Devíamos estar mais atentos ao que se passa na política alemã. Não apenas pelas opções económicas que muito influenciam os países mais ligados à sua recuperação ou à ausência desta, mas porque o panorama partidário está a transformar-se de forma acelerada e, também isso, tem impacto no futuro próximo da política europeia. Em setembro deste ano, três estados federados do Leste alemão terão eleições (Saxónia, Turíngia e Brandemburgo) e no outono de 2025 haverá legislativas. Vale a pena olharmos com mais atenção para algumas mudanças políticas em curso.
A principal é a subida consistente da extrema-direita da AfD, um partido da mesma família política do Chega, que além das habituais ideias xenófobas, racistas, antieuropeias e pró-russas, difundindo toda a propaganda do Kremlin, viu-se recentemente envolvida num duplo escândalo: infiltração de neonazis numa convenção em Potsdam, onde estavam também presentes membros da CDU, preparando um plano de deportação massiva de imigrantes já naturalizados alemães; e provas de espionagem para a China por elementos próximos do cabeça de lista às europeias. Apesar disto, as sondagens continuam a dar à AfD a segunda posição, a poucos dias das eleições para o Parlamento Europeu, e mesmo o primeiro lugar nas três eleições regionais de setembro, ou seja, a adesão ao partido é relativamente sólida face a investigações sobre as suas patifarias, descrédito e natureza ideológica. O culto, quando se enraíza, dificilmente sucumbe à verdade. Temos também visto isto com Trump, Bolsonaro, Orbán e Putin.