital croata, com destaque para o principal na Praça do Rei Tomislav, jardim em frente à estação de comboios. Artesanato, pista de patinagem no gelo ao ar livre e gastronomia tradicional (salsichas picantes, rolinhos de couve recheados, conhaque de ameixa).
30 nov-7 jan

DINAMARCA

Copenhaga
Nos Jardins Tivoli, parque de diversões inaugurado em 1843, o segundo mais antigo do mundo, reina a fantasia, ainda mais sentida nesta época. Roda-gigante, luzes, pista de patinagem no gelo, glögg (vinho quente com infusão de canela), amêndoas caramelizadas e muito mais.
Até 5 jan

ESCÓCIA

Edimburgo
Até à celebração do novo ano (Hogmanay), muito há para descobrir: gruta do Pai Natal, Labirinto da Árvore de Natal, pista de gelo, brinquedos de madeira e iluminações a rigor.
Até 4 jan (exceto 25 dez)

ESLOVÁQUIA

Bratislava
Leve a lista de presentes até ao principal mercado na praça central (Františkánske námestie) ou ao mais pequeno, junto ao castelo. E se lhe oferecerem uma bolacha de gengibre, saboreie.
Até 23 dez

ESPANHA

Barcelona
A capital catalã torna-se ainda mais movimentada, com os mercados de Santa Lúcia, na Catedral de Barcelona no bairro gótico desde 1786 (28 nov-23 dez); da Sagrada Família, junto ao monumento homónimo (28 nov-23 dez); no porto de Barcelona (29 nov-6 jan); de Reis, a feira que enche a Gran Vía (17 dez-6 jan). Não deixe de reparar na estranha tradição local, o caganer.

Madrid
Feira centenária na Plaza Mayor, com presépios, decorações de Natal, brinquedos, enquanto um carrossel gira na Plaza de Santa Cruz.
28 nov-31 dez

Marbelha
Lugar de férias de inverno com sol, desde o centro histórico até Puerto Banús também se celebra o Natal na Plaza de los Naranjos, com luzes pelas ruas de La Virginia, iguarias andaluzes no Parque Alameda e compras no Puerto Deportivo junto à marina.
1 dez-6 jan

Sevilha
Feria del Belén (até 23 dez), entre a catedral e o Arquivo das Índias, reúne um dos mais importantes mercados de presépios do país; o artesanato criativo mostra-se nos Jardines del Cristina (5 dez-5 jan) e na Plaza de la Magdalena (1 dez-6 jan); exposição de doces conventuais no Palácio Gótico do Alcázar (3-6 dez).

ESTÓNIA

Tallinn
Muito bem cotado entre os mercados europeus natalícios. A oferta nesta cidade medieval é enriquecida por bandas de música, tocadores de sinos e trupes de dança. A maior árvore de Natal da Estónia fica em frente à Câmara Municipal todos os anos desde 1441.
Até 27 dez

FRANÇA

Colmar
Pitoresca localidade na região da Alsácia, de raízes germânicas, o seu centro histórico é iluminado e decorado com a ajuda dos moradores e cinco mercados espalham-se em diferentes pontos da cidade, entre eles, em Petite Venise para as crianças, na Praça dos Dominicanos e na Praça de Joana d’Arc, com muitas gulodices da época.
Até 29 dez

Estrasburgo
Com o Parlamento Europeu por perto, a “Capital do Natal” francesa parece um presépio verdadeiro. Com as bancas ao longo das praças centrais da cidade, destaque para o Mercado dos Pequenos Produtores Irredutíveis da Alsácia para salsichas e kugelhopf (bolo com passas e amêndoas).
Até 27 dez

Lille
Na maior cidade do Norte de França os mercados ocupam as duas praças principais, com uma roda-gigante na Grand Place e queijo derretido, vinho quente e waffles na Place Rihour.
Até 29 dez

Metz
Com pista de gelo a céu aberto, carrossel e roda-gigante, o Sentier des Lanternes na praça Boufflers, o trilho iluminado com mais de 2 500 lâmpadas, é a grande atração desta floresta encantada.
Até 30 dez

Paris
Ambiente elegante e oferta de vin chaud e castanhas assadas nos mercados: Jardim das Tulherias (até 5 jan); Notre-Dame, na Praça Viviani (29 nov-25 dez); Abadessas em Montmartre, perto do Sacré-Coeur (até 29 dez); luxo na boulevard de Saint-Germain-des-Prés (até 1 jan); Esplanada La Défense, o maior mercado da região (29 dez); Eiffel Tower Christmas Village com produtos gourmet (7 dez-5 jan).

HUNGRIA

Budapeste
A Praça Vorosmarty e a Basílica de Santo Estêvão recebem os tradicionais mercados com vendas natalícias, mas na basílica há projeções de laser na fachada e uma pista de gelo à volta da árvore de Natal.
Até 1 jan

INGLATERRA

Chester
Cerca de 70 comerciantes na praça junto à Câmara Municipal, na nova galeria e no fórum em redor do pinheiro natalício.
Até 22 dez

Leeds
O mercado desdobra-se pela Millennium Square e pela City Square, este ano, com foco no artesanato em Bond Court, no centro da cidade, onde fabricantes independentes abrem as suas lojas.
Até 22 dez

Londres
O popular mercado de inverno no Southbank Centre (até 26 dez), transforma o complexo de ateliers num “País das Maravilhas”; Winter Wonderland em Hyde Park (até 5 jan) com roda-gigante panorâmica, marshmallows assados na fogueira, cerveja artesanal e atividades no gelo; bebidas quentes e patinagem no gelo junto a Somerset House e ao Museu de História Natural (até 5 jan)

Manchester
King Street West, St Ann’s Square, Exchange Street, New Cathedral Street, Exchange Square, Corn Exchange, Cathedral Gardens, Market Street e Piccadilly Gardens com barraquinhas de vendedores independentes e com comida de rua, como gin quente com manteiga, pizza artesanal, cervejas locais e chocolate quente com Baileys.
Até 21 dez

Winchester
Este é por muitos considerado um dos melhores mercados da Europa, com a envolvência da catedral, monumento milenar, a enriquecer a experiência.
Até 22 dez

ITÁLIA

Merano
Nos Alpes do Norte de Itália, esta cidade termal recebe o mercado na histórica Piazza della Renna e na moderna Piazza delle Terme, com as montanhas cobertas de neve como pano de fundo.
29 nov-6 jan

Trento
A Piazza Fiera e a Piazza Mostra são as moradas do mercado natalício com 74 casinhas de madeira, montras de tradição, artesanato e gastronomia locais como apple strudel, polenta assada e pastel de batata.
Até 6 jan

MÓNACO

Neste principado, conhecido pelos hotéis de luxo, a pista de Fórmula 1 e o seu casino, o luxo também impera no mercado junto ao Port Hercule, com um carrossel, coros, árvores de Natal e globos de neve gigantes na praça do casino.
6 dez-8 jan

PAÍSES BAIXOS

Amesterdão
Até janeiro, são mais de 100 mil luzes refletidas nos diversos canais. A árvore de Natal está no centro da pista de gelo e o mercado gira em torno da Museumplein, praça perto do Rijksmuseum.
Até 5 jan

POLÓNIA

Cracóvia
Na antiga capital polaca vai poder andar de patins na praça Rynek Główny com neve, beber vinho quente e comer pão de gengibre. É das principais praças medievais da Europa e entre as barraquinhas está a Basílica de Santa Maria, com torres gémeas. Outro atrativo é ficar junto ao Cloth Hall (Sukiennice) monumento renascentista, Património Mundial da UNESCO.
29 nov-26 dez

Gdansk
Na cidade portuária, reconstruída após a II Guerra Mundial, há desfiles de elfos, um alce falante, a Rainha da Neve e os seus cantores, e carrossel de contos de fadas. Bebidas quentes e culinária tradicional polaca, como pierogi (minipastel recheado), também fazem parte do programa.
Até 23 dez

REPÚBLICA CHECA

Boémia
Há duas cidades no Sul da Boémia com mercados emblemáticos: Ceske Budejovice, numa mistura de arquitetura gótica e clássica, tem bancas a vender brinquedos de madeira, decorações de Natal e taças de vinho quente picante; e Cesky Krumlov, uma espécie de Disneyland, barroca com um castelo romântico.
Até 6 jan (Ceske Budejovice), 29 nov-6 jan (Cesky Krumlov)

Praga
Carismática, Praga é um bilhete-postal da Europa nesta época festiva. Estando no mercado na praça da Cidade Velha, de um lado, temos as torres gémeas da Igreja de Nossa Senhora Antes de Týn, do século XIV; do outro, o famoso relógio astronómico do século XV no edifício da Câmara Municipal. Na mão, um copo de svarak, a versão cítrica local do vinho quente.
30 nov-6 jan

SUÉCIA

Gotemburgo
Liseberg, um dos maiores e mais populares parques de diversões da Suécia, transforma-se num elegante mercado de Natal ao ar livre, com um espetáculo no gelo de meia hora.
Até 5 jan

SUÍÇA

Basileia
No maior e mais bonito mercado da Suíça há duas secções diferentes: na praça Barfüsserplatz vendem-se brinquedos artesanais de madeira, joias e presépios, enquanto a Münsterplatz se transforma numa floresta de contos de fadas com atividades para os mais novos.
28 nov-23 dez

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Palavras-chave:

Sonhar acordado com novos carimbos no passaporte é um exercício estimulante. É tão bom o entusiasmo com a descoberta, o nervoso miudinho de zarpar e pôr os pés noutra terra firme. Melhor, só quando se realiza o desejo.

É verdade que todos os conflitos armados, as inundações e as ondas de calor mais extremas e mais frequentes, bem como o desequilíbrio económico mundial, não dão tréguas, obrigando a olhar para o mapa-múndi com uma lupa e a escolher continentes outrora fora do radar das viagens.

Mas isso não é um problema. “Quando as condições de consumo são mais favoráveis, as viagens aumentam. Depois das necessidades básicas, a viagem é o maior bem de consumo”, assegura Pedro Costa Ferreira, presidente da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo (APAVT). As viagens de curta distância, planeadas num curto prazo, continuarão a ser uma opção para lidar com essa imprevisibilidade.

“Portugal é um mercado adulto e eclético, um mercado desenvolvido em que tudo se vende. As viagens fazem parte do dia a dia. Os portugueses estão a viajar para todo o lado e a todos os preços”, acrescenta.

A procura dos portugueses por pacotes de férias para o estrangeiro disparou 20% para o próximo verão e, a caminho do réveillon, também há corrida antecipada às miniférias de fim de ano. “Há uma evolução recente a crescer para o Oriente, Dubai incluído, e no final do ano”, diz Pedro Costa Ferreira.

Ao longo do ano, e consoante a época, os turistas nacionais procuram zonas diferentes: viagens de longo curso rumo às Caraíbas; Cabo Verde, Marrocos, Tunísia e capitais europeias, nas de médio curso; Madeira, Açores e ilhas espanholas das Canárias e das Baleares, nos destinos mais próximos.

Juntos, Portugal e Espanha representam o maior destino turístico do mundo, opinião de Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal, dada no recente congresso da APAVT. “O maior destino do mundo é a Península Ibérica. Se numa Europa somos concorrentes, quando nos referimos a mercados de longa distância, como o norte-americano ou o chinês, temos de ser aliados.”

É preciso lembrar que após a pandemia, as viagens não recuperaram mais cedo porque o Oriente abriu mais tarde. Para Pedro Costa Ferreira, a emergência do mercado chinês está relacionada com as ligações aéreas incipientes, tal como a do indiano.

Desde 2020 que o trabalho remoto permite estar em dois sítios ao mesmo tempo e a maior mudança ocorre entre os millennials (28-43 anos), em que 50% pretendem trabalhar durante as suas estadas, segundo o Changing Traveller Report 2025 da SiteMinder, plataforma utilizada por 44 500 hoteleiros em todo o mundo para gerar resultados de receitas.

As viagens em modo bleisure (junção de business e leisure), em que uma ou duas semanas para fazer negócios podem transformar-se num mês fora de casa, vieram para ficar. Permitem fazer viagens lentas e demoradas, potenciando os voos para lá de um ou dois oceanos. No entanto, as viagens de lazer continuam a ser o segmento mais importante em termos de volume e gastos, representando 69% das chegadas internacionais e 80% do gasto total global com viagens, de acordo com o World Travel Market Report da Tourism Economics.

A SiteMinder revela um novo perfil de viajante, o turista “multifacetado” que usa a combinação estratégica de destinos populares e tradicionais, confia mais nas comunidades online do que nas sugestões pessoais e equilibra espontaneidade com pragmatismo. Deseja passar mais tempo no local, é consciente dos custos, mas está disposto a investir em extras e em produtos ecológicos. Num dia fará uma prova de vinhos, no outro uma aula de ioga. Parece-nos um bom programa.

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Jornalista, autor do livro/guia Conhecer Portugal a Pé e líder de viagens na agência Landescape

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Poucos destinos rimam tão bem com a palavra inverno como a Suíça. Em dezembro, além das célebres estâncias de esqui, o país mais “arrumadinho” da Europa oferece vistas dignas de postal, com animados mercados natalícios, lojas típicas enfeitadas a preceito para a quadra que se aproxima, edifícios e vielas medievais envoltos na fria luz invernal e, claro está, aquele que é talvez um dos melhores chocolates quentes do mundo.

Um périplo de alguns dias pelas cidades de Genebra, Berna e Basileia é uma boa maneira de captar um retrato completo da história, tradições populares, beleza natural, gastronomia, arquitetura e arte contemporânea que o país tem para oferecer.

Capital da paz, sede europeia das Nações Unidas, um dos mais importantes centros financeiros mundiais e dona do lago com o jato de água mais alto do mundo, Genebra é talvez a cidade mais sofisticada da Suíça, com o seu relógio florido, que se tornou um símbolo incontornável, e elegantes restaurantes, lojas de alta-costura e relojoaria.

Mercados de Natal Centenas de barraquinhas vendem artesanato e especialidades gastronómicas, como chocolate, vinho quente e fondue. Foto: Switzerland Tourism/ Jan Geerk

Conhecê-la a fundo, porém, implica perder-se nas ruas estreitas do centro histórico, aproveitando uma das visitas guiadas disponibilizadas pelo gabinete de turismo municipal, que leva os visitantes a percorrer os passos dos soldados que, na noite de 11 para 12 de dezembro de 1602, defenderam com sucesso a cidade da invasão das tropas católicas do duque de Saboia.

A data ficou para a História e transformou-se na Fête de L’Escalade [pois o exército invasor escalou a muralha da cidade], feriado municipal para sempre associado a Mère Royaume, uma espécie de “padeira de Aljubarrota” local que, reza a lenda, terá sido fundamental na defesa, pois deitou sobre os inimigos o pote de sopa a ferver que estava a preparar.

Ainda que a Fête de L’Escalade se celebre a 12 de dezembro, é possível, desde o início do mês, comprar, em qualquer loja de chocolates, a típica Marmite de L’Escalade, reprodução em chocolate do pote de Mère Royaume, recheado de legumes de maçapão, que, na noite de dia 11, é partido com um murro seco pelo membro mais novo e mais velho de cada família.

Para quem gosta de pôr a mão na massa, após a visita à zona histórica, nada como aprender a construir a sua própria Marmite, passando algumas horas na escola de chocolataria da La Bonbonnière, café, pastelaria e loja de chocolates localizada na Rue Pierre Fatio.

O dia prossegue com uma paragem no Kiosque Des Bastions, cujos telhados de vidro e ferro permitem ver a neve a cair enquanto se almoça, e com um passeio de barco pelo lago da cidade. No inverno, a noite chega cedo e com ela o frio, contra o qual os melhores aliados são inquestionavelmente um copo de vinho quente e uma terrina fumegante de fondue, servidos no mercado de Natal Noël au Quai.

Ursos dançantes e um galo que canta

Na manhã seguinte, é tempo de rumar à capital, apenas a duas horas de distância de comboio. Berna ergue-se majestosa, com as suas catedrais góticas, em torno de uma curva do rio Aare. A névoa invernal paira sobre as águas revoltas do rio e dá-lhe um ar de mistério, evocando um tipo de beleza que faz jus ao título de Património Cultural da Humanidade, atribuído pela UNESCO à cidade.

Museu Einstein dentro do Museu Histórico de Berna Foto: D.R.

Aqui viveu Einstein, entre 1903 e 1905, numa casa hoje transformada em museu, ponto de paragem obrigatório, a par do Zentrum Paul Klee, centro cultural dedicado à vida e obra do artista plástico e desenhado por Renzo Piano, das numerosas igrejas, torres, fontes e pontes, e da Gerechtigkeitsgasse [Rua da Justiça], uma das mais longas avenidas comerciais cobertas da Europa, com cerca de seis quilómetros de arcadas.

Imperdível é ainda uma visita ao interior da Zytglogge, a torre do relógio medieval. Além da vista panorâmica única sobre os telhados da cidade, é possível observar o intrincado mecanismo de roldanas, cordas e rodas dentadas que, ainda hoje, dá vida ao mostrador do relógio que se encontra no exterior.

De hora a hora, este anima-se com um espetáculo medieval de marionetas que conta com um comboio de ursos dançantes, um bobo e um galo que canta.

Tantos museus

Se Genebra oferece sofisticação e Berna tradição, Basileia é a casa da contemporaneidade. Antes de rumar à capital cultural suíça, vale a pena parar a meio caminho, na região de Emmental, e reservar uma manhã para fazer uma visita ao museu e à fábrica do queijo homónimo, seguida de um almoço de raclette ou fondue, com vista para os vales nevados.

Berço de uma das feiras de arte contemporânea mais importantes do mundo e casa da primeira coleção de arte aberta ao público na Europa, em 1661, Basileia acolhe quem chega, simultaneamente com o charme de uma aldeia de montanha e o ritmo vibrante de uma metrópole.

Os dias frios do último mês do ano convidam a descobrir alguns dos 40 museus que a cidade possui, da Kunsthalle (exposições) ao Museu Tinguely (dedicado ao artista Jean Tinguely), passando pelo Kunstmuseum (arte clássica e contemporânea).

Ainda que deslocada relativamente aos restantes, a Fundação Beyeler é a joia da coroa dos museus de Basileia e merece a viagem num dos típicos drämmli [elétricos] necessária para lá chegar.

Desenhada por Renzo Piano, resulta de 50 anos de trabalho como colecionador do galerista Ernst Beyeler, e conta, na sua coleção permanente, com nomes que vão de Monet a Cézanne, Picasso, Giacometti, Mondrian, Frank Stella, Mark Rothko ou Anselm Kiefer.

Quem visita a cidade em dezembro será ainda surpreendido pelo enorme mercado de Natal que se estende ao longo de dezenas de ruas, culminando na praça da catedral, em alemão Münster, dominada por um pinheiro com dezenas de metros de altura, decorado com bolas coloridas, estrelas e luzes.

Um perfume a especiarias, vinho, queijo e chocolate paira no ar gelado da noite, aquecendo-nos a alma. E sem precisar de uma única palavra das suas três línguas oficiais, o país deseja-nos um feliz Natal.  

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Oinverno ainda não chegou em força à Islândia, mas o melhor conselho para quem visita o país é sempre o mesmo, agasalhe-se. Gorro, cachecol, luvas, roupa térmica, um bom casaco e vestir-se em camadas é meio caminho andado para poder explorar-se esta ilha localizada no meio do Atlântico Norte, muito próxima do Círculo Polar Ártico. Situada na falha entre as placas tectónicas euro-asiática e norte-americana, a sua geografia e a sua geologia são o que lhe dá carácter, rudeza e encantamento.

Estamos no país dos geisers, das fontes de água quente, das cataratas, das auroras boreais e dos vulcões. Perto de Grindavík, a cerca de 30 quilómetros da capital, Reiquiavique, um vulcão entrou em erupção há poucos dias, na cratera Sundhnúksgígar. Vimo-lo muito, muito, ao longe, quando regressávamos da caça às auroras boreais. Numa noite de Lua quase cheia, esperámos cerca de duas horas por elas, sem nunca terem aparecido. “Acontece, é a Natureza que manda. A nós, cabe-nos procurar o melhor sítio para as vermos e acautelar as condições meteorológicas”, diz-nos Juliana, a guia portuguesa que nos acompanhou na excursão da Reykjavik Excursions by Islândia. Na noite fria e ventosa (estavam cerca de oito graus negativos), sentiu-se o desapontamento no grupo, mas outras descobertas haviam de compensar esta pouca sorte. “Não devemos sair frustrados, parte do encanto das auroras boreais é este, procurá-las. Se possível, recomendamos o reagendamento do passeio, é gratuito”, justifica, entusiasmada.

Abençoadas águas

Os fenómenos naturais são a razão por que cada vez mais turistas elegem a Islândia como destino, seja na primavera/verão, quando as temperaturas estão mais amenas, ou no inverno, quando as temperaturas descem abaixo de zero e os dias têm cerca de quatro horas de luz solar (dezembro e janeiro).

A Islândia pode explorar-se de carro, um desafio devido às condições meteorológicas, tenha sempre isso em conta. Partimos cedo para fazer o Circuito Dourado e visitar três dos locais mais turísticos, a área geotermal de Geysir, no vale Haukadalur; a espetacular queda de água de Gullfoss, e o Parque Nacional de Thingvellir, património UNESCO desde 2004 e repleto de História. No desfiladeiro Almannagjá foi estabelecido o primeiro parlamento do país, designado Althing, e o mais antigo do mundo, agora a funcionar dentro de portas na capital. Esta beleza natural marca também a margem da placa tectónica da América do Norte.

O Circuito Dourado estende-se por cerca de 300 quilómetros. Durante a viagem espantamo-nos com a paisagem gelada e os campos de lava a ladear a estrada, mas será o geiser, a expelir a sua água, em média 25 a 30 metros de altura, e a queda de água de Gullfoss, com uma altura de 32 m e uma largura de 70 m, a receber mais “uaus”, são impressionantes. A cultura islandesa gira à volta da água e um dos rituais é ir aos banhos geotermais. Experimentámos a Sky Lagoon, a cerca de dez minutos do centro da cidade, e viemos de lá revitalizados. Ter o corpo mergulhado em água a 38 a 40 graus numa lagoa ao ar livre, com a montanha vulcânica Keilir em frente, é inesquecível.

Pitoresca Reiquiavique

O hotel Midgardur by Center Hotels, em Laugavegur, é um bom ponto de partida para descobrir a cidade, sempre a pé. Reiquiavique é a capital mais a norte do mundo e uma das mais pequenas da Europa, sem que isso seja um defeito, antes uma qualidade.

Passear pela rua mais comercial, a Laugavegur, faz parte do roteiro turístico, assim como visitar o Harpa Concert Hall & Conference Center, sede da orquestra sinfónica e da ópera islandesa, e admirar a escultura em aço The Sun Voyager, de Jón Gunnar Árnason, uma ode ao Sol que simboliza o passado viking dos islandeses, ambos localizados junto à baía de Faxaflói. É daqui que partem os barcos da Elding para os passeios de observação de cetáceos. Orcas, baleias-de-minke, toninha-comum, golfinho-de-bico-branco e baleia-corcunda são algumas das espécies que se avistam num cenário de tirar o fôlego. Do mar, avista-se o monte Esjan, 914 metros acima do nível da água, um ex-líbris da capital, e a ilha de Vioey, onde está a instalação Imagine Peace, um feixe de luz visível de todos os cantos da cidade e arredores, que é uma obra de Yoko Ono em homenagem a John Lennon.

Voltamos a terra para percorrer a rua Skolavordustigur, que leva à igreja luterana Hallgrims Church, a maior da Islândia, com uma torre de 75 metros e um belíssimo órgão de tubos. Repomos energia a poucos metros com um jantar no KOL, onde nos servem cordeiro, um dos produtos-chave da gastronomia, a par do peixe.

O dístico da Icelandic Lamb, associação de promoção do cordeiro islandês, fixado no exterior, atesta a qualidade da carne servida. Não hesitámos e à mesa chegou um naco de cordeiro assado, acompanhado de batata hasselback, uva confitada, tomilho ártico e molho de Madeira e mirtilo.

Devido à insularidade, a gastronomia tradicional islandesa é baseada em fumados, salgados, curados e fermentados, com alguns sabores muito marcados, a que não se deve resistir, antes experimentar, como o tubarão fermentado e o peixe seco.

Na mesma zona da cidade, umas ruas abaixo, o OTO, liderado pelo premiado chefe islandês Sigurður Laufdal, é um dos representantes da cozinha islandesa moderna e um dos oito restaurantes recomendados no Guia Michelin. A carta, uma fusão de gastronomia italiana e japonesa, tem pratos tão criativos e bonitos quanto surpreendentes de sabor. Escondido na rua Klapparstígur, o Monkey’s tem aura de speakeasy bar e serve cozinha nikkei, uma fusão de sabores peruanos e japoneses, e ainda esconde o The Champanhe Train, um bar inspirado nas viagens de comboio dos anos 20.

O périplo gastronómico pode ter muitas mais paragens, Reiquiavique tem vindo devagarinho a afirmar-se gastronomicamente e essa também foi uma boa surpresa no país do gelo e do fogo.

Não Perder Na estufa de tomate de Frioheimer, um dos maiores produtores do país, o fruto é iguaria à prova num pequeno café, onde há sopa, bloody mary e até cerveja de tomate.

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É manhã cedo de um dia de semana. No Mercado do Plateau, no centro da Praia, conversa-se muito, mas nem por isso a confusão abunda. Renovado há oito anos, é o mercado mais importante da cidade. Vende-se de tudo: carne, peixe, legumes, fruta, ovos, farinhas e feijão, num festival de cores e de cheiros a que muito dificilmente se consegue resistir, quer se trate de comprar, quer se trate de admirar (e fotografar). No rés do chão, na banca dos enchidos, um bebé dorme o sono dos justos, num colchão montado no chão de improviso e coberto com um lençol.

Em frente dos enchidos, do lado de lá das escadas que dão acesso ao primeiro andar, várias mulheres assentam arraiais numas mesas de madeira altas. Vêm vender comida feita, pronta a servir, e chegam, inclusivamente, do Senegal e da Guiné, segundo nos explicam. Daqui a pouco, chegará também quem aqui venha, asseguram-nos, à procura do almoço, por dois ou três euros.

Não acontece apenas no Mercado do Plateau. Cabo Verde é, em si mesmo, um entra-e-sai de gente. Hoje, porta sim, porta não, há uma loja chinesa nas ruas da Praia. Botecos com cachupa e Strela fresca também – há coisas que não mudam e, felizmente, a globalização não impediu a tradição de continuar a ser o que era. Da estátua imponente de Diogo Gomes à Igreja Nossa Senhora da Graça, onde aos domingos à noite há missa concorrida, o Plateau continua a ser a zona mais nobre da cidade e, nomeadamente, o centro do poder, das instituições, com o palácio presidencial e vários ministérios. Até à independência de Cabo Verde, só esta área – que forma um planalto no meio da Praia – era considerada como fazendo parte da malha urbana. A partir de julho de 1975, novos planos municipais vieram juntar zonas, bairros e, claro, a cidade cresceu.     

Pelo património da Cidade Velha

É sempre de evitar fazer generalizações com base em nacionalidades, sobretudo nos tempos que correm. Mas a verdade é que é difícil não pensar em como são os cabo-verdianos dados às artes. Basta olhar para as paredes da Praia, de resto. Em todos os bairros, dos mais pobres aos mais abonados, há murais pintados de várias cores e feitios, com destaque para os retratos de figuras que reconhecemos com facilidade, como Cesária Évora e Amílcar Cabral. Engraçado é nós próprios não passarmos nada despercebidos e até sermos motivo de fotografia uma vez que seguimos de calhambeque elétrico pelo Plateau, pela Rua d’Arte, pela Feira de Sucupira e pela Avenida Cidade de Lisboa. Leu bem, caro leitor: calhambeques elétricos, trazidos para a ilha de Santiago por uma empresa de automóveis local (a Multimarcas) que está a tentar dinamizar este tipo de passeios turísticos em Cabo Verde.

Passado e presente Museu do Campo de Concentração do Tarrafal (em baixo) e Mercado do Plateau, na cidade da Praia (em baixo, à direita)

A tarde é depois passada a 15 quilómetros da Praia, na Cidade Velha, capital a partir de 1858, Património Mundial da Humanidade desde 2009. A 120 metros de altura, vale a pena conhecer o Forte Real de São Filipe, erguido em 1590 para defender a ilha dos ataques dos piratas e dos corsários. Não tivemos tempo para isso, mas asseguram-nos que, pelo vale adiante, “o Grand Canyon”, é possível fazer uma caminhada de uma hora até à cascata. Na Cidade Velha, estão bem conservados o pelourinho e o Convento de São Francisco, erguido em meados do século XVII. Prosseguindo pela Rua Banana, encontra-se ainda a Igreja Nossa Senhora do Rosário. Construída em 1495, segundo o cânone manuelino, foi a primeira igreja da África subsariana, diz-nos Hélder Andrade, nosso guia e funcionário do Instituto do Património Cultural.     “Morabeza” é uma palavra crioula, embora se tenha tornado familiar entre os portugueses, sobretudo por causa de um conhecido hotel, localizado no Sal, de longe a ilha mais turística do arquipélago de Cabo Verde (no total, são dez ilhas e apenas Santa Luzia não é habitada). Mas, em Santiago (500 mil habitantes, por sinal, metade da população do país), a palavra morabeza também vai bem com o ambiente de calma e gentileza que por aqui se vive.

O serão faz-se, por fim, no Quintal da Música, uma instituição cultural da Praia, há 25 anos, propriedade de outra “instituição” da cidade e do país, Ália Lopes dos Santos. Diz a chefe Ália que junta “o saber aos sabores de Cabo Verde”, o que, na carta do restaurante, pelo que provámos, significa polvo salteado, atum grelhado e arroz de peixe. No palco, todos os dias há música ao vivo: mornas, coladeiras, batuco ou funaná. No final da noite, prova-se um grogue de fazer vergar o mais resistente dos provadores. 

Para que a memória não se apague

Diz quem sabe que, para visitar Santiago, o ideal será dispor de quatro dias. A ilha é a maior de todo o arquipélago e, de uma ponta à outra, estende-se por cerca de 55 quilómetros. Só durante os meses de novembro e dezembro, com o regresso dos emigrantes, é mais difícil alugar um carro. No resto do ano, anda-se bem.

Na manhã seguinte, fazemo-nos à estrada com destino ao Tarrafal, com paragens em São Jorge dos Órgãos e em Assomada (mais um mercado para visitar e admirar, desta vez, com têxteis). Atravessamos o Parque Natural da Serra da Malagueta, avistamos o Pico da Antónia, o ponto mais alto da ilha, com 1 394 metros de altitude. Temos muita sorte: há coisa de um mês, neste caminho, estava tudo seco; como, nas últimas semanas choveu – e tanto, que ainda há estradas intransitáveis –, a paisagem está deslumbrante e temos verde até perder de vista.

Uma vez chegados ao outro lado da ilha, alcançamos Chão Bom, que – como que por ironia – é o nome do local onde fica o Tarrafal. As comemorações dos 50 anos do 25 de Abril também passaram por aqui e, por isso, o museu foi renovado para a ocasião. Para que a memória não se apague, vale igualmente a pena percorrer a área do antigo campo de concentração que, de 1975 até 1986, já depois da independência, também funcionou como quartel.

Há mais ironias para dar conta neste relato de viagem. A melhor praia que visitámos na ilha de Santiago foi, justamente, o pequeno areal do Tarrafal: uma baía pequena, águas translúcidas, barcos e pescadores a compor o bilhete-postal. Por tudo isto, do lado esquerdo de quem está virado para o mar, recomenda-se – e muito! – o restaurante Riba Mar. O esmoregal grelhado, um peixe que é habitual encontrar-se nos mares temperados, soube-nos pela vida. Que, nunca é demais dizê-lo, deve ser levada com calma e gentileza.

NÃO PERDER Inaugurou este ano e é o primeiro cinco estrelas da ilha de Santiago: Barceló Praia Cape Verde, com quartos com varanda para o mar

A VISÃO viajou a convite da cadeia hoteleira Barceló

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